Colunistas / Literatura
Rosa de Lima

"NO RASTRO DAS ALPERCATAS DO CONSELHEIRO" É UMA BOA COLETÂNEA

Interessante o livro de Oleone Coelho Fontes
10/06/2012 às 08:04
Foto: BJÁ
No Rastro das Alpercatas do Conselheiro, de Oleone Coelho Fontes, 395 páginas
  Os temas a guerra de Canudos e a trajetória de Antonio Conselheiro são inesgotáveis. Transformaram-se ao longo desses pouco mais de cem anos, o movimento aconteceu no final do século XIX no interior da Bahia, num multimidia e sua abordagem deixou de ser apenas literária desde o clássico "Os Sertões", de Euclides da Cunha, e chegou ao cinema, ao teatro, a televisão, a dança, ao video, ao pôster poema, a música e assim por diante.

  Aliás, bom que seja assim essa descoberta tardia brasileira, muito praticada em outros país, tendo a literatura como berço matriz dessa inspiração e produção.

   Recentemente, li "No Rastro das Alpercatas do Conselheiro", uma coletânea de textols conselheiristas e euclidianos, do escritor Oleone Coelho Fontes, apaixonado por esta saga, o qual nos revela como diferencial do que se destaca em outras obras, o fato de trazer à baila personagens pouco conhecidos das narrativas sobre a "Guerra de Canudos"  - os coiteiros, os guias, os coronéis latifundiários dos sertões da Bahia que abasteceram o Exército de víveres - histórias de bastidores e outras vivências de quem trilha pela região do Cumbe há anos. 

   Na pena de Oleone essas narrativas são apresentadas como crônicas, bem ao seu estilo intimista, ele que vive pelos caminhos do sertão da Bahia pesquisando, entrevistando personagens, convivendo com outros e participando de encontros acadêmicos e da literatura popular em várias localidades.
 
   E, o que também é importante do ponto de vista conceitual para melhor se entender a repressão ao conselheiro, descrições sobre a situação política na Bahia num periodo muito importante da história do país, a passagem do Império à República, e as forças hegemônicas no estado de Luiz Vianna e José Gonçalves, e o papel de Cícero Dantas Monteiro (Barão de Jeremoabo), este uma figura lendária e que ainda está a merecer uma biografia mais lúcida.

   Editado pela "Ponto e Vírgula Publicações", em 2011, 395 páginas,"No Rastro das Alpercatas do Conselheiro" não tem uma narrativa sequencial lógica, nem aborda profundamente a vida do seu principal personagem, o cearense sebastianista Antônio Conselheiro, pois em se tratando de uma coletânea de textos, o autor retalha o episódio ao seu modo, com pinceladas nas expedições, nas personalidades do conselheiro-mor e dos comandantes das expedições.

   E traz à luz, personagens como o João Evangelista Pereira de Melo, o coronel Janjão, a quem o conselheiro encomendou a madeira para seus templos no arraiá de Canudos, despachada a partir de Juazeiro e um dos móveis da guerra, visto que Janjão  não teria honrado o compromisso total da compra-e-venda e o conselheiro ameaçou invadir Juazeiro, daí nascendo os primeiros sinais de noticias da represssão; o papel do coronel João Martins Leitão, de Santaluz, familia influente e fornecedor de alimentos e animais de carga e montarias às tropas republicanas, e assim por diante.

   Oleone vai dos coronéis aos jagunços; dos guerrilheiros aos guias; dos soldados aos oficiais do Exército e da Policia Militar da Bahia; dos historiadores aos romancistas que abordaram o tema; dos descendentes de personalidades que participam da guerra;  e tem uma predileção justíssima em referência ao professor José Calazans Brandão da Silva, da UFBA, que produziu pesquisas reveladoras sobre os acontecidos em Canudos, colocando a história no seu devido lugar.

   Foram esses literatos, os historiadores, os jornalistas, os escritos da guerra e personagens como Oleone que ajudaram e ainda ajudam a entender a "Guerra de Canudos" e como se processou esse movimento messiânico revolucionário, único na história nacional em sua dimensão, e que ainda tem espaços para novos estudos, romances e peças literárias de quem se interessa pelo tema.

   Diria que um estudo detalhado sobre a participação da PM da Bahia com seus personagens e as questões politicas que afligiam o governador Luiz Vianna ainda não se produziu. Oleone com sua coletânea, dá uma boa contribuição para se conhecer um pouco mais desse episódio, lá no oco do pau, falando de João Cururu, pedro Sinzig, Antônio de Isabel e Ioiô da Professora.