Política

ELEIÇÕES 2014: Quem ganhou e quem perdeu na Bahia, balanço geral (TF)

Uma das poucas novidades que emerge desse cenário na Bahia é Eliana Calmon, a qual pode seguir adiante na trajetória política
Tasso Franco , da redação em Salvador | 30/10/2014 às 19:28
Os dois grandes vencedores na Bahia: Jaques Wagner e Rui Costa
Foto: GB
MIUDINHAS GLOBAIS:

   1. Na série de comentários que estamos fazendo sobre os resultados das últimas eleições na Bahia e no Brasil mostramos que eleição não é como jogo de futebol que, numa partida, pode dar empate. Isso não existe. Os pleitos se assemelham a jogos olímpicos: há sempre um campeão individual ou por equipes; um vice (perdedor), alguém que fica em terceiro lugar; e até aqueles que são contemplados com medalhas de honra como foi o caso do maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima, prejudicado nos Jogos de Atenas (2004) por um maluco que o impediu de ganhar o ouro, e foi agraciado com a medadlha Pierre de Coubertain, comenda de cunho humanistico conferido pelo COI.

   2. Então, nos reportando ao caso da Bahia, objeto principal do nosso site, o grande vencedor das eleições foi o governador Jaques Wagner (PT), o qual como já dissemos aqui (veja na editoria de Politica) fez "barba, cabelo e bigode", elegendo Rui Costa (PT) governador e João Leão (PP) vice; Otto Alencar (PSD), senador; e dando a presidente Dilma, a maior votação do país, no 2º turno.

   3. Wagner, portanto, sai das eleições fortalecido, vai ser ministro do 2º governo Dilma e, provavelmente, candidato a presidência da República, em 2018, a depender da reforma política e de Lula.

   4. Em segundo lugar, entre os vencedores, também medalha de ouro,  está Rui Costa. Tido por alguns colunistas baianos como um "poste" palavra pejorativa usada no meio político para designar alguém sem expressão (o colunista Antonio Risério, A Tarde, foi censurado por este jornal e deixou de ser colaborador diante esse tipo de critica a Rui e outras a Wagner e a Dilma), o candidato petista, hoje, governador eleito, também fez sua parte, suou a camisa, trabalhou muito e tem seus méritos pessoais.

   5. É fato, no entanto, que a trajetória política de Rui, ele que começou na luta sindical no Pólo Petroquímico de Camaçari e depois chegou a Câmara de Vereadores de Salvador, tem, a partir daí, o dedo de Wagner, o qual o alavancou como candidato a deputado federal, em 2006; reeleito como o mais votado do PT, em 2010, passando, então, a ser o articulador político do governo e chefe da Casa Civil. 

   6. A trajetória de Rui no Congresso Nacional é pequena. Entre 2010 e 2014 ficou no governo da Bahia sendo treinado por Wagner para ser governador, em 2015. Só quem não viu isso foi porque não quis enxergar, inclusive alguns petistas, como Caetano, Pinheiro e Gabrielli.

   7. Caberá a Rui, a partir de agora, fazer a sua trajetória política sem esse amparo, até porque, ainda que Wagner venha a ser ministro e certamente ajudará muito seu governo, as decisões no estado terão que ser tomadas por ele. E aí estará diante de sua afirmação. Ademais, a depender da reforma política, é o candidato natural à reeleição, em 2018.

   8. O terceiro vitorioso foi Otto Alencar (PSD). Político com trajetória no seio do "carlismo" (de ACM), Otto também tem seu brilho próprio e valores como articulador político municipalista. Não foi à toa que Wagner tirou-o do TCM, onde poderia ter se aposentado, para voltar ao campo político e ser seu vice-governador, 2º mandato. Precisava de Otto exatamente para neutralizar as antigas bases "carlistas" no interior, cooptando-as. 

   9. Para tanto, colocou Otto como secretário de Infra pilotando o programa de recuperação e novas estradas, especialmente nesses redutos, os antigos "currais" do "carlismo". Êxito total na missão. Recuperou várias estradas, construiu outras e elegeu-se senador da República. Teve uma eleição dura contra Geddel, até determinado momento da campanha. Mas, quando Rui passou Souto, a tradição política baiana, há 28 anos, dá conta de que, governador eleito, elege senador e Otto carimbou seu passaporte para Brasília.

   10. Otto será fiel a Rui até a alma, como foi com Wagner. Tem tradição de fidelidade desde o "carlismo" e numa única vez insinuou ser candidato a governador e ACM mandou cancelar um churrasco que havia programado com prefeitos na antiga Churrascaria Alex. Vai ficar 8 anos no Senado e chances de ser governador (veja lá) só em 2022, se ainda pensa nisso.

