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18/06/2023 às 10:15

FUTEBOL ITABUNA: BEL, O CRAQUE DO PASSE MILIMETRADO p WALMIR ROSÁRIO Abelardo Brandão More

Abelardo Brandão Moreira, que iniciou sua carreira no futebol amador muito cedo, ainda meninão, isso pelos anos 1963, quando aportou de vez em Itabuna, vindo de Itajuípe.

Walmir Rosário

 No futebol amador de Itabuna tivemos craques à mancheia, como diria nosso conterrâneo Castro Alves. Cada um na sua especialidade. Desde os goleiros que “abriam as asas” e fechava a área; os pequenos zagueiros e laterais que subiam mais que os grandes atacantes; os clássicos que não faziam faltas (à vista do árbitro); os meio campistas que desarmavam e construíam; os atacantes que faziam muitos gols.

Mas hoje vamos lembrar de um meio campista especial: Bel, batizado Abelardo Brandão Moreira, que iniciou sua carreira no futebol amador muito cedo, ainda meninão, isso pelos anos 1963, quando aportou de vez em Itabuna, vindo de Itajuípe. O garotão bom de bola encantava – também – pelo seu comportamento junto aos craques já estabelecidos. Era um boa praça, um menino com pinta de craque.

E exibia seu bom futebol nos campinhos de pelada de Itabuna, despertando a atenção dos futebolistas. Estudou e se diplomou na modalidade de futebol de salão, dominando, não só a bola, mas o jogo, para a alegria da torcida. Nem me lembro mais quantas vezes fomos campeões pelo Colégio Estadual de Itabuna, no qual estudávamos o ginásio. Antes de qualquer reclamação, aviso, de pronto, que eu era um jogador medíocre, mas estava lá.

E foi o futebol de salão (hoje Futsal) que deu régua e compasso a Bel, credenciando-o a brilhar nos campos de futebol de Itabuna e região, com toda a desenvoltura que Deus lhe deu. Não escolhia o melhor campo para jogar, mas tinha inteligência suficiente para superar as dificuldades dentro das quatro linhas (isso quando era marcado), se desviando dos buracos, da grama malcuidada e dos adversários.

No meio campo era um maestro, e foi assim por onde passou. No velho campo da Desportiva, não importando o time por qual jogava, estava ali cercado dos melhores craques de Itabuna. Exibia seu estilo com desenvoltura, aproveitando a força da juventude com a qualidade do futebol que sabia praticar. Incorporou seu estilo de jogo no pequeno campo de futebol de salão, adaptando-o ao campo oficial de futebol.

E Bel Jogava com precisão. Não sei em quem ele se espelhava, se no futebol exibido por Didi ou, quem sabe, Gérson o canhotinha de ouro, na casa sagrada do futebol brasileiro, o Maracanã. Não precisava correr em campo. Com elegância, fazia a bola circular em passes curtos ou longos, a depender do andamento do jogo e da posição de seus companheiros em campo, surpreendendo os adversários.

Embora não precisasse correr em campo, como um bom meio campista sabia se antecipar ao adversário para matar uma jogada e construir as condições necessárias para facilitar a entrada dos colegas atacantes e marcarem os gols. Muitas das vezes, ele mesmo se encarregava de estufar a rede adversária. Defendia, atacava, marcava gols, o que demonstrava sua capacidade de dominar os espaços no gramado.

A competência demonstrada em campo foi essencial para sua convocação para a Seleção Amadora de Itabuna, a hexacampeã baiana que enchia os olhos dos expectadores e ouvintes das narrações esportivas da época. E passa a atuar naquele escrete de ouro, onde a concorrência de craques era a maior da Bahia. Entrava um e saia o outro sem que a qualidade do jogo sofresse qualquer alteração negativa.

Surpreendia-me os passes de longa distância encaminhados por Bel. Eram na medida exata, e quem o recebia não precisava se esforçar, esticar a perna ou dar um grande impulso para cabecear. Ele chegava na medida certa, bastava um maneio de cabeça, uma matada no peito, uma emendada com o pé para que chegasse ao seu destino: o gol adversário. Mesmo não entrando nos três paus, dava a sensação e o grito abafado de gol.

Até hoje nunca perguntei a Bel como ele aprendeu a despachar a bola com tanta elegância e fidalguia. Às vezes me dá a impressão que antes ou depois dos treinos ele saia com uma fita métrica medindo as distâncias e idealizando a potência dos passes. Precisão milimétrica disparada pela força das pernas e o jeito do pé, como vemos hoje com a tecnologia disponível aos mísseis teleguiados.

Com a criação do Itabuna Esporte Clube, em 1967, Bel foi um dos primeiros a se profissionalizar e mostrar seu futebol para novas plateias. Se antes jogava ao lado de craques feitos em casa, passou a conviver e atuar com jogadores vindos do Rio de Janeiro, São Paulo e outras grandes praças esportivas, o que lhe garantiu um maior conhecimento do futebol.

Em seguida, foi jogar em Ilhéus, atendendo a insistentes convites feitos por amigos. Na vizinha e rival cidade continuou jogando o seu futebol arte, encantando aos que ainda não o conheciam. Uma certa feita estava no Rio de Janeiro, quando se encontra com Pinga, seu colega de seleção e Itabuna profissional e vão a um teste no Botafogo carioca. No treino, marcam cinco gols, três de Pinga e dois de Bel, que resolveu voltar a Itabuna.

E todo o conhecimento de futebol adquirido nos campos por onde jogou foi transferido para a garotada, atendendo a um convite de João Xavier, diretor da AABB de Itabuna. Também jogou e treinou várias seleções de veteranos de Itabuna, exibindo-se para uma geração mais jovem, que não conheceu o futebol arte. Pra mim, Bel e outros craques deveriam mostrar aos de hoje, o futebol eficiente e elegante do passado.


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