Colunistas / Política
Tasso Franco

7 ANOS DO GOVERNO WAGNER: altos e baixos de sua trajetória

As eleições de 2014 são vitais para Wagner: se ganhar, a avaliação do conjunto de sua obra será uma; se perder, será outra
30/12/2013 às 11:58
1. O governador Jaques Wagner chega ao seu oitavo ano de governo com duas missões fundamentais: eleger seu sucessor, secretário da Casa Civil e deputado federal Rui Costa, uma escolha sua, pessoal e à la Lula/Dilma; e deixar uma marca, um legado dos seus dois períodos de governo. 

   2. Em se tratando de um político carismático como é Wagner, nada surpreende se isso acontecer, pois, no campo politico, aí, sim, surpreendeu muita gente, em 2006 (até Lula) com uma vitória esmagadora sobre Paulo Souto e todo um sistema de dominação vigente, e manteve a hegemonia de sua liderança, em 2010, derrotando novamente Souto, apesar da crise econômica de 2009 quando seu governo tropeçou, parecia que ia cair, mas sobreviveu.

   3. Agora, esse mesmo cenário se repete. O governo enfrenta problemas financeiros, o ano de 2013, o próprio Wagner reconhece como o pior do seu segundo mandato, e não tem tempo hábil para fechar 2014 com as badaladas (em propaganda) e sonhadas grandes obras com o corredor Fiol/Porto Sul/ponte Salvador/Itaparica, Metrô 2 até Lauro de Freitas, etc. 

   4. Essa questão, o legado de Wagner, a marca final do seu governo ainda está em andamento e discussão, o que só se esgotará em dezembro de 2014, ele que já disse ficará até o final do mandato até para facilitar a aliança na chapa majoritária encabeçada por Rui Costa.

   5. Sabe-se, de antemão, que a maioria das obras existentes no estado têm o carimbo do governo federal e o governador leva vantagem nesse cenário porque integra o PT, o time Dilma/Lula/Wagner, e a população, de uma geral, não quer saber qual o dono do carimbo e sim os beneficios alcançados. Assim, o Minha Casa, Minha Vida projeto de grande visibilidade tem a cara de Wagner e não dos prefeitos onde estão sediados. 

   6. Isso é uma coisa muito dificil de ser entendida e avaliada. Lembro que, no final do governo Souto, o Estado fez a urbanização do Dique do Tororó, mas, uma boa parte da população achava que tinha sido o prefeito Imbassahy o autor da obra. Na sucessão, ganhou João Henrique, que não tinha apoio nem de Souto; nem de Imbassahy.

   7. Feira de Santana foi a cidade que mais contratou o Minha Casa no estado, isso na gestão de Tarcísio Pimenta, prefeito (2009/2012). No entanto, na hora da escolha do seu sucessor, deu Zé Ronaldo, que nada tinha a ver com o Minha Casa, em tese mais vinculado a imagem Wagner/Zé Neto.

   8. Talvez por isso, ou na defesa do conjunto de sua obra (os 8 anos) Wagner já deu recado público a Rui Costa de que este não deve se comportar como advogado dos seus feitos, "não precisa se comportar como meu advogado em sua campanha".

   9. Por enquanto, esse tem sido o discurso de Rui, do continuismo com o objetivo de fazer mais, entendendo que Wagner "pavimentou" o estado no sentido pleno de sua organização e infra-estrutura e ele entrará já com essa base pronta, facilitando, assim, a sua vida na execução de novos projetos e dando continuidade aos que existem. 

   10. Tarefa dificil, porque, se Rui for eleito, é complicado dissociar uma Fiol de Wagner; o Porto Sul e assim por diante. Eleito, isso pouco importante, pois, prevalecerá a tese do Projeto Lula/Dilma/Wagner então Lula/Dilma/Rui, quiçá com Wagner retornando em 2018. A política é pensada a médio prazo. Talvez por isso, Gabrielli e Pinheiro tenham sido descartados.

   11. Nas questões administrativas é muito estranho que o governador ao chegar em seu oitavo ano de governo, como todo esse pavimento descrito por Rui, tenha apenas 26% de avaliação positiva, segundo o IBOBPE. Mas, também é alentador para o governador saber que sua avaliação pessoal chega aos 50%. 

   12. Daí que 2014, ano curto administrativo porque as eleições batem à porta, há o Carnaval e a Copa do Mundo, ninguém sabe como vão se comportar os black-blocs e outros movimentos sociais, será decisivo para o governador. Ele sabe disso e já se expressou nessa direção. 

   13. Leva a vantagem de ser ligado a Lula/Dilma com a presidente dando sinais de recuperação de sua popularidade e seus adversários políticos Aécio Neves e Eduardo Campos ainda sem convencer o eleitorado no sentido de mudar a direção do país. Esse dado é muito positivo para Wagner/Rui porque já há um palanque nacional pré-estabelecido e em campanha há tempo. 

