Filosofia Popular
Rasta do Pelô
04/04/2013 às  09:29

RASTA DO PELÔ narra as aventuras de sua esposa em Buenos Aires querido

O passeio de três emergentes da classe C em Buenos Aires onde as baianas ficaram ricas com a desvalorização do peso


  De tanto dona Celeste apoquentar meu juízo afirmando que todas as suas amigas aqui do bairro da Caixa D'Água que ascenderam a classe C emergente já conheciam a Argentina, já tinham experimentado o Malbec de Mendoza, que lá se foram dona Céu (assim chamo carinhosamente Celeste), a sua senhora mãe dona Antônia e sua tia dona Perfume para Buenos Aires. Como não me desloquei da capital baiana, pois necessitava continuar vendendo minhas toucas de lã na Ladeira do Pelô, afinal alguém tem que trabalhar em nossa casa, só fiquei sabendo das aventuras do trio pelo telefone e quando retornaram a capital da Bahia.
  
   Adoraram, amaram, se apaixonaram, endeusaram, gamaram e mais adjetivos tivessem para descrever Buenos Aires colocariam à disposição dos meus ouvidos tal a grandeza da cidade, a beleza dos jardins e dos parques, as ruas largas diferentes do Pelô e do corredor do Pau da Lima, as rosas e flores dos locais públicos que ninguém as retira, só apreciam, os inúmeros condutores de cães, os cafés, o tango, e, claro, os bons ares, a brisa que sopra do rio e as noites frias e gostosas, bem diferentes desse mormaço de Salvador.

    A viagem de avião também amaram, como segredou-me dona Antônia, uma maravilha, mais rápida do que o percurso que faz para a Serra no gol de Sêo Joaquim, sem tombos, sem furar pneus, sem pedágios, tudo muito bacana. E o que foi melhor: no retorno ainda deram sorte de viajar na primeira classe da Tam numa lambuja de avião vazio e se deram bem sendo servidas com vinho, presunto de parma, azeitonas negras e spaghetti al mare. -Teve até uma cumbuca onde só caibam os dedos para lavar nossas mãos - comentou Céu. - Coisa de gente civilizada - emendou Perfume citando as toalhas quentes para enxutar los deditos.

   O que mais gostaram? - ousei perguntar no retorno. - De tudo, responderam.

   A Galeria Pacífico, um sonho. Mais não gastaram seus reais porque as lojas não aceitavam o cartão do BomPreço. A Florida, um deslumbre. Muito melhor do que a Avenida Sete e a Baixa dos Sapateiros. A Casa Rosada pequenas restrições diante de gradis para evitar piquetes de protestos dos trabalhadores contra a presidente Cristina. - Muito barulho com aqueles enormes tambores sendo tocados pelos moradores das vilas, confidenciou dona Antônia. Apressou-se em explicar dona Céu que vilas, por lá são as invasões de acá, as favelas do Rio de Janeiro. E mais disse a senhora Perfume que, num desses protestos seguiu os tocadores de tambores dos vileiros pensando que eram os meninos do Olodum. - E justiça seja feita, arrasei com minha dança e foi aplaudida, disse uma entusiasmada Perfume.

   A casa de shows Tango Portenho também adoraram. Uma sedução. - Aqueles casais dançando colados foram um primior - confessou-me dona Antônia. - E o vinho doce, que delicia, arrematou Perfume. - Doce não ...mulher! Tinto pouco encorpado - arguiu Céu já se achando conhecedora de vinhos. As carnes, então, diante do chupa molho que amargamos em ensopado com cuscuz, de solver nos lábios da boca - comentou minha senhôra Céu destacando o bife de chouriço.

   - Teve mais, disse-me Céu. Lá um dia fomos no Torquato Regina um bistrô estilo francês para um brunch.

   Aí não aguentei e comecei a dar risadas. - Tá rindo de quê ? Foi isso mesmo. - Ela não sabe de nada. Nuca saiu da Bahia estranha essa nossa nova linguagem - comentou dona Antônia. - Além do bistô francês fomos no La Biela, o café mais chic da Recoleta, acrescentou Perfume dizendo que ainda dialogou com uma estátua do escritor Jorge Luis Borges.

   Na Recoleta! - questionei dizendo que é um dos locais mais caros de Buenos Aires.

   - Ah! meu filho. Se aqui somos classe C lá ficamos ricas. Trocamos cada uma de nós notas de R$100,00 e recebemos um montão de pesos, disse Céu. - Isso mesmo "Mulheres Ricas" iguais aquelas da TV Band - acrescentou Perfume. - Só não tomamos champagne como faz a Val Marchiori porque não temos o hábito dessa bebida, mas falamos muito helô - apimentou dona Antônioa. - Mas de tudo mais fizemos no La Biela, inclusive tomamos o melhor dos vinhos - fez-me inveja Céu.
  - O melhor mesmo meu filho foi en Caminito nas imediações da Bombonera. Minha tia Perfume deu um show. Dançou até xaxando, uma misutra da tango com xaxado e foi aplaudida pelos turistas - narrou Céu contando como passaram a tarde no La Barrica. 

   Humilhado, sem saber mais o que arguir, recebi de presente uma caixa de alfarjos - aquele chocolate argentino - e outra caixa contendo três sabonetes Rogger Gallet além de um porta retrato do papa Francisco comprado no camelô em frente da catedral metropolitana.

   Por fim, ressabiado, perguintei: - Pelo visto, a próxima viagem deverá ser ao Chile, sonho de consumo dos brasis?

   - Nada de Chile, nem Peru, nem mais a Argentina. Agora estamos nos programando para atravessar o Atlântico. Paris, Londres, Amsterdam. O mundo ficou pequeno para nosotros - arreligou dona Céu já falando portunhol.


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