Colunistas / Política
Tasso Franco

A MORTE DE MENININHA E O ENCONTRO WALDIR E JOSAPHAT

Lembranças da campanha de 1986
14/08/2011 às 14:02
Foto: Luciano Andrade
Mãe Menininha do Gantois e a política baiano no ano de 1986
   A Câmara de Vereadores de Salvador lembra os 25 anos do falecimento de Mãe Menininha do Gantois. Naquele agosto de 1986, a política baiana fervia na disputa entre as candidaturas de Waldir Pires (PMDB) - coligação "A Bahia Vai Mudar"; e Josaphat Marinho (PFL) - coligação "Aliança Democrática Progressista".

  Foi a campanha majoritária mais longa que aconteceu no estado e se inicou já nos palanques, em 2 de fevereiro, em Jacobina. Uma "guerra" para verificar quem sucederia o então governador João Durval, o qual chegara ao poder com o apoio de ACM após a morte de Clériston Andrade, em 1982.

  Durval, ACM e o ex-governador Lomanto Jr apoiavam Josaphat; e Waldir fizera uma aliança com Luis Viana Filho, Jutahy Magalhães, Ruy Bacelar e Nilo Coelho, seu candidato a vice. Lomanto e o deputado Félix Mendonça eram os candidatos ao Senado, ao lado de Josaphat; e Ruy Bacelar e Jutahy Magalhães, os candidatos ao Senado, com Waldir.

  Em agosto, a disputa entre os candidatos a governador estava acirrada e Waldir apelava na TV para que a população ajudasse com recursos financeiros sua jornada, acusando a chapa de Josaphat de usar recursos do estado. E, Josaphat, de sua parte, ironizava Waldir dizendo que, "quem não tem competência não se estabelece".

  A essa altura, segunda caminhada de Waldir a governador, na primeira sofreu o "pão que o diabo amassou" numa campanha vigorosa captaneada pelo jornal A Tarde e o cardeal da Silva (Álvaro Augusto) taxando-o de comunista, "vermelho" e vinculado, em tese, às forças do Demo, não tinha mais a pecha de comunista e trafegava bem com o apoio da igreja católica. Josaphat, de sua parte, era agnóstico, assim se dizia.

  Dia 14 de agosto, depois de convalecer doente por algum tempo, vela-se o corpo de Mãe Menininha do Gantois, a essa altura, a mãe de santo mais famosa e querida de Salvador.

  Eu coordenava a campanha de Waldir na área da imprensa associada ao marketing da D&E e havia um conselho de jornalistas para orientar o candidato. Um grupo de "notáveis": Wilter Santiago, Joca, Antonio Jorge, Florisvaldo Matos, Carlos Navarro, Albino Rubim, Wellinton Rangel e outros. Comigo, no dia-a-dia, trabalhavam os repórteres Rêmulo Pastore (já falecido) e Jadson Oliveira; e os fotógrafos Manu Dias (hoje na Agecom) e Xando Pereira.

  Salvo melhor juizo, eu e Manu acompanhamos Waldir até a TV Itapoan quando o candidato deu uma entrevista às 7h30min e falou sobre a decisão do TRE em suspender a propaganda do governo na TV, a pedido do PMDB, pois, segundo o candidato "os gastos já atingem Cz$60 milhões".

  Nossa programação incluia uma viagem a Boquira, Oliveira dos Brejinhos, Ibipitanga e Brotas de Macaúbas. O dia político de Waldir começava cedo e ia, às vezes, até a madrugada do dia seguinte, em comícios nas praças. Era uma coisa impressionante: o povo ficava aguardando o candidato até às madrugadas, como se fosse um "messias".

  Waldir já tinha sido avisado da morte de Mãe Menininha e, embora não fosse ligado ao povo-de-santo no plano religioso, seria imprescindível uma visita ao terreiro do Gantois (quase ao lado da TV Itapoan), onde o corpo estava sendo velado. Quando terminou a entrevista, nos aguardava no pátio da TV, Ordep Serra, professor da UFBA vinculado ao Terreiro da Casa Branca, o qual levou Waldir para fazer os cumprimentos à familia Gantois.

  Ao chegar no terreiro do Gantois havia um silêncio profundo no local e Waldir cumprimentou as filhas de Menininha, Cleusa e Carmen e postou-se ao lado do caixão por alguns minutos, em sinal de reverência.

  Ao sair do Terreiro, na altura do portão da TV Bandeirantes, Waldir encontra-se com Josaphat Marinho, o qual estava acompanhado do ex-governador Lomanto Jr e Edvaldo Brito.

  Cumprimentam-se com um aperto de mão. Era a segunda vez que isso acontecia durante a campanha. Josaphat, que era agnóstico e também não tinha vínculos com o povo-de-santo postou-se ao lado do caixão de Menininha, e, em gesto idêntico ao de Waldir, reverenciou a mãe de santo.

  "Eu sou apenas isso que o povo pensa. Nasci de uma mulher e de um homem. Quem nasce na Bahia não tem sol, não tem vento que tire a magia, porque a Bahia, embora não sendo a África, é um pedaço de fé". Foi a frase que consegui captar da sabedoria de Menininha e escrevi na Tribuna da Bahia, há 25 anos, quando ela faleceu. E, hoje repito aqui.

   A fé na política tem também um pouco de magia e coube a Menininha levar um pouco de paz a campanha entre Waldir e Josaphat.
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   * Em tempo: Manu depois presenteou-me com uma foto fazendo minha contemplação ao lado do corpo de Menininha.