   11. Depois de Otto, outro vencedor foi João Leão (PP). Esta foi uma aliança que Wagner construiu para vencer as eleições. O PP é o terceiro partido mais importante de sua coligação. Wagner colocou Mario Negromonte (ex-ministro, ex-deputado, com acusações de má conduta em sua trajetória) no TCM, acalmando suas pretensões, e Leão na vice de Rui, contrariando o presidente da Assembleia, Marcelo Nilo (PDT), o qual também gostaria de ter sido o vice. 

   12. Leão, de quebra, colocou seu filho Cacá para herdar seus votos, preterindo Roberto Muniz; e Negromonte, de sua parte, também colocou o filho para herdar seus votos e a paz celestial reinou no PP dando uma enxurrada de votos a Rui.

  13. "Leão vai ser um problema para Rui", dizem alguns politicos da oposição. Eu não acredito. Claro que Leão não vai querer ser apenas vice-governador que é uma função figurativa. E, certamente Rui vai contemplá-lo com alguma outra missão, assim como Wagner fez com Otto. A dimensão dessa missão é onde se encontra o x da questão. 

   14. Diria que, pra Leão, o futuro a Deus pertence. Chegou ao ponto máximo de sua carreira política. Adiante, só governador. Na altura conjuntura, até 2022, tá dificil. Por uma questão de honra política, talvez esteja em seus planos familiares a Prefeitura de Lauro de Freitas, onde há uma dissidência com o prefeito Márcio Paiva, também do PP.

   15. Na contabilidade de Wagner ainda estão a eleição da maior bancada para a Câmara dos Deputados e para a Assembleia Legislativa. 

   16. Quem poderia ser um destaque dessas bancadas, um fenômeno eleitoral? Não existiu. Todos seguirão a cartilha de Wagner, até mesmo Nelson Pelegrino, que ainda sonha ser prefeito de Salvador; e Luiz Caetano, o maior votado do PT, que sonha ser governador do estado. Com brilho próprio, talvez, só Marcelo Nilo (PDT). O PCdoB, principal aliado do PT, hoje, envelheceu. Os parlamentares estão de cabelos brancos. 

   17. No outro lado, no grupo dos perdedores, digamos assim, a medalha de prata, quem saiu mais machucado dessas eleições foi o prefeito ACM Neto. Neto foi o articulador para emplacar a candidatura de Paulo Souto, o qual ainda que calado, sem manifestar esse interesse de público, disputou o mesmo lugar com Geddel Vieira Lima (PMDB). Quando parecia que Geddel seria o nome, pois, estava mais disposto, era mais competitivo, mais impactante, deu Souto. 

   18. O argumento que se disse à época, pelo menos no meio político, foi de que a base "carlista" do interior receberia bem o nome de Souto, o mesmo não acontecendo se fosse com Geddel, enquanto a base interiorana do PMDB não fazia restrições a Souto. Inverteu-se uma chapa que poderia ser mais competiviva contra Rui/Otto. Deu Souto/Geddel.

    19. Em meados de agosto, Wagner convidou 4 blogueiros de Salvador considerados os mais importantes para uma conversa e abriu o encontro assim: "Vou ganhar esta eleição fácil. A chapa da oposição está invertida. Deveria ser Geddel e Souto e não o contrário". Wagner afirmou que, ganharia com qualquer dos dois, mas, com Geddel seria mais dificil. E, de fato, ganhou fácil. (Quem quiser conferir veja em Cara a Cara, no BJÁ, a entrevista de Wagner).

   20. Na vice, ao contrário do que aconteceu com Wagner e o PP, partido com boa densidade eleitoral no estado, optou-se por Joaci Góes, político aposentado do PSDB, em detrimento de João Gualberto, o qual acabou se elegendo deputado federal. O PSDB, como se sabe, é um partido urbano e quase nanico na Bahia.

   21. Ademais, Neto foi uma espécie de coordenador da campanha de Aécio Neves no Nordeste. Foi em Salvador, com Neto, que Aécio lançou seu plano de governo para o NE. Nada deu certo. Dilma ganhou de Aécio em Salvador no primeiro e no segundo turnos e Neto, hoje, vai ter que repensar seu governo, pois, sua reeleição em 2016 (a depender da reforma eleitoral) será uma guerra e ele terá imensas dificuldades.

   22. Imaginar que Rui vai ajudar Neto! Nem pensar. Institucionalmente, tudo bem. Agora, no que depender do PT, a ACM Neto só desprezo, desconhecimento. Desde o governo Wagner já é assim e sequer a cota do Carnaval de 2014 foi repassada a PMS. Portanto, os grandes projetos pensados por Neto para a capital, esqueça. Se alguns houver serão do governo do estado ou com recursos próprios da Prefeitura.

   23. Neto estaria "morto" como se diz na política? Nada. A classe média o apoia (vide números para Aécio na última eleição, na capital) e há tempo para descer e subir as ladeiras da periferia. Tem boas chances de ser reeleger, até porque, o PT não tem nome novo (como foi Rui para Wagner) e Pelegrino ainda é o cara.

