Política

PROTESTOS LIBANO: JÁ FALTA CARNE E PÃO DIANTE GRAVE CRISE ECONÔMICA

A crise econômica no Libano está levando a conflitos nas ruas
Tasso Franco , da redação em Salvador | 05/07/2020 às 15:51
Libano em crise
Foto:
  BEIRUTE: Manifestantes fecharam várias estradas principais na capital libanesa Beirute em meio à crescente raiva, quando a moeda atingiu um novo recorde no mercado negro, os cortes de eletricidade aumentaram e o governo aumentou o preço do pão pela primeira vez em mais de uma década .

Refletindo sobre a deterioração das condições no Líbano e o aumento acentuado dos preços dos alimentos, o exército libanês parou de oferecer carne em refeições dadas aos soldados em serviço porque os militares "estão sofrendo de condições econômicas difíceis", informou a Agência Nacional de Notícias.

O pequeno país de 5 milhões de pessoas e mais de um milhão de refugiados sírios está passando por um colapso econômico sem precedentes, que viu a moeda local perder mais de 80% de seu valor em relação ao dólar americano nos últimos meses, em meio a preços elevados e agitação popular.

O Líbano, um dos países mais endividados do mundo, pediu ao Fundo Monetário Internacional um resgate depois de deixar de pagar sua dívida soberana, mas as negociações parecem estar vacilando, com quase nenhum progresso feito após mais de 15 sessões.

Preço da carne vermelha e do frango triplicou e muitas famílias nem sequer têm dinheiro para comprar pão ou vegetais. Desespero sente-se nas ruas do Líbano, com a classe política a ser posta em causa.Na gastronomia libanesa, a carne vermelha assume um lugar privilegiado, desde o tradicional kibbeh (pastéis de bulgur recheados com carne) aos pratos de cordeiro assado, assim como a carne de frango, utilizada em pratos como o jawaneh (asas marinadas em alho) ou o farrouj (frango grelhado com sumo de limão). No entanto, para milhões de libaneses, o acesso a proteína é, hoje em dia, um luxo acessível a poucos.

O Líbano viveu uma segunda noite de protestos violentos devido à profunda crise económica, depois de a libra libanesa sofrer uma forte queda em relação ao dólar na quinta-feira apesar das medidas financeiras anunciadas na sexta-feira pelo Governo para equilibrar o câmbio.

Em Beirute, na noite de sexta-feira para sábado, os manifestantes queimaram pneus e cortaram estradas. Houve confrontos com as forças de segurança e pelo menos 11 pessoas ficaram feridas em duas partes da cidade, segundo a Cruz Vermelha Libanesa.

Os protestos, iniciados na quinta-feira após a taxa de câmbio do mercado negro subir acima de 5000 libras libanesas para um dólar, continuaram pela segunda noite consecutiva, apesar das medidas anunciadas na sexta-feira pelo primeiro-ministro, Hasan Diab, para enfrentar a situação.

“No nosso país há clientelismo, pobreza, alto índice de analfabetismo e desemprego, temos que lembrar que essas pessoas conseguem armas, ecstasy ou qualquer outro tipo de droga com muito mais facilidade do que conseguir dinheiro, comida ou um diploma”, denunciou, numa declarações à agência de notícias EFE, o manifestante Mohammad Draihi.

Draihi, que participou nos protestos na cidade de Trípoli, no Norte do país, disse que as medidas do Governo para impedir a depreciação da libra “não devem nem ser chamadas de decisões”. “Deixámos de acreditar neles há muito tempo”, concluiu.