Colunistas / Política
Tasso Franco

MILITÂNCIA do PT muda de status e não fez a diferença

Ao longo dos anos aquela militância aguerrida deu lugar a uma "militância" paga
01/11/2012 às 13:38
Muito se falou (e ainda se fala) na militância do PT que faria a diferença na reta final da campanha de Nelson Pelegrino, alguns até chegando a dizer que, quando a militância entrasse pra valer na reta de chegada, o candidato estaria eleito. Mas, nada disso adiantou.

O que teria então acontecido com a militância?

Recentemente conversei com um antigo militante do PT, hoje um dos engravatados da SERIN – Secretaria de Relações Institucionais do Governo do Estado – e ele me disse o seguinte: - Nós mudamos de patamar e não fomos substituídos na base. Hoje, vivemos numa nova realidade.

De fato, o militante petista de origem dos anos 1980 quando o partido foi fundado, o militante petista dos anos 1990/parte inicial de 2000 quando o PT ganhou corpo na disputa para presidente da República com Lula em três pleitos, especialmente contra Fernando Collor, em 1989, e atingindo o poder máximo em 2002, mudou bastante.

Envelheceu, se ajustou nas estruturas dos poderes municipal, estadual e federal e não teve quem o substituísse, numa reciclagem de pai para filho ou nos segmentos das associações e sindicatos, o que (em tese) é natural. Quem ganha passa a defender o governo, muitas vezes de olhos vendados (o que é um erro) sem o sentimento crítico, se engravatando, tendo carro à disposição com motorista, passa a beber vinho em vez de caipirinha, e isso, obviamente, altera as relações com a sociedade que tem demandas e está sempre a exigir esse papel vigilante com o poder público.

Emblemático ficou no imaginário do país na 1ª vitória de Lula quando Duda Mendonça comemorou com o presidente eleito saboreando um Romanée Conti, um dos vinhos mais caros do mundo.

Então, o PT, a partir do momento em que chegou ao poder em várias instâncias no Brasil, abrigando muitos militantes em cargos comissionados e nos comandos de secretarias de municípios, estados e ministérios, substituiu a velha e aguerrida militância por “militantes” pagos (em sua maioria), abanadores de bandeiras e distribuidores de panfletos.

Ou seja, se igualou aos demais partidos que também utilizam essa mesma prática. Inventou-se até uma “onda azul” (DEM/PP etc) para contrapor a “onda vermelha” petista, movimento gerado a partir de sucessivas vitórias do PT no âmbito de estados e municípios, especialmente na Bahia, garantindo ao petismo, ainda assim, mais de 90 prefeituras na atual eleição.

Houve também uma inversão de valores, o PT se aproximando mais nos “currais eleitorais” – assim chamados na era do ACM pelos próprios petistas – os municípios de menor porte, onde a população é menos esclarecida, e perdendo nos grandes colégios como Salvador, Feira de Santana, Ilhéus, Itabuna, Jequié, Lauro de Freitas – mantendo apenas Vitória da Conquista, Camaçari e Teixeira entre os grandes.

Outros atores também vinculados ao PT – movimentos sociais, sindicatos, ONGs, associações etc – também se envolveram em benesses dos governos, especialmente as ONGs com contratos vultosos, alguns suspeitos e sem as devidas prestações de contas, os sindicatos se apequenaram com alguns dos seus dirigentes integrando as estruturas do poder e a maioria passou a dizer amém.

São os integrantes dessas estruturas, pessoas hoje com 50/60 anos de idade, em média, que constituíam os quadros da militância autêntica, que brigava, que questionava, discutia, mobilizava, tinha discursos de convencimento e que foram substituídos por abanadores de bandeiras.

Quem assistiu ao comício de Lula na Praça Castro Alves na campanha de 2002 (lula lá brilha uma estrela...) pode sentir a diferença. Naquele momento lágrimas brotavam nos olhos de quem estava ao vivo na praça e, depois, lágrimas brotavam nos olhos dos telespectadores, em casa, assistindo o marketing da TV. Agora, em 2012, a TV do marketing de Pelegrino se esforçou ao máximo, com Lula em palanque, mas não conseguiu o mesmo efeito. 

Havia, sim, muitos “japoneses” petistas trazidos dos bairros com ônibus cedidos pelos empresários amigos para acenar as bandeiras. Os militantes, os autênticos, estavam no palanque (em parte), poucos no chão da praça e muitos em casa.

Então, pode-se dizer que, “onda azul”, “onda vermelha” “militante do PT” “militante do DEM” ou “militante do PP” tudo se igual, salvo as exceções.

Há de se dizer que a renovação no PT, na Bahia, passa também por essa reflexão.