04/02/2018 às  18:50

TEMPRANILLO: 3 blends da uva nobre da Espanha degustados por MF

*Maurício Ferreira é bacharel em direito, professor universitário, sommelier profissional filiado a ABS-SP e colaborador do Bahia Já, onde assina a coluna Tempo de Vinho.


Conta a história, que o vinho foi introduzido na América do Sul pelos primeiros colonizadores e exploradores europeus que aqui chegaram, que tinham no hábito de consumir a bebida não apenas o regozijo para uma viagem tão longa, mas também como um grande aliado às diversas enfermidades que acometiam os navegantes. 

   Com o início das primeiras missões religiosas realizadas pelos jesuítas e franciscano, a necessidade de se plantar videiras para produzir seus próprios vinhos, para serem utilizados nos cultos, tornou-se eminente, surgindo daí os primeiros passos da incipiente viticultura americana, a partir de mudas advindas da Espanha e de Portugal. No Brasil, em especial, a façanha de cultivar as primeiras vinhas viníferas, coube ao fidalgo português Brás Cuba, que, segundo  registros, teria feito a primeira plantação de cepas trazidas de seu país, nas encostas da Serra do Mar.

    Como se pode ver, as Castas Ibéricas desde muito cedo estiveram em nossa cultura, mesmo quando a prática de consumir vinhos finos no Brasil ainda não era um hábito. Posteriormente, as dificuldades de manejo e cultivo das castas europeias, obrigaram aos rústicos vinicultores da época a abandonarem as tradicionais cepas europeias, passando a cultivar as variedades locais, impróprias para a produção de vinhos finos, mas de grande resistência e produtividade, porém sem a necessária qualidade vinífera.

   Com a descoberta do potencial vinícola brasileiro em meados do século passado, graças às novas técnicas introduzidas no cultivo, as castas europeias voltaram a ocupar nossos vinhedos, que passou a produzir vinhos de boa qualidade, muitos dos quais vem obtendo destaque no cenário internacional.

   Para essa nova empreitada, foram escolhidas inicialmente castas francesas de grande aceitação mundial, sobretudo o Merlot e o Cabernet Franc, cultivadas no sul do país, onde se adaptaram razoavelmente, apesar das chuvas prematuras e irregulares, dando origem aos principais rótulos nacionais da época, ficando as castas portuguesas e espanholas esquecidas durante um certo tempo para grande parte dos consumidores e produtores brasileiros.

    Nesta matéria, a coluna Tempo de Vinho traz para seus leitores a mais importantes das castas espanholas, a Tempranillo, uva símbolo da Espanha e que produz os seus mais importantes rótulos.

   Conhecida por seu amadurecimento precoce - aliás, a própria expressão Tempranillo refere-se ao diminutivo da palavra “temprano”, que significa “o que amadurece rápido”, se caracteriza por sua acidez e pouca tendência oxidativa, o que lhe permite produzir vinhos de longa guarda, seja em barricas de carvalho ou mesmo em garrafas, além de ser uma  casta resistente e versátil, se adaptando a diversos tipos de clima e de solo.

   Alguns estudiosos afirmam que a uva Tempranillo foi introduzida na Península Ibérica pelos fenícios, através da cultura da Vitis Vinifera, trepadeira que deu origem a quase todas as castas de uvas existentes, outros alegam que se trata de uma mutação da uva Pinot Noir. Sem querer entrar nesse mérito, o certo é que a Tempranillo foi cultivada pela primeira vez há pelo menos 1.000 a.c, no local onde hoje é a província espanhola de Cádiz. 

  Sua utilização na produção vinícola da Espanha, permaneceu subdesenvolvida até o século XV, período em que seu território esteve sob domínio dos mouros, só a partir dai passou a se desenvolver, passando posteriormente a ser conhecida como a uva nobre da Espanha, a partir da alta qualidade e prestígio dos vinhos produzidos na região de Rioja e em Ribera del Duero, onde é conhecida pelo nome Tinto del Pais.

   Aliás, nome é o que não falta para a Tempranillo: Tinto Fino, Tinto de Toro, Cenzibel, ou ainda Aragonez ou Tinta Roriz em Portugal. No todo, são mais de sessenta nomes, dentre os mais e menos conhecidos, em comum, sempre vinhos vívidos, frutados e simples, quando jovens, repleto de aromas de morango, cereja ou framboesa. E complexos e potentes, quando amadurecidos em barricas de carvalho americano, com notas de figo, de geléias de frutas e envolventes traços de alcaçuz, baunilha, especiarias e torrefação.

  Atualmente, o uso do carvalho francês vem se tornando cada vez mais comum nos rótulos mais caros, quase sempre vinificados sob forma de blend, com a Garnacha, a Mazuelo (Cariñena) ou até mesmo uvas brancas, como o Viognier ou a Abílio.

Esta semana, Tempo de Vinho degusta com seus leitores, três dos mais sensacionais blends de Tempranillo encontrados no mercado, o Marques de Riscal Reserve 2009, o Valduero Gran Reserva 2005 e o Imperial Gran Reserva 2007. Vamos às taças!