   24. O segundo perdedor foi Paulo Souto (DEM). Espera-se que, como esta terceira derrota consecutiva para o governo ele desista de candidatar-se a majoritária nas próximas eleições, salvo se for para deputado federal. Aí tem chances. Imaginar que ele vai se aposentar da política, não seria o caso, porque político só se aposenta na tumba, salvo raras exceções como foi o caso de Roberto Santos. Veja que Waldir Pires, outro ex-governador, 88 anos, tá aí como vereador; João Durval como senador; e Lomanto só não está na política em campo devido sua saúde frágil e idade avançada.

   25. O terceiro derrotado foi Geddel Vieira Lima. Lançou-se candidato a governador, disse que não abriria mão nem pro trem, mas, abriu e se deu mal. Há de se dizer que poderia ter resistido e lançado nome próprio, como aconteceu com Lidice, mas, teria pouca chance. Esse filme já tinha acontecido em 2010, ele de um lado; Souto do outro e Wagner nadou de braçada reelegendo-se com facilidade. 

   26. Geddel fez uma campanha errada para senador? Não. Fez o melhor que pode tanto no campo; quanto na TV. A questão é que, a eleição de senador na Bahia, tá atrelada a de governador. Rui ganhou; Otto ganhou. 

   27. O que acontecerá com Geddel daqui pra frente? Ainda é uma incógnita. Ele já postou em seu twitter que dá política não sai e está na planície por desejo dos eleitores. Imaginar que Geddel venha ocupar um cargo no governo Dilma, como já ocupou uma vice-diretoria da Caixa, parece pouco provável. Não adianta especular sobre a futura trajetória política de Geddel. Aí só dando tempo ao tempo.

   28. No PMDB baiano, no entanto, o mais votado deputado federal, Lúcio Vieira Lima, vai emergir como parlamentar de quilate nacional. Podem apostar. Ou seja, Lúcio está na categoria dos perdedores e, ao mesmo tempo, medalha de mérito.

   29. Outro perdedor foi Antonio Imbassahy, líder do PSDB na Câmara, e que poderia ver sua trajetória política nacional crescer bastante se Aécio fosse o presidente. Mas, deu Dilma. Reeleito deputado federal será de bom tamanho se continuar como líder do partido. Imbassahy, no entanto, no plano político, já é uma figura nacional.

   30. Joaci Góes não dá pra comentar porque ele entrou no processo eleitoral como coadjuvante. Certamente vai cuidar dos seus negócios e da literatura.

   31. Emergiu alguém novo na oposição na Bahia que possa ter um destaque especial? Não. O nome mais expressivo ainda é o de ACM Neto. Em segundo, podem apostar, vai ser Lúcio.

   32. A senadora Lidice da Mata (PSB) foi um caso à parte. É a tal medalha Coubertain, de honra ao mérito. Lídice teve a coragem de lançar-se candidata a governadora, mesmo sabendo das imensas dificuldades que teria pela frente. Largou bem, acima de 12% nas intenções de votos, e sua candidatura se desestruturou com a morte de Eduardo Campos. Foi quem mais perdeu com essa tragédia.

   33. No lugar de Eduardo entrou Marina, um balão de vento, e a campanha de Lidice além de passar por dificuldades financeiras foi atropelada na base pelo "trator" da máquina wagneriana. Sua candidatura murchou e sua candidata a vice, Eliana Calmonu, denunciou a fragilidade do PSB e de prefeitos vendidos. Lídice terminou o primeiro turno em terceiro, lá atrás, e como Rui venceu no primeiro, sem a necessidade de um segundo, seu potencial de votos não valeu nada.

   34. Lidice ensaiou um discurso de que manteria sua posição para o futuro sendo uma terceira via na política baiana para acabar com essa dualidade PT/PSDB. Mas, não levou a idéia à frente e apoiou Dilma no segundo turno,  alegando que, jamais, poderia se juntar a ACM Neto, o apoiador de Aécio, diante de fatos pretéritos quando foi prefeita da capital e teria sido perseguida por ACM.

   35. A decisão tomada por Lidice é provável que tenha sido levada em consideração a manutenção de sua bases interioranas. Nunca se sabe. Lídice é ligada ao PSB e sua posição na Bahia dependerá da decisão nacional. Se o PSB for à oposição contra Dilma, ou ela muda de legenda ou vai seguir nesse caminho. E aí, pra navegar na Bahia com essa situação será dificil.

   36. Lídice seria um bom nome como candidata a prefeita de Salvador com o apoio do PT? Isso não existe. Salvo se ele ingressar no PT. Ainda assim, vai bater de testa com Pelegrino.

   37. Na chapa de Lidice surgiu uma boa novidade na política baiana, Eliana Calmon. Se quiser continuar na política, tem futuro.