Crônicas
Jolivaldo Freitas
04/10/2016 às  12:39

Depois me queixo quando falam da Bahia

Jolivaldo Freitas é jornalista e cronista


  Falar a verdade fico passado quando falam mal da Bahia. Eu posso até falar mal, mas quem não vivencia a Bahia não tem direito de falar mal. Só se for uma crítica flagrante ou algo construtivo. Mas, a pessoa está longe, nunca pisou neste nosso planeta único, centro do universo, e critica por ouvir falar, por vias atravessadas e ainda acha que está cheia de razão. 

   Não é como uma piada, pois de chiste ninguém escapa; nem mesmo os nordestinos, nem os cariocas e os gaúchos. Piada boa não tem maldade. Pega uma característica e faz rir. Isso acontece nos Estados Unidos com os texanos, os californianos e os novaiorquinos; bem como com os espanhóis que se escaldam mutuamente e pelo mundo todo.

   No entanto, passo por cada uma na Bahia, tanto no interior como na Cidade da Bahia, nossa velha Salvador, que fico pasmo e penso que nós mesmos conjuramos contra nós nosotros e quedo-me a refletir se não estou dando murros em ponta de pinaúna, em casca de ostra ou no rabo da arraia.

   Vou dizer, sendo precioso acreditar, que estive num restaurante, pedi uma cerveja e quando o garçom trouxe o copo descartável eu perguntei se não tinha uma taça de vidro. Ele foi lá dentro, voltou e perguntou quantas eu queria. Disse que apenas duas: para mim e para a companhia. Ele foi de novo, retornou e disse que só tinha uma. 

   Pedi que trouxesse mesmo assim. Lá foi o moço e depois de algum tempo, com a cerveja já quase quente ele volta e diz que a taça não tinha. Há tempos tinha se quebrado.

   - Meu amigo – eu disse – me traga então o copo descartável!

   - Vou ter de buscar na loja, pois só tinha aqueles e foi servido para outra mesa. Volto já! – disse o garçom e lá se foi comprar o que devia nunca faltar.

   Numa certa cidade do Recôncavo, conhecida por ter sido das maiores produtoras de açúcar  do mundo, até o século XIX, e também por produzir os melhores azeites de dendê do país, principalmente o chamado de flor do dendê e o bamba, procurei comprar algumas garrafas para dar de presente a amigos que são gourmets e também para fazer uma moquequinha, um vatapá, um xinxim e já fui chegando na feira e perguntando:

   - O senhor tem dendê?

   - Tenho!

   - Quero cinco garrafas. São naturais?

   - São sim! O moço lá da indústria disse que só tem de diferente o conservante.

   - Tá bom! Obrigado.

   E fui não sem antes perguntar se ele sabia onde encontrar azeite de dendê daqueles feitos artesanalmente, com pilão, com carinho, coado, separada a flor e o bambá. 

   O senhor respondeu que ele antigamente fazia, mas deixou de fazer e os filhos se recusam a fazer porque dá trabalho. Dá trabalho encontrar o dendezeiro, derrubar os frutos (ou seriam sementes?), cozinhar, pilar, coar e engarrafar.

   Na mesma cidade fui numa renomada baiana do acarajé e tive de esperar numa imensa fila de clientes. Pedi abará e ela disse que não tinha. Perguntei:

  - Acabou?

  - Não! É que não faço.

  - Não faz por quê? Tô vendo que tem tanta gente para comprar.

  - É que dá trabalho! – Respondeu.

   É o que digo. Fica difícil defender a Bahia. Mas vou defendendo com um bom Quixote.


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