VAMOS ÀS TAÇAS

O Herederos del Marques de Riscal Reserva 2009 é um Tempranillo do Rioja (90% Tempranillo + 10% Mazuelo e Graciano), que traduz a modernização da indústria vinífera espanhola como nenhum outro. Com 24 meses de amadurecimento em barris de carvalho americano tostados a 150°, a fim de preservar as notas de baunilha, é pioneiro na utilização dos métodos e processos da vinificação bordaleza na Espanha. Com mais de oito anos, ainda é um vinho voluptuoso, intenso e com grande calor alcoólico, apesar de não repetir o peso e a estrutura dos vinhos do Novo Mundo. 

De cor vermelho intenso, com reflexos purpuras e um nariz  bastante rico, é repleto de notas de cassis, cerejas maduras e frutas negras, além de especiarias, folhas de tabaco e sutis notas florais. Enfim, é um vinho de chegada, que impressiona bastante. Na boca, temos cassis e cerejas que se repetem,  toques de café, tabaco, bastante baunilha, aniz, eapeciarias e couro, dentro de um ambiente de tostas adocicadas e final longo. Em 2009 a Herederos del Marques de Riscal foi considerado a vinicola europeia ano pela Wine Enthusiast, e o Marquês de Riscal recebeu excelentes pontuações, no que faz justiça a este maravilhoso vinho.

Valduero Gran Reserva 2005 é um dos mais representativos rótulos do Tempranillo (Tinto Fino), produzidos na região de Ribera del Duero, a partir de uvas velhas e baixo rendimento. Bastante concentrado e exuberante, porém sem abrir mão da elegância de um verdadeiro toureiro eapanhol, conquista seus admiradores desde o primeiro gole . Com 4 anos de Crianza (barricas) de carvalho europeu e americano e pelo menos 5 anos de garrafas, chega aos degustadores com maturidade e complexidade impar. 

De cor púrpura intensa e brilhante e belos reflexos cor de cereja, possui expressivo volume de boca  e excelente equilíbrio alcoólico.  De nariz repleto de cerejas maduras, minerais,  notas de confitados mais doces, baunilha e de caramelo. Na boca, frutas vermelhas, sobretudo potentosas cerejas e mirtilo, que convivem com especiarias, chá preto, frutas cristalizadas, caramelos de leite e baunilha, defumados e tostas de carvalho. Um vinho magnífico e dificil de esquecer, que com o tempo terá muito a evoluir. Importante não deixar de decantar pelo menos 30' antes de servir.

Imperial Gran Reserva 2007, produzido pela tradicional Companhia Vinicola del Norte da Espanha, a CVNE, é um dos mais cultuados Rioja do momento. Recentemente, a conceituada Wine Spectator considerou a safra de 2004 o grande campeão dentre os rótulos que integraram a sua lista dos Top 100 de 2013, destacando-se de forma honrosa dentre os melhores vinhos do mundo. 

Uma classificação um tanto o quanto subjetiva, mas que nos dá uma ideia dos enormes predicados do Imperial Gran Reserva. A safra de 2007, bem que poderia ser considerada a legitima sucessora de todo o sucesso que a de  2004 obteve junto à crítica. O vinho é soberbo! De cor purpura enegrecida e reflexos escuros, tem nos aromas, dispostos em agradáveis camadas, o seu ponto forte. Notas florais, como jasmins e violetas, frutas negras como ameixas, cerejas negras alcaçuz e  muita baunilha, folhas de tabaco, canelas e especiarias exóticas , cedro e minerais.

  Aliás, quase tudo que podemos perceber de um legítimo  Blend Rioja, feito de Tempranillo, Mazuelo e Graciano, envelhecido por 30 meses em barricas de  Carvalho Americano e Francês. Resultando um vinho de uma complexidade aromática ímpar, páreo duro para vinhos muito mais evoluídos. Na boca, um vinho extremamente equilibrado, rico em frutas negras, baunilha, aniz estrelado e outros  glaceados, que convivem com toques de jabuticabas, achocolatados e moca, em meio a tostas e caramelos. 

 Um vinho inesquecível, que merece ser saboreado aos poucos, gole a gole, sem pressa, para que possamos sentir seus taninos macios, sua estrutura media e envolvente, aquecida pelo álcool quase que imperceptível. Não estranhem se novamente vier a encabeçar a Top 100 da WS. Merece!

Espero que tenham curtido essa maravilhosa experiência enológica protagonizada pela uva nobre da Espanha, a Tempranillo.

AGENDA DO ENÓFILO

Para quem desejar conhecer mais sobre um dos Tempranillos  ícone da viticultura espanhola e, de quebra, participar de uma degustação vertical com um dos principais vinhos do Rioja, o empresário Ivan do Valle estará realizando no próximo dia 16 de fevereiro, às 20:00 horas, um jantar harmonizado pelo chef Lucius Gaudenzi, no Restaurante Du Chef.

O evento, cujas vagas são limitadas, contará com a degustação de sete safras do Marques de Riscal Reserva (2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2012 e 2013) e duas safras do Marques de Riscal Gran Reserva (2005 e 2006), além do branco Marques de Riscal Rueda, feito com as uvas verdejo e Viura.

O preço, incluindo o jantar harmonizado e a degustação premium custa R$ 350,00, e as inscrições podem ser feitas pelo telefone (77) 991942908 @duvalevinhoseeventos, certamente uma noite única para os amantes do vinho.


*Maurício Ferreira é bacharel em direito, professor universitário, sommelier profissional filiado a ABS-SP e colaborador do Bahia Já, onde assina a coluna Tempo de Vinho.

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