   14. O governador tem colocado com ponto extremamente positivo do seu legado o fato de ser o  mais democrático e republicano governador das últimas décadas na Bahia, pós-carlismo, e isso tem sentido, ainda que alguns dos seus métodos sejam muito parecidos com os particados por ACM, como aconteceu recentemente na escolha de Rui a governador, e na relação com ACM Neto. 

   15. Ora, a relação com Neto é democrática, não se tem a menor dúvida, mas, a metodologia é a mesma da época do carlismo com a Conder sob controle do governo, a Prefeitura sem assinar nenhuma obra de grande porte dos governos estadual e federal, e o prefeito tendo que se contentar em apenas participar de eventos, de assinar pequenos convênios e da organização de movimentos turisticos como o réveillon e o Caranval.

   16. Evidente que ACM Neto conhece esse jogo, seu avô fez isso com Lídice (prefeita de Salvador entre 1993/1996) e esta por incompetência de sua equipe não soube se organizar para fazer uma boa gestão em Salvador. Neto, precavido, faz a sua parte, se organiza para fazer seus próprios projetos.Pergunta: fosse Pelegrino o prefeito, o governo petista adoria essa política da Conder com ele? Duvida-se.

   17. Isso, de forma alguma, tira o mérito da forma educada e elegante do governador tratar seus pares e os adversários, embora as análises precisem ser cuidadosas caso a caso. Não vou enumerar aqui alguns deles porque não é o caso.

   18. A equipe Wagner passará por mudanças diante de candidatos a deputados, ao governo e ao Senado. Otto Alencar, seu vice, ao lado de Jorge Solla, Saúde, foram os mais dinâmicos dos seus secretários. O que no mundo da administração se chama de "tratores" da gestão. Realizadores. Tanto que um vai ser candidato ao Senador e outro a Câmara. 

   19. O calcanhar de Aquiles do Governo é a segurança, o aumento da violância, e o governo tem tentado melhorar os indicadores e até conseguido em alguns casos com o Pacto pela Vida.Mas, no conjunto da obra, a situação é ruim.
 
   20. A pasta da Educação, linear, ensino de baixa qualidade, sem inovação, sem meritrocacia. Poderia ter sido bem melhor. Infelizmente não dá mais tempo para grande coisa e a greve dos professores de 2012, um ano perdido no ensino, foi terrivel. O Topa está dissociado da realidade entre os números apresentados pelo governo e pelo MEC.

   22. Na Fazenda, outro calcanhar de Aquiles do governo, o erro (Wagner não gosta desse termo) parece-nos de origem e vem desde Carlos Martins e o escanteio de auditores do IAF para atender os ATE's e outros menores dotados do Sindsefaz. Durante anos, a Bahia ficou na rabeira da arrecadação percentual em ICMS e ainda foi prejudicada pelas crises de 2009/2012. Felizmente, com Petitinga e agora com Vitório, a Sefaz voltou ao eixo normal e se reorganizou. O Refis, proposta iafiana, colocou R$800 milhões adicionais no caixa de 2013, o que foi importante para o equilibro das contas, ainda desestabilizadas com a Previdência e a polêmica do projeto (PEC) de antecipação dos royallties do petróleo.

   23. Na Cultura, muita conversa, muita reunião, e pouca coisa objetiva. Os produtores culturais dizem que não sabem quem foi pior, se Márcio Meirelles ou Albino Rubin, ou os dois. A Cultura sofreu (e ainda sofre) com a falta crônica de recursos e isso sempre representou um empecilho. A Bahia perdeu um enorme espaço na cultura nacional.
23. A administração teve altos e baixos. Começou bem com as mesas de negociações e acabou no que os opositores do governo na Assembleia chamam de "peleguismo" baiano. Duas greves foram dramáticas para o governo: educação, comandada pelo PCdoB; e PM, comandada pelo soldado Prisco. Mas, também, houve muitos avanços e conquistas para os trabalhadores dos serviços públicos, especialmete na saúde e na educação.

   24. A Comunicação teve bom desempenho. Se foi enganosa a propaganda do govrno como dizem deputados da oposição isso pouco importa porque todos os governos a fazem, desde a época de Tomé de Souza.

  25. Fica para o próximo ano uma análise mais detalhada do conjunto da obra do governo Wagner, os dois períodos, 2007/2014. Por enquanto, esse desempenho está em curso, e 2014, a se iniciar na próxima quarta-feira, será vital e decisivo para o governador, mais do que nunca, com responsabilidade dupla para sí e para Rui, com muita gente, até "interna-corporis" petista torcendo que se estrepem e a senadora Lídice da Mata, a qual elegeu em 2010, nos seus calcanhares querendo chegar a Ondina.