Cultura

A CADEIRA E O ALGORITMO CAPITULO 2: O SENTIDO E O TEMPO DA VIDA (TF)

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Tasso Franco , da redação em Salvador | 25/10/2021 às 11:05
A convivência das novas e velhas tecnologias, o lap. a cadeira e o fogão a lenha
Foto: OG
       Vamos por parte para melhor compreensão deste livro. O homem comum – a maioria da população mundial, respeitando-se as diferenças culturais – é diferenciado do homem intelectual, do homem de negócios, do homem político-poder, do homem jurídico e do mais refinado que, comumente, chamamos de ricos.

      Ouço, com frequência, uma questão nas minhas rodas de conversas do homem comum aquele que conquista e adquire o mais com o menos, prático, objetivo, se a duração do tempo de vida de cada pessoa – no normal, até a velhice – é curta.

     Há uma frase, corriqueira nesse meio que diz o seguinte: “A vida é curta, portanto, tempos que aproveitá-la” Outros, mais filósofos populares, comentam quando estão diante de um falecido ainda em meia idade: “É por isso que curto a vida a cada instante”.

     São tantos os dizeres populares que encheria esta página e não valeria a pena citá-los a larga. Esses exemplos acima dão para entender do tema.

     Na filosofia estoica – ética na rigidez de princípios morais - Lúcio Sêneca (4 a.C) cunhou a interpretação "vocês agem como mortais em tudo o que temem e como imortais em tudo que desejam" no prolongamento da interpretação do pensamento aristotélico "a vida é curta, a arte é longa"?

    O estoicismo foi uma escola de filosofia helenística fundada na Grécia, em Atenas, por Zenão de Cítio no início do século III a.C  como um modo de vida: a melhor indicação da filosofia de um indivíduo não era o que uma pessoa diz, mas como essa pessoa se comporta. Para viver uma boa vida, era preciso entender as regras da ordem natural.

   Sêneca, por posto, estabeleceu que não é que tenhamos pouco tempo de vida, mas desperdiçamos muito dela. "A vida é longa o suficiente e uma quantia bastante generosa nos foi dada para as maiores realizações se tudo fosse bem empregado".

  Ou seja, agir como mortal em tudo que se pode temer - a calúnia, a difamação, o adultério, a morte - é uma coisa; e imortais em tudo que desejam - a luxúria, o uso da escravidão em benefício próprio, a riqueza, a mulher alheia - é distinto.

    Deveria, assim sendo, ao menos ter uma interpretação final agradável já que todos somos mortais e influenciados pela natureza.

   Em "Sobre a Vida e a Morte” Sênca analisa a busca da felicidade e o conceito de natureza aplicada ao ser humano, considerações morais próprias do estoicismo. Sêneca foi condenado ao suicídio por conspirações contra o imperador Nero e morreu aos cortar os pulsos aos 68 anos de idade

  Ocupava-se da forma correta de viver a vida (ou seja, da ética), da física e da lógica. Via o estoicismo como a maior virtude, o que lhe permitiu praticar a imperturbabilidade da alma, denominada ataraxia (termo utilizado a primeira vez por Demócrito em 400 a.C.

  Sêneca via, no cumprimento do dever, um serviço à humanidade. Procurava aplicar a sua filosofia à prática. Deste modo, apesar de ser rico, vivia modestamente: bebia apenas água, comia pouco, dormia sobre um colchão duro 

   Não viu nenhuma contradição entre a sua filosofia estoica e a sua riqueza material: dizia que o sábio não estava obrigado à pobreza, desde que o seu dinheiro tivesse sido ganho de forma honesta.

    Em conversa com Serenus - um dos seus grandes amigos - sobre a tranquilidade da mente disse: "Quando olhei para dentro de mim, Sêneca, alguns vícios apareceram claramente na superfície, de modo que pude colocar minha mão sobre eles; alguns estavam mais escondidos na profundezas, alguns não estavam lá o tempo todo, mas voltam em intervalos. Eu diria que esses últimos são os mais problemáticos. Eles são como inimigos rondando que se lançam sobre você quando a ocasião se apresenta e não permitem que você esteja pronto como na guerra, nem à vontade como na paz". 

   O filósofo conceituava que o maior obstáculo à vida é a expectativa, que depende do amanhã e desperdiça o hoje. Você está discutindo o que está sob o controle do destino e abandonando o que está sob o seu controle. O que você está observando? Para qual objetivo você está se esforçando? Todo o futuro está envolto na incerteza: viva imediatamente". 

    Então, por que nós, em pleno século XXI ficamos ainda nos dias atuais analisando esses princípios filosóficos de Sêneca, Aristóteles, Platão e outros gregos da antiguidade?

   Ora, porque a vida do homem comum é eticamente estabelecida dentro desses princípios básicos cujas pessoas sequer já leram os pensadores gregos.

     E como conseguiram captar esses ensinamentos ao longo dos séculos, com culturas tão diferenciadas?

    Porque há uma filosofia da vida, instintiva, difundida pela oralidade e cada qual vai pautando sua existência dentro do possível, do simples, do realizável.

    De que adianta Zé conhecer os ensinamentos de Aristóteles ou mais recentemente os de Jean Piaget ou as teorias de formação do inconsciente de Jaques Lacan? Absolutamente nada.

    Minha mãe, nascida no interior da Bahia, em 1927, nunca lera Piaget e praticava métodos piagentinos na fase sensorial e motora (0 1 2 anos) dos seus 4 filhos.

   Mas, como isso foi possível? Como ela somente no olhar e no gesto do dedo de não-não, dizendo poucas palavras, impedia nossos impulsos de descer os degraus da escada do chalé onde morávamos? Na intuição, na hereditariedade ensinada por seus pais.

   Para o homem comum – assim penso – a vida é longa, sem mistérios, sem muitas teorias filosóficas, antropológicas, sociológicas e psicológicas a estudar e a seguir,

   E muitos entregam seu destino final a Deus. Morreu? Que os espíritos sejam afugentados com flechas ao ar como faziam os antigos indígenas norte-americanos, ou cultuando as caveiras como fazem os mexicanos, até os dias atuais.

    O homem comum está inserido no contexto das novas tecnologias sentado em sua cadeira de espaldar. E vai se adaptando a ela como pode, sem temor, e ainda usando fogão de lenha.