Colunistas / Literatura
Rosa de Lima

SOBRE A MORTE E O MORRER, ELISABETH KUBLER-ROSS

Livro chocante e que merece ser lido sobretudo por profissionais da área de saúde
16/12/2021 às 18:34
     A morte é um dos temas mais explorados na literatura, quer seja na ficção em romances, na poesia, na prosa, novelas, em crônicas ou ensaios. E são milhões de citações e inspirações diante desse tema, um dos mais famosos enredos do mundo é a peça dramática "Romeu e Julieta" escrita entre 1591 e 1595, nos primórdios da carreira literária de William Shakespeare, sobre dois adolescentes cuja morte acaba unindo suas famílias, outrora em pé de guerra. "A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água" novela do escritor Jorge Amado, outro exemplo. E mais: "A Morte de Ivan Ilitch" novela de Liev Tolstói, publicado em 1886, considerada uma das obras-primas da literatura.

  O que vamos comentar, hoje, não está relacionado ao campo da ficção. Trata-se de um ensaio realista escrito pela psiquiatra suiça Elisabeth Kubler-Ross intitulado "Sobre a morte e o morrer" (Wmfmartins fontes, 296 páginas, tradução Paulo Menezes, 6ª tiragem 2021, 1ª edição, 1981, R$37,91 nos portais) onde enfoca uma análise comportamental de pacientes em estado terminal diante da morte. Trata-se de um livro que, embora não seja didático, é utilizado para embasar culturas de quem cursa psiquiatria, enfermagem, fisioterapia e psicologia.

  Mas, obviamente, que se abre ao grande público porque esse tema da forma que é abordado por Kubler-Ross interessa a milhões de pessoas no planeta, quer seja aqueles que têm familiares nessa condição terminal, quer porque o tema, em sí, uma abordagem da morte a partir de depoimentos de pessoas que estão próximas dela, e 100% morrem - milagres na medicina não existem - chama muito a atenção.

  Uma coisa é você apreciar o drama shakesperiano envolvendo Julieta, filha única dos Capuleto; e Romeu, filho único dos Montecchio; ou as mortes ámadianas de Berro D'Água; e outra coisa completamente diferente é ler depoimentos de pacientes em estado terminal, reais, dados a Kubler-Ross - às vezes ela estava acompanhada do capelão dos hospitais, em Chicago, onde morava e organizou os estudos sobre a morte, que são chocantes e levam os leitores a um envolvimento maior, em sua própria personalidade, entendendo que um dos casos narrados poderá ser o seu. 

  Trata-se, pois, de um livro de leitura pouco agradável, pesado, não recomendável aqueles que passam por problemas de saúde, porém, realístico, emblemático, expondo a vida como ela é e se apresenta, no seu final com o nome de morte, para milhões de pessoas.

 Kubler-Ross, que faleceu em agosto de 2044, narra as dificuldades em tomar depoimentos de pessoas no estado terminal, as técnicas que utilizou, expõe as mazelas da enfermagem e dos profissionais médicos no atendimento a esses pacientes, em alguns casos menosprezando-os, as relações com as familias muitas das quais abandonam seus entes queridos nos hospitais, tudo isso a partir de depoimentos que ela tomou dos próprios pacientes e de sua experiência clínica como psiquiatra.

  Para uma melhor compreensão dos leitores e ordenamento das histórias a autora dividiu o livro em 7 capitulos, 5 dos quais ela classificou atitudes diante da morte e do morre - os temores da morte - e os estágio que conseguiu entender: da negação e isolamento; a raiva; a barganha; a depressão; a aceitação. Alguns desses estágios estão relacionados uns com os outros na medida em que os pacientes vão tomando conhecimento mais profundo das doenças que têm e da perda das forças. Mas, há aqueles que podem morrer no estágio da depressão ou da raiva sem passar pela aceitação da morte. Assim como existem os que aceitam a morte como ela é sem passar pelos estágios iniciais, embora, esses casos sejam mais raros.

  - Quando o paciente em fase terminal não pode mais negar sua doença, quando é forçado a submeter-se a mais de uma cirurgia depois de hospitalizado e torna-se mais fraco, não pode esquecer a doença, comenta Kubler-Ross, o que significa dizer que a fase inicial da negação, e depois o isolamento, a raiva até a barganha deixam de existir. No inicio, a maioria dos pacientes, pelos depoimentos, nega a doença e entende a doença como algo sem muito perigo. E a medicina, às vezes, atrapalha esse entendimento na medida em que a ciência  - em alguns casos - não sabe se o paciente poderá entrar em estado terminal.  

  Por fim, nos capitulos derradeiros a psiquiatra trata dos temas - a esperança, a familia do paciente, reações no meio científico aos seminários que desenvolvia nos Estados Unidos sobre o tema e a terapia - entra muito a psicologia - com os doentes em fase terminal.

  A esperança - é incrível isso - é a última que morre e permeia todos os estágios entre a negação e a aceitação e mesmo aqueles que admitem a aceitação com mais tempo, aceitam a morte até como uma missão divina por suas religioões ou pela espíritualidade só perdem a esperança quando a mente não responde mais aos impulsos.