15/11/2014 às  10:41

SEM CORAÇÃO, um filme bem brasileiro e com bom roteiro, p/ DIOGO BERNI

Por favor vamos viver sem rotulações para ficarmos melhores nesse plano. Sem dúvida uma grande pedida de trinta minutos de obra fílmica genuinamente nordestina e brasileira.


Chamou-me atenção um média metragem que assisti no X panorama internacional Coisa de Cinema em Salvador no inicio deste mês. O título do filme é tão forte como sua história; Sem Coração , da jovem e bela diretora alagoana residente em Recife Nara Normande, Brasil, 2014.

  Sem Coração, além de ser o título do média, é também o nome da protagonista da história: Uma garota de treze anos que tinha um marca-passo no lugar do seu coração e ainda assim inesperadamente era uma eximia, ou melhor, a mais cascuda pescadora de polvos e lagostas na modalidade da apneia das redondezas. 

  A nossa Sem Coração era também em certo aspecto um animal enjaulado feminino em sua natureza selvagem criada no litoral alagoano oriunda de família humilde de pescadores daquele extenso litoral belo alagoano regado pelo sol forte durante as quatro estações do ano. 

  Após a sessão a diretora do média , em bate-papo com o público, afirma não ter conhecido pessoalmente sua protagonista: A enigmática "Sem Coração", apenas ouvia rumores de sua existência, já que na adolescência da diretora ela permitia-se a misturar-se com os filhos dos pescadores da sua idade quando ia para a casa de praia dos seus pais nos finais de semana, em um local próximo a capital, Macéio. 

  A partir dos relatos recebidos dos meninos que praticavam sexo com a garota do marca-passo em uma piscina abandonada e vazia a diretora , a então tem a habilidade de construir ou imaginar uma faceta peculiar forte desta garota especial de treze anos.  

  Tanto pela generosidade, ou talvez pela falta de consciência que o que fazia era "errado", ou seja,  se dar sexualmente para todos aqueles garotos pré-adolescentes sedentos dos hormônios marítimos da idade, e ainda gostar ou ter um estranho ou exótico prazer em fazer isso: Ter relações com cinco, seis ou talvez  sete garotos na sequencia, sem descanso algum pra ela. 

  Saia um garoto e logo entrava um outro já abaixando sua bermuda para realizar o coito pré-adolescente, que cá entre nós não era exatamente uma relação sexual plena, os garotos por sua idade tinha apenas uma sensação de gozo ejaculando uma "aguinha mais espessa", da qual eram seus vulgos espermas ainda em formação. Todavia, ainda assim a Sem Coração não cobraria nada pela brincadeira e ainda por cima, literalmente, permitia que uns assistissem aos outros  transarem ou se esfregarem nela naquela piscina vazia, assim como era seu coração: Vazio por falta de perspectiva de uma vida melhor, vazia por ser diferente das outras meninas de sua idade e principalmente vazio por ter um coração generoso, embora não tivesse um coração real de fato, mostrando que é nas adversidades que a generosidade humana mais tende a aparecer, ou seja, no caos. 

   O filme mexera comigo, pois tive experiência semelhante com uma garota que se assemelhava bastante com a Sem Coração , e talvez seja por isso que tenha querido escrever sobre ele, mas isto já é outra história que não se refere ao nosso média metragem, este que por sua qualidade ganhou o prêmio de melhor em sua categoria no festival de Salvador. 

   Todavia o que de fato me encantou neste média metragem, mais do prêmio que merecidamente ganhou, fora o desprendimento da sua personagem central, ora se entregando aqueles garotos sedentos por sexo naquela piscina suja e abandonada, afinal porque não fazer a felicidade deles, e em momento algum pensar em si própria. 

   Alias acho que a nossa "Sem Coração", porém com algum tesão, por sua suposta generosidade seria incapaz de se colocar em primeiro lugar e pensar nela própria. 

   Os seus traumas vividos por ser uma menina diferente com um marca-passo no coração encorajou-a e permitiu de certa maneira que seu lado mais animal se aflorasse, assim quando afundava-se no fundo mar , e sem aparelho algum,  trazendo polvos enormes escondidos nos corais alagoanos para sustentar sua família. 
  Espero sinceramente que alguns de vocês em algum festival ou mesmo pela própria internet consigam baixar este sensível e admirável filme, onde nos mostra indireta ou inconscientemente que não somos capazes ou merecedores em fazer julgamentos entre as pessoas, pois primeiro não somos Deuses, e segundo porque ninguém tem esse poder de julgar o que fulano fez ou deixou de fazer, pois se for para escancarar a vida de todo mundo só restarão telhados e tetos de vidros, afinal ninguém é santo, há não ser a nosso querida Irmã Dulce. 

   Somos apenas seres que estamos em um tipo de processo evolutivo aqui e nada mais que isto, os advogados que me perdoem, mas ninguém pode julgar ninguém, talvez por isso o mundo se torna cada mais insuportável justamente por essa necessidade que as pessoas tem de rotularem as outras. 

   Por favor vamos viver sem rotulações para ficarmos melhores nesse plano. Sem dúvida uma grande pedida de trinta minutos de obra fílmica genuinamente nordestina e brasileira. 


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