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O RIO DE JANEIRO DE MACHADO DE ASSIS, parte II, por NARA FRANCO

Machado de Assis deixou um poema para a esposa falecida em 1904
Nara Franco , RJ | 24/06/2017 às 21:32
Cosme Velho no século XIX
Foto: Rio Antigo
Continuamos nosso passeio no Rio de Janeiro com Machado de Assis começando em 1867, quando o escritor foi nomeado diretor-assistente do Diário Oficial por D. Pedro II. A carreira como burocrata, no entanto, não durou muito tempo por divergências políticas com o Partido Liberal, que combatia à Monarquia. A esta altura, Machado já era amigo de José de Alencar, autor de "O Guarani", entre outras importantes obras da literatura brasileira, e um intelectual respeitado. 

Curiosidade: ambos recepcionaram o poeta Castro Alves, vindo da Bahia, na imprensa da Corte. Machado diria sobre o poeta baiano: "Achei uma vocação literária cheia de vida e robustez, deixando antever nas magnificências do presente as promessas do futuro". Os direitos autorais por suas publicações e crônicas em jornais e revistas, acrescido da promoção que recebera da Princesa Isabel em 7 de dezembro de 1876 como chefe de seção, rendeu-lhe um bom salário. Machado mudou do centro da cidade para o bairro do Catete, mais precisamente na Rua do Catete nº 206, onde morou durante 6 anos, dos 37 até os 43 anos.

Ironicamente o bairro do Catete fica próximo ao Largo do Machado. Engana-se quem acha que o local tem esse nome por causa de Machado de Assis. Para aumentar ainda mais a confusão, na entrada do Largo do Machado há uma enorme estátua de José de Alencar. E mesmo morando no Rio há anos nunca entendi essa mistura. O Largo tem esse nome em referência ao oleiro André Nogueira Machado, proprietário de terras no local. Já José de Alencar está ali para marcar a divisão entre os bairros do Flamengo e o Largo. 

Tanto o Catete quanto o Largo do Machado são bairros com bom comércio, praças, bares e restaurantes. No Catete, o ponto turístico mais importante é o Palácio do Catete, onde Getúlio Vargas governou e morreu. 

Em 1869, Machado de Assis se casou com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã de um grande amigo do escritor. Com ela, foi viver na Rua do Cosme Velho 18, onde permaneceu até sua morte. No local, há uma placa sinalizando o fato, uma vez que o sobrado onde Machado viveu sucumbiu ao progresso. Para facilitar a localização do visitante, é a mesma rua onde está a estação de trem que leva ao Cristo Redentor.  
 
No sobrado, Machado escreveu os livros "Dom Casmurro", "Memorial de Aires", "Quincas Borba", entre outros, além de peças, contos, e poesias. Permaneceu casado durante 35 anos e, segundo relatos, a vida conjugal foi extremamente feliz. Carolina morreu aos 70 anos em 1904. O viúvo Machado de Assis escreveu um soneto em homenagem à esposa, considerado a melhor peça de sua obra poética.

"Querida! Ao pé do leito derradeiro,
em que descansas desta longa vida,
aqui venho e virei, pobre querida,
trazer-te o coração de companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
que, a despeito de toda a humana lida,
fez a nossa existência apetecida
e num recanto pôs um mundo inteiro...

Trago-te flores - restos arrancados
da terra que nos viu passar unidos
e ora mortos nos deixa e separados;
que eu, se tenho, nos olhos mal feridos,
pensamentos de vida formulados,
são pensamentos idos e vividos."

E como surgiu o apelido "Bruxo do Cosme Velho"? Historiadores afirmam que surgiu do fato de Machado queimar cartas e documentos acumulados em um caldeirão que havia no sobrado do Cosme Velho. Certa feita, uma vizinha vendo a cena e a fumaça, gritou: "Olha o bruxo do Cosme Velho!". Verdade ou não, o apelido pegou até hoje. 


Palácio do Catete
Rua do Catete 153 - Catete

Trem do Corcovado
Rua do Cosme Velho 513 - Cosme Velho