Economia

Produtores baianos discutem ampliação da armazenagem no Matopiba

O principal tema debatido foi a necessidade da construção de silos públicos na última fronteira agrícola do país
Ascom Aiba , Luis Eduardo Magalhães | 28/08/2015 às 16:01
Circuito Matopiba
Foto: Ascom Aiba

O oeste da Bahia foi a região escolhida pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para realizar a primeira etapa do Circuito Matopiba de Armazenagem que aconteceu, no dia 26 de agosto, em Luís Eduardo Magalhães, com a parceria da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). O evento contou com a presença do presidente da Conab, Rubens Rodrigues dos Santos; do presidente da Aiba, Júlio Cézar Busato; e o prefeito Humberto Santa Cruz, além de produtores, empresários do setor de armazenagem e representantes de instituições financeiras. O principal tema debatido foi a necessidade da construção de silos públicos na última fronteira agrícola do país - seus benefícios e desdobramentos econômicos e sociais para todo o Nordeste.

O presidente da Aiba agradeceu a confiança da Conab por buscar a Aiba como parceira e disse que a construção do armazém será importante para os produtores, para o mercado consumidor e para a implantação de agroindústrias no oeste da Bahia. 

“ A construção do armazém terá resultados imediatos, uma vez que o governo poderá formar estoque regulador, o que será fundamental para a execução da Política de Garantia de Preços Mínimos, além de incentivar o plantio do milho. 

Já o produtor terá segurança para estocar sua produção e escoar para a Bahia e todo o Nordeste, com custo reduzidos de logística. Isso também vai fomentar a pecuária nesta região do país”, afirmou Busato.

O prefeito de Luís Eduardo Magalhães, Humberto Santa Cruz, responsável pela doação do terreno para a construção do armazém da Conab no oeste, afirmou que a realização do evento foi importante para a definição de investimentos direcionados ao Matopiba.

O presidente da Conab abriu seu discurso também agradecendo a Aiba por todo o apoio dado para que o evento acontecesse e afirmou que “sem este apoio, talvez a série de debates não pudesse ter sido iniciada”. 

“Algumas características precisam ser discutidas e analisadas com o setor para que os nossos técnicos possam tomar as medias necessárias e ajudar para que as políticas públicas cheguem até a região”, destacou Rubens.

Pela manhã, técnicos da Conab falaram sobre as tendências de mercado para a safra 2015-16 nas culturas de milho, soja e algodão. O primeiro a falar foi o gerente de Oleaginosas e Produtos Pecuários, Thomé Guth. Segundo ele, o Brasil é o segundo maior exportador de milho do mundo, com uma previsão de produção para a safra 2015-16, de 28 mil toneladas. Somente o oeste da Bahia, deverá contribuir com 1,5 mi de toneladas deste total, de acordo com o Conselho Técnico da Aiba.

Em seguida, o técnico da Gerência de Fibras e Produtos Especiais e Regionais, Djalma Aquino, fez um histórico da cotonicultura no país. “Na década de 90, o Brasil era um dos grandes importadores mundiais de algodão; atingimos o recorde em 1993. Naquele ano, a indústria consumiu 830 mil toneladas e teve que importar 500 mil toneladas”, disse.  

Atualmente, o Brasil é o 4º maior exportador mundial, atingindo o recorde de 1.052 mil t e faturamento de US$ 2,1 bilhões em 2012. Na safra 2014-15, o Matopiba contribuiu com 33,24% da produção nacional de algodão. Para a safra 2015-16, o oeste da Bahia, segundo maior produtor nacional da fibra, produzirá 972 mil toneladas. 

Para Djalma, a continuidade do crescimento da cotonicultura brasileira está intimamente ligada ao mercado internacional, pois, segundo ele, a indústria nacional só consome cerca de 50% do que produz.

Os principais consumidores do algodão brasileiro são os países asiáticos, que possuem o maior parque têxtil do mundo e demandam grandes quantidades de matéria-prima, e grande parte é importada. Com exceção da China e da Índia, os demais pouco ou nada produzem. 

“Nossos principais concorrentes, (EUA, Austrália, Índia entre outros) têm limitações. Fator clima, priorização de terras para cultivo de alimentos. A Índia é o único país que pode incrementar a produção com a mesma área de cultivo (11,6 milhões/ha), mas para isso tem que fazer uso intenso de tecnologia”, explicou. Neste cenário, as chances do Brasil atingir a liderança mundial são grandes.

