Colunistas / Política
Tasso Franco

WAGNER defende uma reforma politica para assegurar a democracia

As representações politicas estão sofrendo uma mudança de metodologia e todos se queixam dos custos das campanhas
11/08/2014 às 14:42
Em conversa com jornalistas de blogs na última sexta-feira, 8, o governador Jaques Wagner expressou sua preocupação com o futuro da democracia brasileira se o Congresso Nacional não se debruçar com denodo para promover uma reforma política, urgente, pois, diante do que se presencia nessa campanha eleitoral o voto está se transformando numa mercadoria, o que poderá desvirtuar completamente a representação política nas casas legislativas. - Se persistir essa prática será vital a deteriorização das bases democráticas, adverte.

   Palavras do governador: "Nunca vi nada igual ao que estou vendo. Há um grau de piora nas relações entre lideranças e os parlamentares e aqueles que desejam chegar as casas legislativas. Uma banalização sem precedentes". Wagner não fala diretamente em uso de recursos financeiros ou compra de votos. 

   Quando perguntado sobre isso, o valor monetário do voto, diz: "Não sei porque não estou na ponta. Agora, todos os relatos (de candidatos às eleições proporcionais) que tenho são assustadores".

   Entende o governador que, se essa metodologia (a troca do voto por um benefício direto) não mudar "nós vamos todos para o ralo e voltar ao tempo do Império" (o Império no Brasil durou de 1822/1889 com Dom Pedro I e Dom Pedro II).

   Nos bastidores da politica baiana o que se comenta, alerta aliás que foi feito pelo deputado Carlos Gaban (DEM), o qual disse que não se candidatura à reeleição porque não tinha dinheiro para comprar os votos, dito isto na tribuna da Assembleia, é de que o voto estaria valendo muito junto a lideranças do interior e da capital. Ninguém consegue provar ou mensurar valores porque, também como se comenta, tudo seria feito com acerto vivo entre as partes.

   A queixa é geral. A deputada Luiza Maia (PT) vem insistindo em seus pronuciamentos na Assembleia Legislativa que sem a reforma politica adeus democracia. É uma das poucas parlamentares que aborda essa questão na ALBA, sem ressonância, até porque a reforma politica depende do Congresso Nacional.

   Jony Judt, em Pensando o Século XX, afirma que "a democrcia tem com uma sociedade liberal bem-ordenada a mesma relação que um mercado excessivamente livre tem com um capitalismo regulado bem-sucedido. A democracia de massa em uma era de meios de comunicação de massa significa que, por um lado, você pode revelar muito rapidamente que Bush fraudou a eleição, mas, por ouro lado, que grande parte da população não se importa".

   Em tese, tomando como exemplo a frase de Judt, o que se passa na Bahia (certamente também noutros estados) é que esse mercado é uma preocupação latente dos politicos envolvidos numa eleição, mas, que a sociedade de uma forma geral pouco se preocupa ou se mobiliza para enfrentar a questão.

   Na história das nações - ainda Judt - que maximizaram as virtudes que associamos à democracia, perceberá que o que veio primeiro foi a constitucionalidade, Estado de Direito e Separação de Poderes. A democracia veio por último. Portanto, é a tese do autor, a democracia não é o ponto de partida. Mas, um fim, um meio e pode sofrer alterações.

   Sublinhe-se, ainda, a máxima de Wiston Churchill de que a democracia é o pior sistema possível, com exceção de todos os outros.

   Tem, portanto, todo sentido e apreço a observação do governador de que, se não se modificar esse sistema, vai todo mundo para o fundo do poço. Ou seja, o Congresso e as Assembleias serão constituidas, em sua maioria, por quem tem recursos financeiros. Bancadas já existem entre os segmentos do agronegócio, da construção civil, áreas da saúde e educação e assim por diante. Hoje, até os evangélicos, que pareciam imunes, a nova metodologia do voto estão reclamando.

   O governador Wagner diz que, em recente conversa com o então presidente do STF, Joaquim Barbosa, lhe disse que o combate à corrupão, a ação envolvendo os mensaleiros e tudo mais que o Supremo se atem são importantes, porém, um enxugamento de gelo se não mudar a máquina eleitoral. "Nós iremos voltar ao Império se não fizermos a reforma política", aduz lembrando com funcionava o "poder legislativo".

   Para Wagner, metade do comércio vai embora se forem adotadas pelo menos três medidas essenciais: a) O tempo da TV é do partido que tem candidato a majoritária; b) Acabar com as coligações proporcionais; c) Acabar eleições de dois em dois anos.
 O governador tem razão quando elenca essas três questões, mesmo sem opinar sobre o financiamento das campanhas. O certo é que, há uma reclamção geral entre os políticos sobre os custos das campanhas e Domingos Leonelli, experimentado político, construiu uma frase lapidar sobre esse momento em que vive a política baiana (e brasileira): "Antigamente o pessoal da esquerda, como ele, enfrentava uma direita endinheirada e hoje briga com a mesma direita endinheirada e uma esquerda endinheirada também"(Tempo Presente, A Tarde).

   O advogado Ademir Ismerin também já havia alertado para essas questões e as amarras da lei eleitoral entendendo que, novas lideranças como surgiram antigamente no meio estudantil e sindical dificilmente, hoje, terão sucesso politico como fenômenos eleitorais.

   Está tudo amarrado e o que mais vale é a mais-valia, não como a definição marxista, e sim na expressão popular do capilé.