Economia

CACAU e o eterno engôdo com quem produz, por EWERTON ALMEIDA

Os pequenos, médios e tradicionais produtores de cacau e produtores outros, vão aos poucos desaparecendo, vítimas do desrespeito explícito dos governos às leis vigentes para o seto
Ewerton Almeida , Bahia | 21/03/2017 às 11:57
Roça de cacau
Foto: DIV
   Nenhum produtor de cacau, de sã consciência, acredita mais nas promessas governamentais, todas elas, fora do contexto sobre a triste e penosa realidade vivida pela outrora pujante economia do cacau, economia que, até o ano de 1966, representava 60% dos recursos orçamentários do Estado da Bahia.
Nós os produtores de cacau, durante 50 anos, através taxas extras, independente do pagamento de todos os impostos e tributos incidentes sobre a agricultura de um modo geral, doamos aos governos a quantia de 4 bilhões e meio de dólares, através da Taxa de Retenção Cambial. Um fato único e isolado na história da agricultura nacional e mundial.

  Hoje somos tratados como “peso morto” e largados à sorte vária! Injustiça maior não há!

   Persistem os nossos governantes nas diversas esferas do poder, “fazendo ouvidor de mercador” e se comportando como o pior tipo de cego (“aquele que não quer enxergar”) diante dos prejuízos incalculáveis, não só à lavoura tradicional do cacau, bem como à economia regional e do Estado da Bahia como um todo, devido a essa crise permanente imposta criminosamente ao principal setor produtivo regional.

  Os produtores, cansados, humilhados e vilipendiados, movidos, Deus sabe como, por uma inesgotável força interior, resistem bravamente a essa indiferença governamental. 

  Todos os segmentos parecem rendidos a elite financeira dos Bancos (FEBRABAN), que exerce grande influência no Conselho Monetário Nacional e é sempre beneficiada através resoluções que acabam sempre, funcionando como leis a seu favor e a lhe beneficiar ao longo do tempo, ao ponto de conseguir junto aos nossos governos, transformar débitos rurais irregulares e inconstitucionais em débitos fiscais (absurdo maior não pode haver), pois a base de correção monetária, o que contraria a LEI 4829/1965 ainda em vigor que Regula o Crédito Rural, situação constatada na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investigou as causas do endividamento no setor rural e que, por influência dessas forças poderosas citadas, está dormindo o sono profundo nas gavetas do Congresso Nacional.

   Os projetos e programas que têm sido apresentados por sucessivos governos, para o setor rural, especialmente para o cacau, só tem beneficiado aos banqueiros e grandes grupos!!! 

   Os pequenos, médios e tradicionais produtores de cacau e produtores outros, vão aos poucos desaparecendo, vítimas do desrespeito explícito dos governos às leis vigentes para o setor. Tudo sob as vistas complacentes e coniventes da Supremo Tribunal Federal. Discutir os graves e até hoje não solucionáveis problemas do cacau sem levar em consideração essas premissas, é  “conversa mole para boi dormir”!

  Como se tudo isso que narramos acima não bastasse, somos nós, os produtores de cacau, as vítimas maiores de um terrorismo biológico (Introdução criminosa da terrível praga “vassoura de bruxa”) atestado em relatório pela Polícia Federal. Um crime hediondo que gerou trezentos mil desempregados diretos e que deu lugar ao flagelo do êxodo rural, com mais de oitocentas mil pessoas abandonando campo e migrando para as margens das estradas e periferia insalubre das cidades, gerando um caos social de grandes proporções.

  O que dizer dos ataques criminosos e crescentes contra o Meio Ambiente decorrentes da situação exposta…

  A Mata Atlântica sendo impiedosamente castigada, os manguezais em estágio crescente de poluição, os mananciais desaparecendo, nos obrigando a assistir a tudo e sem forças e meios para reagir, os nossos rios dantes piscosos e volumosos transformados em riachos ou depósitos de esgotos e dejetos outros. 
  
  Vejam e sintam a que ponto chegou a nossa outrora pujante região: está faltando água potável para consumo humano!

  Tudo isso acontecendo sob as vistas das nossas autoridades maiores e, o que é de se estranhar, sem reação alguma dos movimentos ambientalistas.

Vive a região cacaueira da Bahia sob a égide do eterno engodo.

*Ewerton Almeida, Ton Legal, é produtor de cacau, ex-deputado, ex-presidente do Conselho Nacional dos Produtores de Cacau e atual diretor do Instituto Pensar Cacau.