Colunistas / Miudinhas
Tasso Franco

IRRLA3UFER e o conceito de turmas do mau e do bem

Estupento e visceral filme
05/08/2017 às 17:38
 IRRLA3UFER, dirigido e roteirizado por Moritz Draheim , Alemanha, 2015, Tinha um baita trauma quando meu pai falava que era da "turma do mau". Garoto católico, com direito a primeira comunhão e tudo o mais, não entendia quando ele falava para mim isso com um sorriso enigmático entre as bochechas cobertas por sua barba longa. 

  Já minha mãe dizia, todo dia, que era da "turma do bem". Aos oito anos de idade criei uma imagem de um certo monstro por parte do meu pai por ele ser da turma do mau. Na adolescência meus pais se separaram e fiquei mais distante ainda dele, de modo que ele já morreu e não conseguimos nos aproximar-nos da forma que poderíamos, ou não poderíamos mesmo, vai saber essas coisas de carma. 
   
  Fato é que hoje sinto uma  enorme falta sua após sete anos de sua ida ao além. Dizem que sete anos é um sinal de fechamento de algum ciclo, e eu meio que sinto isso, só não descobrir qual ciclo é. Ainda sobre o tema paternidade, hoje sei que sou da turma do mau, isto é, mais parecido com meu saudoso pai do que da minha mãe. 

   Pois bem, metáforas a parte esse filme fez-me indagar estas questões da minha formação como humano, assim como pode instigar a você que lê, afinal dentro de nós existem espaços para vários nossos lados “bons” e “maus”, e provavelmente os dois juntos atracando-se entre si a todo instante. 

   O que na real sabemos é somos complexos por natureza, e isso a maioria não sabe, infelizmente. A todo o momento fazemos, ou pensamos,  coisas extraordinárias e ordinárias, alias às pessoas são interessantes por isso mesmo: por serem "Mané" e "Pelé", no melhor sentido das comparações , até porque prefiro o Garrincha. 

   Trocadilhos “propositórios” à parte, adentramos no estupendo, forte e visceral filme alemão, que tem como personagem principal um adolescente que trabalhava em um Lava-Jato ( não esse da policia federal, mas um verdadeiro), e como antagonista tínhamos um vulgo amigo seu, em contrapartida. 

   Ao primeiro olhar classificaríamos tais personagens como o primeiro o "do bem" e o segundo, o antagonista, como um super gordo "do mau", porém como carregamos conosco essas naturezas opostas, o filme dribla-nos também, de modo que não conseguimos mais ver quem é o vilão e quem é o mocinho na obra fílmica. 

   Entra, então, na trama uma terceira personagem: uma garota viciada em heroína e namorada do antagonista gordão e perverso, e a moça muda toda a lógica dos destinos de quem é mau e quem é bom. Sim, existe por parte da personalidade do antagonista um lado sádico, escroto, e talvez por isso, ele torne-se até mais interessante do que o vulgo trabalhador, o protagonista lavador de carros fedorentos, que todos os dias é obrigado a limpar espermatozoides perdidos em bancos ainda com a energia e cheiro de uma transa rápida e recente. 

   Talvez por isso, ou seja, pelo seu lavoro é que nosso mocinho fica tão a mercê psicologicamente da atuação do antagonista, este doando, inteligentemente, seu ombro gordo para colocar à sofrida cabeça do seu amigo  após mais um dia perverso de carros lavados. 

   Filme de produção independente muito rico em mínimos detalhes, estes que são os responsáveis a fazermos pensar e refletir à bessa: ótima pedida pra fugir dos filmes clichês e colocar os nossos “ticos e tecos” para funcionarem.