Política

Rios mortos e fechamento CCB são debatidos na Câmara de Salvador

Debates reuniram especialistas da área e cobraras respostas dos governos municipal e estadual
Limiro Besnosik , da redação em Salvador | 22/03/2017 às 19:14
Sessões especiais: Dia da Água e CCB
Foto: Reginaldo Ipê

A situação dos rios de Salvador e o fechamento do Centro de Convenções da Bahia (CCB) estiveram em debate nesta quarta-feira, 22, na Câmara de Salvador. O primeiro tema foi discutido numa sessão regimental comemorativa pelo Dia Mundial da Água, numa iniciativa da vereadora Marta Rodrigues.

Segundo ela “é grave a situação dos rios da nossa cidade e muitos viraram esgoto ou foram tamponados. “Enquanto a política internacional aponta para o (des) tamponamento de rios e córregos, em Salvador a solução encontrada para essa problemática está na contramão do desenvolvimento sustentável, que além de não solucionar leva ao desaparecimento da paisagem de inúmeros rios e córregos”.

Como solução da questão, defendeu uma política urbano-ambiental em Salvador. Para a petista “o processo de drenagem não deve ser confundido com esgoto, contribuindo para uma ‘reciclagem’ dos rios adequando-os às paisagens urbanas”.

Em sua opinião as políticas públicas devem perpassar por ações de participação junto à sociedade civil e universidades. O tema, acredita, “deve ser tratado como uma prioridade na agenda do Executivo e do Legislativo do Município, indo na contramão de ações que busquem ‘maquiar’ a vida urbana”.

Salvar o Rio do Cobre

O encontro teve duas mesas de trabalho. Na primeira, de abertura, o ex-vereador Gilmar Santiago (PT) pediu o lançamento de uma campanha em defesa do Rio do Cobre, no Parque São Bartolomeu, considerado pelo militante do saneamento como “único rio vivo da cidade”.

Conforme Pedro Romildo dos Santos, da Confederação Nacional dos Urbanitários, “o Dia Mundial da Água é um momento de luta” e serve para “adotar os rios da cidade”. Já Danilo Assunção, secretário de Meio Ambiente da CUT/BA, apontou para uma tentativa de privatizar a água e o saneamento.

“A Igreja, não é de hoje, se preocupa com o meio ambiente”, afirmou o padre Zé Carlos. O religioso católico propôs, em tom filosófico, uma nova tomada de consciência: “O ser humano está em harmonia com o bioma”. Concordando com a vereadora Marta Rodrigues, o engenheiro Renato Cunha, coordenador do Grupo Ambientalista da Bahia (Gamba), lamentou a degradação dos rios da cidade, virando esgoto. Também defendeu os mananciais hídricos da cidade o deputado estadual Joseildo Ramos (PT).

Centro de Convenções

A interdição do CCB foi o assunto da audiência pública promovida por Kiki Bispo (PTB), que cobrou um posicionamento do governo estadual: “É preciso ouvir os representantes do segmento. Eles têm a expertise. Qualquer decisão unilateral não será acertada”.

Ele não concorda com a proposta de construir o novo equipamento no Comércio: “É complicado do ponto de vista da mobilidade urbana. Quando um navio aporta aqui, o trânsito já fica inviável. Considere, então, como ficaria durante a realização de um evento de grande porte que envolve carga, descarga, transporte de equipamentos e grande fluxo de pessoas. Essas ruas estreitas do Comércio não comportam isso”.

Segundo dados apresentados na audiência, Salvador chegou a ser, em 2011, o terceiro destino da América Latina em atração de congressos e eventos. Desde 2015, o espaço está fechado e passava por uma reforma, quando, em setembro do ano passado, ocorreu um desabamento de parte de sua estrutura. O último grande congresso aconteceu em 2013. Desde então, 60 hotéis, sendo 12 de grande porte, e dois mil bares e restaurante deixaram de funcionar na cidade.

O secretário municipal de Turismo, Claudio Tinoco, comentou outros prejuízos. Em 2016, Salvador perdeu 16% do fluxo no aeroporto. A taxa de ocupação nos hotéis manteve uma média de 50% ao longo do ano. “Na baixa estação, os eventos são responsáveis pela manutenção do fluxo no segmento de turismo e serviços que cresceu, sobretudo, para atender a uma demanda criada por esses eventos, a exemplo do parque hoteleiro que surgiu na região da Tancredo Neves”, analisou.

Conforme o vereador licenciado a prefeitura defende a restauração do imóvel localizado no Stiep: “Uma cadeia produtiva associada ao turismo se instalou naquele entorno. São locadoras de automóveis, restaurantes, agências de viagens e escritórios voltados para o receptivo de eventos. Também, no ano passado, aqui na Câmara, quando analisamos o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador (PDDU), garantimos ali uma Zona Urbana Especial por sua vocação para o turismo”.

“Fizemos um levantamento e naquele entorno há mais de R$5 bilhões em investimentos da iniciativa privada, muitos dos quais feitos por meio de financiamento de bancos. Não se pode agora, de uma hora para outra, ‘punir’ esses empresários que acreditaram na política do Estado. Esses negócios foram pensados e viabilizados por conta da localização do Centro de Convenções”, reforçou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Bahia (ABIH), Glicério Lemos.

O presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico e Turismo da Câmara, o vereador Ricardo Almeida (PSC), também considerou inviável a mudança de local e defendeu a reabertura com maior agilidade. “Perdemos o equipamento e, consequentemente, a geração de renda, atração de novos equipamentos e o acesso facilitado ao conhecimento, pois deixamos de sediar importantes congressos e eventos aqui”, disse Ricardo Almeida.

Também participaram do debate o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FeBHa), Sílvio Pessoa; o representante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA), Leonel Borba; e o presidente do Conselho Baiano de Turismo (CBTur), Roberto Duran. Estiveram presentes à audiência pública os vereadores Henrique Carballal (PV), Téo Senna (PHS) e Joceval Rodrigues (PPS).