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CAMPANHA da Petrobras retrata Juazeiro com preconceito, p DANIEL PINTO

* Daniel Pinto é jornalista e editor do site sertaobaiano.com.br.
Daniel Pinto , Irecê | 24/11/2014 às 16:51
Sou mais Juazeiro, diz Daniel Pinto
Foto: DIV

Infeliz, no mínimo, a propaganda dos Postos Petrobras sobre a promoção “Sem Limites para rodar o Brasil” em que um garoto-propaganda interpreta um frentista preconceituoso ou burro. O mais provável mesmo é que seja a representação de uma “inocência cretina”, expressão emprestada de Laio Rodrigues. Ao anunciar as vantagens da promoção, o frentista sugere a outros personagens que visitem Florianópolis, “a Ilha da Magia”; ou Manaus, descrita de forma submissa e colonial como a “Paris dos Trópicos”. Mas, Juazeiro, coincidentemente, ele desconhece. A referência, feita por um clichê de idoso, é de que Juazeiro é apenas a “terra da próxima micareta”, como se uma cidade do interior da Bahia devesse ser lembrada unicamente pelo carnaval fora de época.

Como a Petrobras devia saber - na condição de empresa nacional, “patrimônio” de todos os brasileiros - é que Juazeiro não é uma cidadezinha qualquer: trata-se de uma das maiores cidades do Estado da Bahia, localizada às margens do Rio São Francisco, que possui traços culturais fortíssimos, com destaque para o artesanato, culinária, musicalidade... E com economia voltada para o agronegócio, especialmente a fruticultura irrigada, que exporta o sabor da Bahia para o mundo. Sem contar com o clima agradável e o povo que - por viver numa zona fronteiriça - tem a diplomacia aguçada e se relaciona com o contraditório com naturalidade.

Por tudo, volto a dizer que o comercial é infeliz. Por muito menos, entidades de classes e organizações não governamentais acionaram o Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar) e conseguiram retirar campanhas do ar. Me pergunto como uma campanha carregada de preconceito foi concebida por um redator, teve aval do Departamento de Criação de uma agência publicitária e (pior) foi aprovada por diretores da Petrobras. Talvez não tenham consciência da identidade nacional. Talvez pensem que uma cidade do interior da Bahia não merece respeito. Talvez estejam cegos pelos escândalos de corrupção que jogam o nome da Petrobras abaixo das camadas do pré-sal.
 
O caso é grave e uma mera retratação formal não terá efeito significativo. Uma sugestão razoável (se me permitem) é a produção de um novo comercial em que Juazeiro tenha destaque não pelo carnaval fora de época, mas, sim, pelas belezas naturais, importância cultural e econômica e pelas qualidades do seu povo.

Se aceitarmos essa peça midiática, estaremos renegando o nosso valor e nos contentando com um papel secundário na história do país. Se nos calarmos, seremos omissos e cúmplices. Esse texto foi enviado para todos os vereadores de Juazeiro, alguns dos principais veículos de Comunicação da cidade, bem como para todos os deputados estaduais da Bahia. Espero que essa pequena ação seja como um rastro de pólvora e atinja o “coração” dos juazeirenses e de todos aqueles que amam a Bahia. 

Sou mais Juazeiro, viu Petrobras!