Encerrando as apresentações sobre as commodities, outro técnico da gerência de Oleaginosas, Leonardo Amazonas, apresentou os números da soja. Segundo ele, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, com 30,31% da produção total. A China é o principal mercado consumidor da soja produzida no mundo, ficando com 64,07%.

A previsão para a safra 2015-16, no Brasil, é de que sejam colhidas 97 milhões de toneladas, sendo que 5,47 milhões de toneladas sairão do oeste da Bahia. O Matopiba produz 10,47 milhões de toneladas de soja, o que corresponde a 10,88% da produção nacional.

Com os números da previsão para a safra 2015-16, o superintendente regional da Conab, Rafael Bueno, apresentou o perfil da rede de armazenagem do Matopiba. De acordo com a apresentação dele, 96,01% das unidades são privadas; 3,60% são de cooperativas e apenas 0,39% é pública. No oeste da Bahia, especificamente, 98% dos armazéns são privados e 2% pertencem a cooperativas.

Na sequência, o gerente de Cadastro e Credenciamento, Luiz Campos, informou que das 17.502 unidades armazenadoras que o Brasil possui, apenas 884 estão no Matopiba. Ou seja, a região responde por apenas 5% da capacidade nacional de armazenagem. Campos encerrou sua apresentação informando que 84% dos silos do país são graneleiros e 16% convencionais.

Rafael Bueno retornou ao debate falando sobre a função da Conab e como é feita a política de comercialização das commodities. A forma de aquisição de produtos por parte da Conab pode ser feita de maneira direta, com a Conab comprando do produtor; ou indireta, através de leilão. 

Os instrumentos de comercialização utilizados são: leilões públicos e de terceiros, centro de operação e venda (COV), prêmio equalizador pago ao produtor rural e/ou cooperativa (Pepro) e prêmio para escoamento de produto (PEP).

Também foram temas das palestras do turno da manhã, os instrumentos de comercialização, boas práticas de armazenagem e credenciamento de armazéns. 

À tarde, os debates foram direcionados para as linhas de financiamento para armazenagem. Os representantes das instituições que atuam na região – Desenbahia, Banco do Brasil, Banco do Nordeste e Caixa Econômica – apresentaram suas linhas de crédito e financiamento privado. Já o diretor de Infraestrutura, Logística e Geoconhecimento do Mapa, Marcelo Cabral, falou sobre os créditos públicos oferecidos para a safra 2015-16, que são o PCA (armazéns) com R$ 2 bilhões disponíveis, 3 anos de carência, até 15 anos para pagar e taxa de juros de 7,5% ao ano; e o PSI (cerealista) com R$ 400 milhões disponíveis, 3 anos de carência, até 15 anos para pagar e taxa de juros de 9% ao ano.

O evento foi encerrado com o presidente da Aiba explicando a importância do armazém para o produtor. “O armazém no município baiano é importante para que os produtores da região possam participar dos programas de comercialização executados Conab. Isso pode nos ajudar a recuperar a área plantada de milho, que a cada ano apresenta queda devido à incerteza nos preços de comercialização”, avaliou o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Júlio Cézar Busato.

A expectativa é que a segunda etapa do Circuito Matopiba de Armazenagem seja realizado na primeira quinzena de outubro em Eliseu Martins (PI).Estrutura – O armazém ficará a 11 km do município de Luís Eduardo Magalhães, na BR 020, sentido à Brasília, numa área de 100.000m², em terreno doado pela Prefeitura. 

Segundo o superintendente de Armazenagem da Conab, Rafael Bueno, as obras deverão ser iniciadas no segundo semestre de 2016 e serão concluídas em um ano. Quando estiver em pleno funcionamento, a unidade vai gerar cerca de 15 empregos diretos. 

A unidade seguirá a linha da sustentabilidade, com a utilização de recursos renováveis (energia solar) e emissão mínima de poluentes no ar, causando menor impacto no meio ambiente. O investimento será de cerca de R$ 72,5 milhões e terá a seguinte estrutura: graneleiro fundo “V” de 8 septos; capacidade estática de 100 mil t; setor de pré-classificação; recepção duas linhas de 300 t/h; 4 moegas de 40 toneladas; 3 secadores de 200 t; balança para até 120kg; 6 máquinas de limpeza para até 100 t/h; ensacador com capacidade de 30 t/h; convencional 3 mil/t; pátio para 109 carretas; escritório; refeitório; oficina; vestiário de funcionários e base de apoio para motoristas.