Filosofia Popular
Rasta do Pelô
01/03/2013 às  10:42

Mulher do Rasta do Pelô quer vestido igual ao das mulheres do Oscar

É cada coisa que se vê nessa classe emergente que dá até vontade de gargalhar.


 Eu mesmo nunca tinha assistido pela TV uma cerimônia do Oscar. 

   Mas, sabe como é, tudo mudou em nossa vida desde que a família ascendeu à condição da classe C emergente, graças ao nosso ex-presidente Lincoln. 

   Dona Celeste, minha santíssima esposa, tem martelado em minha cabeça que tenho que deixar de assistir o programa de Ratinho, deixar de acompanhar os sermões do pastor RR, de perder noites vendo lutas de UFC, e assistir programas mais inteligentes porque nossas rodas de conversas mudaram, os ambientes são outros e estão a exigir até uma TV por assinatura.

   Daí que topei de bom coração assistir o Oscar e dona Céu (assim que a chamo na intimidade) fez toda uma preparação na sala, latões de cerveja tinindo de gelada, pipocas, meio quilo de josefina e até queijinho com torradas. Chique né!.

   Claro que depois dessa bonança, dona Céu colocando a gelada numa tulipa que comprou na Baixa, fazendo uns cafuné no véi (é assim que ela me chama) começaram a aparecer aquelas mulheres belíssimas, elegantes, com cada roupa de tirar o chapéu, e fiquei deveras entusiasmo e com os olhos grudados na telinha. 

   Pior foi que senti a madame também se entusiasmado, gostando do latão, e quando entrou no palco uma atriz que parecia Xuxa, com aquele vestido enorme com calda de pavão, Céu tomou um golão e disparou: - Quero um desses.

   - Desses o quê mulher? - perguntei fazendo de conta que não estava entendendo sua afirmação, tirando uma de João sem braço.

   - Ah! Não se faça de desentendido. Esse vestido brilhante dessa loura.

   - Ô louco mulher! você não tem nem guarda-roupas para colocar um vestido desses.

   - Vou na Ricardo e compro. Ou então penduro uma arara aqui no teto da sala e pronto: coloco ele.

   - E dona Beatriz sua costureira sabe fazer uma roupa dessas? - questionei.

   - E quem disse que vou querer vestido de minha comadre Beatriz. Quero uma do Oscar - falou batendo no seios.

   - Ôh! mulher tu tá confundindo as bolas! Oscar é o pêmio desses artistas lá dos Estados Unidos.

   - Deixa de ignorância ...é Oscar de La Renta, um estilista da moda - disse fazendo cara de que sou um bronco.

   - E quem lhe disse que aqui na Bahia tem loja que venda esse tal de La Renta, nem no Salvador Shopping que é o mais chique você vai achar - caí na risada.

   - A gente fala com dona Paradoxus e pede pra ela encomendar. Ela traz de São Paulo que em SP tem tudo - arguiu como se conhecesse a capital paulista.

   - E quem vai pagar a conta? Ademais, tu não vai acertar andar com um vestido desses, com essa calda de pavão, vai tropeçar e sair - continuei rindo.

   - Vá se f...eu tomo aula com minha vizinha Tati, compro um sapato alto na Leão de Prata, me ajusto, treino e ficarei é bacana.

   - Quem vai pagar esse luxo, quem vai pagar - apontei fazendo gesto com o polegar e o indicador.

    - Esse negócio de dinheiro você fala com um dos seus amigos, o tal do Badu, o intelectual de bigode, o jornalista Pig, doutor Zéu, o conselheiro Souza, esse pessoal é endinheirado e pode lhe emprestar.

    Nisso entrou uma daquelas cantoras lindonas, cantando em inglês que a gente não entendia nada mas gostava, com voz muito além de Soninha Milk ou La Júpiter, nossas cantoras carnavalescas, e dona Céu em vez de elogiar a voz da mulher só falava no vestido da moça, na beleza da calda, na sofisticação do decote, e se entusiasmou tanto que, foi correndo a geladeira e trouxe mais um latão.
Eu, que também estava de queixo caído com a beleza da cantora, já com a pança repleta de josefina liberei sem querer um daqueles arrotos que mais pareciam um trovão, e, por coincidência, quando Céu destravou o latão dando aquele sinal de plof pipocou um transformador de energia na rua e faltou luz.

   - Santo pai! - falei que foi um meteorito e a mulher correu derramando o líquido do latão pra cobrir a penteadeira do quarto com um lençol temendo que algum raio invadisse nossa casa.

   Corri pra janela e fiquei astuciando. E, o tempo foi passando e nada da luz voltar. Retornei ao sofá e já que nada tinha mais a fazer, o cafunê foi esquetando ali mesmo na sala até que falei baixinho à patroa: - Vamos pra nossa caminha que este sofá é velho e não aguenta o tranco.

   E assim aconteceu, não se falando mais em vestido rabudo, em La Renda e em Oscar. Foi uma noite admirável e, não é pra me gabar não, mas levei três estatuetas: de melhor roteiro, de efeitos especiais e de melhor ator.


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