Política

Câmara Deputados chama ex-dirigentes da Petrobras e dois ministros

Imbassahy espera esclarecimentos de Gabrielli sobre Pasadena e diz que há muitas contradições

Eliana Frazão e G1 , Brasilia | 23/04/2014 às 14:37
Deputado Antonio Imbassahy líder do PSDB
Foto: Ag Câmara
Por iniciativa do líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy, a Comissão de Relações Exteriores da Casa aprovou na manhã desta quarta-feira, 14, requerimento convidando o ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, a prestar esclarecimentos sobre a compra da refinaria de Pasadena, que causou um prejuízo de R$ 2,3 bilhões ao Brasil, e sobre a responsabilidade do Conselho de Administração da Petrobras, que autorizou a compra. À época, a presidente Dilma estava à frente do conselho.

Essa semana, em entrevista a jornais de circulação nacional, Gabrielli disse que a presidente “não pode fugir da responsabilidade dela”.

No entendimento de Imbassahy há muitas contradições entre as explicações do ex-comandante da estatal e o que afirma o governo, que precisam ser esclarecidas. "Gabrielli diz que o negócio era vantajoso. Já Dilma e a presidente da Petrobras, Graça Foster, garantem que não. Os brasileiros, que são os verdadeiros donos da Petrobras e que foram prejudicados com esse negócio suspeito, querem conhecer a verdade. Esperamos que ele atenda a essas expectativas", salientou Imbassahy.

O líder lembra que quanto mais avançam as investigações, mais surgem fatos que inspiram desconfiança, como a recente informação de que a Petrobrás poderia ter desfeito o negócio, reduzindo significativamente os prejuízos, e não o fez. "Isso tudo precisa ficar muito bem expli
cado", emendou.

COMISSÕES
As comissões de Relações Exteriores, Desenvolvimento Econômico e Fiscalização e Controle da Câmara aprovaram nesta quarta-feira (23) convites para que o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli explique aos parlamentares a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).

Além disso, a Comissão de Relações Exteriores também aprovou convites, com a mesma finalidade, ao ex-diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró e aos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral da União).
Por se tratar de convites, os quatro podem optar por comparecer ou não.
Gabrielli comandava a estatal do petróleo em 2006, ano em que a companhia adquiriu metade da refinaria da empresa belga Astra Oil. A operação gerou prejuízo de US$ 530 milhões à Petrobras.

No caso de Cerveró, se aceitar o convite, ele falará na Câmara pela segunda vez. Em depoimento aos deputados na última quarta-feira (16), ele disse que não houve por parte da antiga direção da empresa a intenção de "enganar ninguém" ao omitir duas cláusulas importantes do Conselho de Administração.

Em relação aos ministros Mantega e Adams, eles foram convidados para explicar seu "envolvimento" na elaboração da ata da reunião do Conselho de Administração da Petrobras que avalizou a compra da refinaria, em 2006, segundo afirmou o autor do requerimento, deputado Claudio Cajado (DEM-BA).

“Já que a CPI [da Petrobras] está tendo inúmeros entraves, queremos esclarecer as dúvidas acerca do assunto”, disse o parlamentar baiano.

Ele [Gabrielli] está muito seguro das declarações que tem e acho que há muito mais afinidade do que divergência entre as falas dele e da presidenta Dilma. Ele está disposto a vir [à Câmara]"

Vicentinho (SP), líder do PT na Câmara

Ao G1, o líder do PT, deputado Vicentinho (SP), afirmou que Gabrielli “está disposto” a prestar depoimento na Câmara.

“Ele [Gabrielli] está muito seguro das declarações que tem e acho que há muito mais afinidade do que divergência entre as falas dele e da presidenta Dilma. Ele está disposto a vir”, disse o líder petista.
O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, disse ao G1 que seu cliente deve comparecer à Comissão de Relações Exteriores, embora já tenha prestado depoimento na Câmara na semana passada. Segundo Ribeiro, a intenção do ex-diretor da Petrobras é “dar total transparência” ao processo de compra da refinaria de Pasadena.
“Ele [Cerveró] está viajando e só volta na segunda-feira [28]. Portanto, ainda não falei com ele sobre esse novo convite. Mas não vejo nenhum problema. Se ele for chamado, acho que vai. A ideia dele é dar total transparência a esse processo. Então, para ele, não há nenhum problema em retornar à Câmara para dar informações”, enfatizou.
saiba mais
Oposição quer ouvir versão de Gabrielli sobre compra de refinaria
'Não houve intenção de enganar ninguém', diz ex-diretor da Petrobras
Dilma promete apuração e punição rigorosas no caso Petrobras
Entenda as denúncias envolvendo a Petrobras
'Responsabilidade'
No último domingo (20), Sergio Gabrielli concedeu entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" na qual afirmou que a presidente Dilma Rousseff "não pode fugir da responsabilidade dela" na operação. À época em que a Petrobras adquiriu parte da refinaria norte-americana, Gabrielli era o presidente da Petrobras e Dilma, ministra-chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da estatal.
Em março, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência informou por meio de nota oficial, que o Conselho de Administração, quando presidido por Dilma, aprovou a compra da refinaria do Texas com base em um relatório "falho". Segundo o comunicado, o resumo entregue aos conselheiros omitia duas cláusulas que, posteriormente, obrigaram a estatal a comprar a parte da Astra Oil.
Na entrevista ao jornal, Gabrielli assumiu que tem responsabilidade no relatório entregue ao conselho, mas dividiu o ônus com a presidente. "Eu sou responsável. Eu era o presidente da empresa. Não posso fugir da minha responsabilidade, do mesmo jeito que a presidente Dilma não pode fugir da responsabilidade dela, que era presidente do conselho. Nós somos responsáveis pelas nossas decisões. Mas é legítimo que ela [Dilma] tenha dúvidas", disse o Gabrielli ao jornal.
CPI da Petrobras
As suspeitas envolvendo a aquisição da refinaria dos Estados Unidos e denúncias de que funcionários da Petrobras teriam recebido propina de uma empresa holandesa levaram a oposição a protocolar pedido para instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a estatal.
No entanto, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu acatar pedido da base governista para que a CPI apure também suspeitas de cartel no Metrô de São Paulo e suposto superfaturamento nas obras da refinaria Abreu e Lima e do porto de Suape, em Pernambuco. Os casos ocorreram em estados governados por PSDB e PSB, partidos que devem disputar o Palácio do Planalto com a presidente Dilma Rousseff.
Inconformada com a decisão do presidente do Senado, a oposição recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar garantir que a CPI se limite a apurar as denúncias contra a Petrobras. Relatora das ações movidas pelos oposicionistas, a ministra Rosa Weber deve se posicionar nesta quarta sobre se concede ou não liminar (decisão provisória) sobre o tema.