Esporte

Dunga vai do perdão à rigidez em sua retomada na seleção brasileira

Ao mesmo tempo em que reabre portas para Mário Fernandes, técnico pune Maicon por indisciplina e questiona corte de Hulk na primeira convocação
G1 | 17/09/2014 às 19:24
Olho aberto: Dunga exige comprometimento, mas sabe perdoar
Foto: Alexandre Durão /Globoesporte

Levar 7 a 1 da Alemanha dentro de casa em uma Copa do Mundo parece ter mais explicações táticas e estruturais do que comportamentais, mas Dunga já dá sinais de que a disciplina e o comprometimento são elementos que receberão cuidado extremo. Em sua segunda convocação no retorno à Seleção, o treinador deixou fora (era evidente que o faria) o lateral-direito Maicon, afastado por indisciplina depois do primeiro amistoso, contra a Colômbia, e o meia-atacante Hulk, cujo corte por lesão deixou o comandante desconfiado – ele foi chamado na primeira lista, em 19 de agosto, mas seu clube, o Zenit, alegou lesão muscular, e o jogador foi desconvocado. 

Por outro lado, Dunga também soube perdoar. Abriu as portas para o retorno de Mário Fernandes, que rejeitou a Seleção antes justamente de um Superclássico contra a Argentina, em 2011 – o Brasil enfrenta o maior rival no dia 11 de outubro, em Pequim, e depois pega o Japão no dia 14, em Cingapura. Na época, o comandante verde-amarelo era Mano Menezes, que não chegou a comunicar que jamais voltaria a convocar o jovem lateral-direito do Grêmio, mas deixou no ar que a ideia era essa. Mano saiu, entrou Felipão, Felipão saiu, e o jogador nunca mais foi chamado. Até esta quarta-feira. 

Dunga passa uma mensagem dupla: de que é capaz de perdoar, mas que exige comprometimento. Ao falar sobre Mário Fernandes, ele elogiou justamente esse aspecto do lateral: o comportamento.

- Trata-se de um jovem jogador, e não podemos crucificá-lo por um erro. Se fizéssemos isso, nenhum de nós estaria aqui agora. Quem nunca errou? Todos merecem uma segunda chance. E isso ele está aproveitando bem no CSKA, está tendo um comportamento exemplar. Pelas minhas informações, a questão do Mário é que ele é um jogador tímido, muito retraído. Talvez seu erro no passado tenha acontecido justamente por isso. Não deve ter conversado com as pessoas certas para lhe orientarem – disse o treinador.

O substituto de Felipão afirmou, na coletiva desta quarta-feira, que é possível corrigir o comportamento de um jogador, mas que ensiná-lo a jogar futebol é bem mais complicado. Mesmo assim, não parece disposto a suportar deslizes. Mesmo que não sejam questões com a gravidade de Maicon, cortado entre dois jogos por indisciplina. É aí que entra o caso de Hulk.

O jogador foi chamado para os primeiros amistosos da segunda passagem de Dunga pela Seleção, contra Colômbia e Equador. Mas o Zenit, seu clube na Rússia, informou à CBF que o atleta tinha uma lesão muscular e, por isso, não poderia jogar. Hulk foi cortado, e Robinho acabou convocado em seu lugar. Ate aí, tudo bem. O problema é que Dunga ficou desconfiado com a rapidez com que o atleta se recuperou na Rússia. O Brasil venceu a Colômbia no dia 5 de setembro e o Equador no dia 9, e o jogador atuou pelo Zenit no dia 13 – voltou a treinar no dia 11. Segundo Dunga, o departamento médico do clube russo falara em quatro a seis semanas de recuperação.

Isso tirou o treinador do sério. Nesta quarta, ele manteve Robinho entre os convocados, deixou Hulk fora e, em tom de ironia, colocou questionamentos sobre o corte dele.

- Ele teve uma recuperação muito boa. Jogamos num dia e ele jogou logo depois, para nossa surpresa. Pensamos melhor e deixamos o jogador se recuperar bem em seu clube. Lá para frente, talvez ele tenha outra oportunidade – disse Dunga, que depois ampliou:

- Temos cadeiras vazias. Se alguém levanta, outro senta, e aí vai ter que esperar sentar de novo.

Hulk, está claro, perdeu espaço com o chefe. Sua assessoria de imprensa, em comunicado, diz que ele fez fisioterapia por oito horas diárias desde 1º de setembro, quando teve constatada a lesão.

Na primeira convocação, houve outro corte por problema clínico: o lateral-esquerdo Alex Sandro, do Porto, que foi substituído por Marcelo, do Real Madrid. Na segunda lista, nenhum deles esteve presente. O atleta do clube português, a exemplo de Hulk, está recuperado de sua lesão muscular, mas não foi chamado por Dunga.

Enquanto isso, o coordenador técnico da CBF, Gilmar Rinaldi, abriu a possibilidade inclusive de um retorno de Maicon à Seleção e disse ter certeza de que Hulk voltará a ser convocado no futuro.