Política

MEMÓRIA POLITICA 1: Pedro Irujo desafiou ACM em 1990 e leva troco (TF)

Ideia era aproveitar a onda Collor, de renovação, abaixo os marajás, mas a iniciativa não vingou
Tasso Franco , da redação em Salvador | 17/09/2017 às 19:38
Fizemos juntos a campanha politica de Luiz Pedro governador, em 1990
Foto: DIV
  Trabalhei durante 4 anos com Pedro Irujo Yaniz, o empresário basco que morreu esta semana, em Salvador, aos 87 anos de idade. Foi uma relação profissional sem vínculo empregatício, sem carteira assinada, tudo na base da confiança e da palavra. 

   Conheci Pedro nos anos 1980, campanha de Waldir Pires, quando trabalhava para a D&E como assessor de imprensa da campanha do PMDB, em 1986, na ligação imprensa marketing com Geraldo Walter (Geraldão) e Cláudio Barreto. Nesta campanha, Pedro integrava o PMDB e lancara seu filho Luiz Pedro como candidato a deputado estadual e, embora fosse empresário dos ramos de transporte e hotelaria, havia adquirido (diz-se que, a pedido de ACM) o espólio dos Diários Associados na Bahia - DN, Rádio Sociedade e TV Itapoan - e colocara um pé no mundo das comunicações.

   Waldir elegeu-se governador e cada um de nós, da comunicação, tomou seu rumo. Os donos da D&E eram Sérgio Amado e Sidney Resende. Entre 1987/88 fui morar em Londres. Geraldão e Cláudio seguiram na D&E até que Sérgio Amado mudou-se para SP diante da debalce que foi o governo Waldir, entregue a Nilo Coelho, em 1988, para ser candidato a presidente da República. Acabou sendo candidato a vice de Ulysses e perdeu o governo e o sonho de ser presidente. 

   Pedro encostou na campanha vitoriosa de Fernando Collor de Mello, PRN, 1989, então um fenômeno com seu marketing abaixo os marajás. E, de resto elegeu-se deputado federal pelo PRN e mais Aroldo Cedraz e Marcos Medrado.

   Quando voltei de Londres fui ser editor de Politica de A Tarde. Em meados dos anos 1990, Geraldo Walter me liga e propõe fazermos a campanha de Luiz Pedro, o filho de Pedro, a governador da Bahia. Tomei um susto porque Luiz não estava preparado sequer para fazer a campanha, quanto mais para ser governador. 

   Pedro, no entanto, havia eleito pelo PMDB o radialista Fernando José, da Rádio Sociedade, prefeito da capital, em 1988, e entendia que se o marketing politico desse uma burilada em LP este poderia 'acontecer' com a proposta de uma cara nova para governador. Virgildásio Sena, que representava a velha politica, fora abatido eleitoralmente por Fernando Jose.

    Respondei para Geraldão: - Nós vamos entrar numa aventura se aceitarmos.

   Geraldão respondeu: - É uma aposta. Agora, Pedro é destemido e tem dinheiro para bancar a campanha. É pegar ou largar.

   - Vou pensar e tenho Jorge Calmon (diretor de A Tarde) para dar satisfação, pois, amparou-me quando voltei de Londres, comentei. 

   - O homem quer um encontro com a gente no Baby Beef na segunda e venha logo com uma proposta, frisou.

   - Mas eu sequer conheço ele, respondi.

   - Já passei todas as informações sobre seu trabalho para ele, a campanha de Waldir, e agora é v fazer uma proposta, comentou um resoluto Geraldão.

    No dia do encontro que aconteceu no quiosque da residência de Pedro, no Horto Florestal, apresentei uma proposta alta, o triplo ou mais do que ganhava em A Tarde. Conversa vai, conversa vem; Pedro falou: 
   
   - Eu topo sua proposta. Quando começamos.

   Geraldão me olhava com a cara de quem havia feito um pacto com Irujo e eu então pedi 30 dias para dar o aviso prévio em A Tarde.

   Fizemos a campanha mais louca que se pode imaginar. Luiz Pedro saiu na frente como favorito até o dia que ACM lançou seu nome. 

   Naquela época, era permitido a realização de shows nos comícios e Pedro contratou de Amado Batista ao forrozeiro Virgilio e outras estrelas. Fizemos dezenas de comícios pelo interior com multidões nas praças, óbvio, mais para ver os show do que os candidato. 

   Para o marketng até funcionava como imagens de TV mas era tudo artificial. A gente sabia que as pessoas estavam nas praças não para ver o candidaro e sim os shows. 

