Literatura
Rosa de Lima
30/09/2022 às  08:35

ROSA DE LIMA COMENTA LIVRO DE GIDE CÓRIDON SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE

Livro pioneiro na Europa no debate sobre a homo sem significar doença, e sim uma causa natural


    O prêmio Nobel de Literatura, em 1947, André Gide, foi um dos autores pioneiros (ou o poneiro na França) em tratar o tema homossexualidade à luz da sociedade europeia, isso na segunda década do século XX quando o tema era tabu e os gays sofriam processos judiciais e prisões. Ainda usava o termo uranismo que surgiu no século XIX e tratavava de homens homossexuais e foi publicado pela primeira vez pelo ativista Karl Heinrich Ulrichs em uma série de cinco livretos.


  Ao escrever Córidon - um conjunto de ensaios sobre o tema com título inspirado no personagem homónimo de Virgilio - Gide foi extremamente cauteloso para lancar o conjunto da obra e o prório autor revelou num prefácio escrito, em novembro de 1922, sobre o primeiro ensaio: "No que diz respeito aos simples atrasos, não posso tê-los por lamentáveis, tendo em conta que os artistas do nosso tempo pecam mais frequentemente por uma enorme falta de paciência. O que se serve hoje em dia teria muitas vezes ganhado em amadurecer".

  O que Gide quis dizer com esse fraseado é que a obra estava pronta e "queria ter a certeza de que, em breve, não teria de desdizer aquilo que avançava em Córidon, e que me parece evidente". Uma cautela que não considerava excessiva entendendo que tudo tem seu tempo, de colocar no papel (passou dez anos escrevendo o ensaio, a partir de 1911) e de editá-lo (apresentá-lo ao público), e que, quando isso fosse feito (o segundo estágio, a edição, e o apreciar do público) não chegasse aos leitores algo para divertir ou dar prazer e sim um "pensamento muito sério".

  No prefácio da terceira edição, de 1924, a considerada definitiva (o texto foi publicado separadamente entre 1911 e 1920) Gide comenta: "O que pensava antes da guerra (I Guerra Mundial 1914/1918) penso-o ainda mais hoje. A indignação que Córidon poderá provocar não me impedirá de acreditar que as coisas que aqui digo devem ser ditas. Não que o julge que o que se pensa deve ser dito, e dito em qualquer momento - mas sim isto, precisamente, e que é preciso dizê-lo hoje".

  Mas, afinal, qual a mensagem que Gide quis passar (e passou) para a sociedade europeia com reflexos mundiais. Trata-se de diálogos entre o personagem por ele criado (Córidon) dito a um narrador (ele, próprio), o que significa dizer, uma conversa íntina do autor consigo mesmo, Córidon representando um médico erudito, conhecido e assumido pederasta da alta sociedade parisiente, para que esclareça o que é a homossexualidade? Como e porque razão se é homossexual? Não se violam, assim, as leis da natureza? E porque que motivo parece esta tendência, contranatura e obcena, ter vindo a aumentar nos últimos anos? Com que consequências, senão a decadência moral da sociedade? questões que Córidon construiu sua teoria de que a homossexualidade - tanto quanto a heterossexualidade - é um fenômeno natural. Inevitável e necessário no seio da natureza, à qual não escapa o homem.

  Em síntese, o autor faz uso do testemunho de naturalistas (especialmente Charles Darwin), historiadores, poetas e filósofos para sustentar o argumento de que a homossexualidade existia nas civilizações culturalmente e artisticamente mais avançadas (como na Grécia de Péricles, na Renascença italiana e na Inglaterra isabelina), o que se refletia em escritores e artistas de Homero, Virgílio, Ticiano a Shakespeare nas suas representações das relações homem-homem (como as de Aquiles e Pátroclo como uma relação homossexual e não platônica ou de amizade, como outros as proclamaram). Tudo isto, diz Gide, sugere fortemente que a homossexualidade é mais fundamental e natural que a heterossexualidade, sendo a última apenas a representação social de uma união.

