Direito

Vítimas violência doméstica têm face marcada e necessitam de cuidados

vide
Ascom MP , Salvador | 28/09/2014 às 10:07
Aconteceu no MP
Foto: MP BA
Pouco se ouve falar sobre o significado dos danos ao rosto feminino nas relações conjugais violentas ou que a face é a parte do corpo mais visada pelos agressores, que acabam não sendo punidos porque nem sempre a mulher denuncia por medo, vergonha e outros motivos. Essas questões foram tratadas hoje, dia 26, pela odontóloga e mestra em saúde coletiva Suzana Magalhães durante o bate-papo mensal do projeto “Diálogo dos Saberes”, do Ministério Público estadual, que há três anos vem promovendo a articulação da comunidade acadêmica com a sociedade civil.

Citando pesquisas que mostram o crescente número de casos de violência doméstica contra a mulher, Suzana diz que, atuando como dentista e ministrando aulas em diversos espaços, incluindo o voluntariado em entidades voltadas para os cuidados com a mulher, se interessou pelo assunto que acabou virando tema de seu trabalho de mestrado, concluído no ano passado. Realizou uma pesquisa utilizando informações da Delegacia da Mulher (Deam) e os dados colhidos entre os anos de 2004 e 2008 mostraram que das mulheres atendidas nesse período por conta de lesões corporais, 63,2% foram vitimadas na face.

Lembra Suzana que teve dificuldade em conseguir realizar entrevistas com essas mulheres, mas teve acesso a muitas informações dando conta de baixa auto-estima, depressão, casos de mulheres que não saem de casa em função das cicatrizes no rosto, havendo aquelas que ficaram com deformidade permanente. Tudo isso ganha um significado maior, prosseguiu a palestrante, por “vivermos numa cultura onde o rosto é valorizado e se as pessoas relutam em aceitar as rugas que são marcas naturais, imagine as marcas impostas pela violência, envolvendo alguém com quem já tivemos uma relação amorosa e age de forma a impossibilitar novas relações para a ex-companheira.”

Segundo Suzana, é lamentável que, segundo o último mapa da violência, o Brasil ocupe o sétimo lugar em homicídios contra as mulheres, estando a Bahia em segundo lugar, perdendo apenas para o Espírito Santo, e Salvador em quinto lugar. Da mesma forma, lamenta que no Nordeste, 54% das mulheres sofrem um tipo de violência pelo menos uma vez na vida. O que defende, partindo da experiência que vive em suas atividades e verificada nas suas pesquisas, é um maior entrosamento entre os serviços da área de saúde buscados pelas mulheres agredidas que, na maioria dos casos, omite os motivos e não são instadas a informar, e a área psicossocial e da segurança pública.

Para ela, o projeto do MP é muito importante por trazer para a Instituição dados que vão fortalecer as iniciativas que são fundamentais para minimizar a situação atual. O debate de hoje foi aberto pela psicóloga Cinthia Amaral, que reiterou a importância do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher (Gedem), onde atua, em oportunizar às pessoas da rede de atendimento e estudantes o compartilhamento do saber, antes restrito aos setores acadêmicos. Ela concluiu que é importante para o MP cumprir seu papel de fomentador de políticas públicas indicando caminhos.