   A campanha estava bastante politizada ACM enfrentando Roberto Santos, PMDB; Lidice da Mata, PCdoB (chapa Rosa Choque com Salete e Bete para o Senado, a qual quase leva a eleição para o segundo turno); e Sérgio Gabrielli, PT. 

   O tarimbado político baiano (ACM) que apoiaria Josaphat Marinho, em 1986, e perdera o governo para Waldir aproveitava o desgaste do PMDB com a dessarumação Waldir/Nilo, a frágil candidatura Roberto Santos e esquentava a acampanha politica exatamente em cima desse contexto, na sequência do mote 'Acorda Waldir'.

   Vendo que nossa barco afundava a cada dia, Luiz Pedro não tinha a capacidade politica de Lidice e Gabrielli, restava-nos o marketing e Pedro incetivávanos que fôssemos para a goela de ACM. 

   Assim nasceu uma paródia do samba de Assis Valente (Camisa Listrada) tendo como protagonista uma figura que representava ACM (o politico tinha como marca usar camisas listradas) e pondo no enredo o rouba mas faz. Ou seja, chamava o 'velho' (assim era o apelido de ACM) de ladrão.

   Como troco a essa peça, além de um processo na Justiça Eleitoral contra Luiz Pedro (nós, do marketing escapamos), a Propeg, agência que cuidava da campanha de ACM criou um personagem chamado 'sorvetão' com a imagem de Luiz Pedro parodiando que ele era débil e mostrando (no filmete) que ele ao invés de levar o sorvete à boca batia-o na teste.

   A esposa de Pedro, Irene, uma paulistana de Santos, ficou chocada. A familia toda. O camisa listrada foi apimentado mais ainda. Pedro era o incentivador. Dizia que tinha sangue basco, revolucionário, e realizamos uma das mais violentas campanhas contra ACM na TV, no rádio e nos palanques.

   Resumo da ópera: ACM foi eleito com 50.71% dos votos, no primeiro turno; Roberto Santos teve 32.01% dos votos; Lidice, 9.53%; Luiz Pedro, 3.49% (113.313 votos); e Gabrielli, 3.46%. (Waldir Pires foi eleito deputado federal mais votado da Bahia com 140 mil votos)

   Luiz Pedro foi condenado pela Justiça Eleitoral, nada grave, mas, ficou sem poder sair do país por um tempo. 

   Depois dessa campanha, Luiz deixou a politica e Pedro seguiu nela. A essa altura também perdera o controle da Prefeitura, agora, governado com mais autonomia por Fernando José que deixara o vínculo de despachos com o basco. Para isso, muito contribuiu o então secetário de imprensa, Fernando Escariz.

   Mais uma vez desfizemos a equipe, cada qual para seu lado, Geraldo Walter foi embora para SP onde montou sua agência de publicidade; Cláudio Barreto - salvo engano - associou-se a Sidney Resende na DS2000. 

   E eu recebi uma proposta de Pedro para continuar com ele, como seu assessor para assuntos de comunicação, pois, estava muito magoado com a midia impressa da Bahia, ele e seu filho receberam pesadas criticas de A Tarde e do Correio da Bahia, e pretendia montar um jonral na capital reforçando o Sistema Nordeste de Comuncação - Rádio Sociedade, FM Itapoan, TV Itapoan, duas rádios em Feira, o Feira Hoje (jornal) e emissoras em Ipiaú e no Recôncavo.

    Quando se passaram 15 a 20 dias do término da campanha convidou-me para comer uma spaghetti à moda basca (nunca gostou de ser chamado espanhol. Era natural de Pamplona,que chamava capital da República Basca/Vasca e onde sua familia, os Irujos, faziam politica) com sua familia e lá fui eu. 

    Antes do almoço, servido no quiosque, ele tinha um escritório neste local, pegou-me pelo braço e disse: - Yo tengo un sangre revolucionario. Bamos seguir trabajando juntos. 

    A macarronada com frango assado e chouriços foi servida por ele, a todos. Primeiro a esposa, os filhos, eu e Diego, o homem que cuidava de suas finanças. Só depois colocou uma porção em seu prato.

    O primeiro ato deste segundo capítulo foi organizar (a inorganizável assessoria parlamentar de Pedro), mudar o jornal Feira Hoje de tabloide para stander, fazer sua campanha a prefeito de Salvador, em 1992, e montar o Bahia Hoje, na capital. Vamos contar isso em novos capítulos.