  Lembrar aos leitores que nessa época (século XIX e até meados do século XX) a homossexualidade era vista como uma doença, uma aberração, uma agressão à sociedade e as pessoas pagavam por isso em condenações nos tribunais e nas prisões. E foram milhares de condenações na Europa de anônimos e famosos. Na França, a homossexualidade não era crime, mas aconteceu a condenação de Pierre Renard, em 1909, condenado de um homicidio (duvidoso) por ser "monstro odioso e repuganante", isto é, homossexual.

  Um dos casos mais rumorosos na Europa foi a condenação e prisão do irlandês Oscar Wilde, o qual no apogeu de sua fama e sucesso, enquanto sua peça "A Importância de Ser Honesto" (1895) estava em cartaz, processou o pai de seu amante Alfred Douglas por difamação após ser acusado por ele de "sodomia", mas acabou sendo condenado de "indecência grosseira" por relações com outros homens jovens.Foi condenado e preso por dois anos, de 1895 a 1897, com trabalhos forçados. Na prisão, escreveu De Profundis e mudou-se para Paris (após cumprir pena) onde morreu ainda jovem.

  A França celebrou neste 2022, 40 anos da lei que descriminalizou a homossexualidade no país. O que era classificado com "delito de homossexualidade", instituído pelo regime de Vichy, em 1942, só foi revogado no governo do socialista de François Mitterand. Quarenta anos depois, o presidente Emmanuel Macron comemorou a data nas redes sociais e a primeira-ministra Elisabeth Borne anunciou a criação de um cargo de embaixador dos direitos LGBTQI+. No Parlamento, socialistas apresentaram um projeto de lei de reparação. 

  Veja, pois, como era difícil e temida a abordagem desse tem, na literatura, no teatro, no cinema, nas artes visuais, etc, daí a demora de Gide em publicar Córidon- como destaca Ricardo Mangerona, ensaitas e crítico português, "texto dialogado, em moldes socráticos, no qual se defende a homossexualidade dos pontos de vista biológico, histórico-cultural e sociológico, sem descurar as suas implicações morais no contexto maioritariamente cristão e patriarcal que é o da Europa no início do século XX".

   Os quatro diálogos que compõem o volume (Em português, Editora 70, maio de 2022, chancela da Editora Almedina S/A, Coimbra, Portugal, 178 páginas, R$30,00 pela internet) correspondem a quatro dias consecutivos de conversa entre Córidon e o narrador, bem esclarecedoras, alguns diálogos fundamentados em observações cientificadas dos naturalistas em plantas e animais e todo um contexto cauteloso para chegar ao público.

  O livro, portanto, deve ser lido entendendo-se sobretudo o contexto da época em que foi demoradamente gestado e, mesmo em Paris, que era a cidade mundial da cultura dos anos 1920, exatamente quando foi publicado, e era habitada por escritores internacionais do naipe de John Passos, Erza Pound, Gertrude Stein e Scott Filzgerald, e já circulava a "Nouvelle Revue Française" por Gide (e outros) fundada em 1909 o autor certamente temia a repressão. Está dito acima que a descriminalização da homossexualidade só aconteceu em 1988 com Miterrand, na presidência.

  Aos olhos de hoje o livro é uma referência, uma bíblia, para se entender esses primórdios da luta de afirmação LGBTQI+ sem o carimbo de uma doença malígna. 

Roma pernoita de sábado para domingo em Porto Seguro, de onde, depois de Dra. Raissa votar no Colégio José de Anchieta, embarca para Feira de Santana. Na Princesa do Sertão, o candidato a governador se encontra com a vice Leonídia Umbelina, que vota na Escola Municipal Valdemira Alves Brito. Depois ele segue para Salvador onde vota à tarde. Posteriormente Roma acompanha a apuração em sua residência, na Vitória.

“A harmonia e a integração de nossa chapa foram marcantes durante toda a nossa campanha. Portanto, estaremos juntos no decisivo momento do voto e confiantes em nossas vitórias e na do presidente Jair Bolsonaro”, diz João Roma, que, nesta reta final, vai a Feira de Santana e Santo Antonio de Jesus na sexta-feira. No sábado, estará em Cruz das Almas, Feira de Santana e Vitória da Conquista.


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