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26/10/2015 às 18:20

A FAMILIA, como vai?

Dom José Ruy é bispo diocesano de Jequié, Bahia

Dom José Ruy Lopes

  Tanto se tem falado de família, muito se tem procurado perspectivas novas. Mas, afinal, a pergunta que cabe é: onde a família vai chegar? Para tanto é necessário a pergunta inicial: o que é mesmo família?
                    
    O caríssimo orientador de minha tese, em um de seus livros, assim publicava: “Em meio às rápidas transformações de nossa sociedade, identificamos uma crise que é do humano. Ela é também identificada como uma crise ética por excelência. Os fenômenos desta crise, mesmo os aparentes exteriores, nos atravessam por inteiro e profundamente; dizem, inclusive, quem somos neste momento da história. Esta crise apresenta traços nítidos em seus contornos, profundidade e extensão. Ela acabou criando um desequilíbrio das bases vitais do humano, atingindo suas raízes mais profundas, o seu próprio ethos. Face a ela, urge resgatar o vital humano”. 
                    
   De fato, existe uma quase uma unanimidade entre filósofos e teólogos da moral ao afirmar que se o ethos é, de fato, a real significação de sua etmologia, isto é, “morada do ser, residência”, isto  aponta para as nossas raízes mais profundas e nelas a perda de sentido  das evidências primitivas que elaboram e regem a convivência humana. 
                    
   Um desnorteamento tão visível que contraria a lógica da razão. Perdeu-se o sentido, enquanto caminho de orientação do próprio ser. Os movimentos “libertários” dos anos 60  indicavam que para ser feliz, homem e mulher não precisavam legalizar o casamento com papéis, padres e documentos. São estes mesmos movimentos a “defender” a “legalização” de casamentos...

    A sacralidade da vida e a dignidade do ser humano foram colocadas em xeque. Muito mais se defende a natureza, o ecossistema, do que o próprio ser humano.
                     
   Se antes, com ares de hedonismo se buscava o prazer, hoje o importante não é apenas gozar, mas gozar sempre. Mesmo que o insucesso disso seja o fracasso. O freudiano princípio do prazer foi superado, no dizer do meu amigo mineiro William Castilho. O que vale mesmo é o prazer que não se acabe, o gozo que nunca termine. Não será por isso que a cocaína tem se tornado indispensável para alguns? Será esta a razão pela qual gênero e novos modelos de “família” estão sendo apresentados como na moda do “politicamente correto” ?
                    
   Fato é que, a olhos vistos, pelo menos para alguns de consciência crítica, mesmo que sob a crítica de serem retrógrados, vivemos um tempo de grandes contradições. O próprio ser humano, em seus paradoxos, perdeu noções essenciais de ser e de humanidade. Assim como contraditória é a lei da “palmada” aprovada pouco tempo depois que se aprovava o financiamento pelo SUS para alguns tipos de aborto. Ou seja: é completamente proibido, com justa razão, maltratar, violentar uma criança com palmadas; todavia, é absolutamente “aceitável” pela mesma sociedade assassinar crianças ainda na fragilidade da vida intra-uterina.
                  
    Por tudo isso a crise moral se identifica com a perda de sentido. Desmoralização é a mesma coisa que “des-orientação”. Crise moral é o mesmo que crise de cosmovisão ou de sentido, nos ajudavam os escritos bem elaborados de Marciano Vidal.
                  
   A Igreja tem a materna missão de salvar os fiéis santificando-os, inclusive em sua vida familiar. Pastores com o compromisso de apascentar o rebanho, de ir ao encontro das ovelhas para trazê-las de volta ao rebanho e para o próprio Cristo, critério único e supremo da Igreja Católica. O senso único de direção é Ele mesmo que se apresentou como único caminho a ser percorrido, Verdade absoluta que dá sentido ao nosso viver e a Vida que enche de sentido a nossa vida e nos dá a Vida Eterna.
               
    As perguntas colocadas ao início deste arrazoado não requerem respostas simples, menos ainda aquelas produzidas por panfletos e opiniões de mídia. “A opinião majoritária dos fiéis não constitui ‘lugar teológico’ e menos ainda uma ‘fonte de Revelação’. 

   Uma vez, também, formularam a Jesus uma pergunta: “É lícito ao homem despedir a sua mulher dando-lhe a certidão de divórcio?” Receio que a dureza de coração esteja se manifestando em vários outros disfarces que confundem o ser humano desencontrado em um tempo confuso. Mas, o que resta a quem procura abrigo, casa, aconchego e carinho, senão a própria família? 

  Afinal, se queremos reafirmar a nossa identidade humana, somente encontraremos a resposta na família, nos seres que nos geraram, cuidaram e amam. Ali está também a referência divina!

*** Dom José Ruy G. Lopes, OFM Cap
Bispo Diocesano de Jequié.


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