Cultura

ASCENSOR DA BICA: O BONDINHO AMARELO MAIS CHARMOSO DE LISBOA (TF)

Uma viagem que leva o cidadão a sentir-se como se estivesse no séc XIX. Leia todas as cronicas do livro de TF no wattpad.
Tasso Franco , da redação em Salvador | 24/06/2020 às 07:29
Ascensor da Bica
Foto: BJÁ
    O jornalista Tasso Franco publicou nesta quarta-feira, 24, no wattpad a sua 27ª crônica no livro Lisboa como você nunca viu, a Pensão do Amor, sobre o Ascensor da Bica que liga a Baixa Pombalina ao Largo do Chalariz. Leia as demais crônicas no wattpad.

ASCENSOR DA BICA: O BONDINHO AMARELO MAIS CHARMOSO DA CAPITAL PORTUGUESA

 
   Lisboa é a cidade de dois andares: a Baixa (pombalina) e a alta (Bairro Alto). Irmã gêmea de Salvador nesse aspecto. Lisboa tem quatro elevadores que fazem trajetos entre as duas cidades e várias ladeiras cujos percursos podem ser feitos a pé, de bonde, táxi, ônibus, ‘tuc-tuc’, motos.

   Que coincidência! Salvador também tem quatro elevadores com essa mesma finalidade e várias ladeiras. Em Lisboa, os elevadores são: da Justa e ascensores da Lavra, da Glória e da Bica; Em Salvador, o Lacerda e os ascensores (chamados de planos inclinados), do Comércio (Gonçalves), do Taboão e da Liberdade.

   Não dá para conhecer todos de uma só vez numa viagem a Lisboa. Na próxima, se for possível, irei ao da Lavra, o mais antigo da capital portuguesa. O da Glória também é muito legal: vai da Praça dos Restauradores até o Jardim de Dom Pedro de Alcantara; e o da Lavra, das Portas de Santo Antão até o Jardim Miradouro do Torel.

  Desta feita conheci e usei o Ascensor da Bica plano inclinado que liga a Rua São Paulo, na Baixa Pombalina, ao Largo do Chalariz, no Bairro Alto. Charme puro. Seu trajeto é subindo e descendo a Rua da Bica de Duarte Belo, no bairro da Bica.

   Inaugurado em 1892, até hoje, mantém-se funcionando e é mais usado pelos turistas do que por moradores desse bairro enladeirado.

   A Bica é um bairro histórico e central de Lisboa. É lindo. Um conjunto de ruas estreitas, becos, travessas, escadas, escadinhas, barzinhos, pousadas, residências, livrarias, azulejarias.

   A área teria sido de um judeu na época de Dom João II (rei de Portugal entre 1477 e 1495) e o bairro se formou a partir de 1597 habitado por pescadores e artesãos. Tá pertinho do Tejo. Como várias casas tinham bicas para escorrer a água dos tetos o nome do bairro nasce daí. Ninguém sabe porque Bica de Duarte Belo. 

   O bilhete para usar o bondinho custa 3.8 euros com direito a subir e descer, numa viagem que dura apenas 4 minutos.

  Pelo prazer de usar um bondinho, pela vista do Tejo e do casario e pelo passeio no Chalariz vale a pena. O turista pode fazer esse passeio subindo e descendo a Rua da Bica pelas escadas. É preciso, no entanto, ter algum preparo físico e cuidados para não escorregar. Há, ainda, transversais que passam veículos e bikes.

   As cabines do ascensor são pequenas com capacidade para 9 passageiros sentados e trajeto de 283 metros via carril duplo como no Plano Inclinado Gonçalves, em Salvador. A depender do dia as filas são imensas para pegar o funicular, mas, vale a pensa conhecer.

   A entrada inferior é feita no interior de um edifício (Rua São Paulo, 234), e não na via pública. A subida inicia-se saindo desse mesmo imóvel, pelas traseiras, como se fosse a sair de um túnel.

 

   O seu traçado, em cerca de 70 metros de altura, é partilhado por trânsito automóvel, o que não se sucede em nenhum dos outros funiculares portugueses. Tal ocorre porque a encosta serve de espinha dorsal do Bairro da Bica, podendo circular pequenos veículos.

   A concepção do Elevador da Bica foi do engenheiro português Raoul Mesnier de Ponsard, responsável também por numerosos projetos similares, como o Elevador da Justa que vai da Rua do Ouro ao Largo do Carmo.

   Em 1896 integrou-se à nova era industrial inglesa e passou a mover-se a vapor. Em início do século XX, com mais uma transformação industrial e a instalação de sistemas de energia elétrica em Lisboa, procedeu-se à sua eletrificação, em 1914. Nesse mesmo ano sofreu um acidente e esteve parado durante nove anos.

   Com mais de um século de existência é o ascensor considerado mais típico de Lisboa e, embora não tenha a mesma afluência do Elevador da Glória, tem forte apelo turístico. Quem está no Mercado da Ribeira ou nas proximidades do Cais do Sodré (Praça São Luís e adjacências) pode pegar esse ascensor e chegar ao bairro Alto, ou Cidade Alta.

 Devido à sua enorme importância histórica e cultural, o elevador foi classificado de Monumento Nacional em fevereiro de 2002.

Em 2010, ganha no design pela arte do artista plástico Alexandre Farto, que recobriu a superfície amarela com película opaca metálica refletora, projeto da Carris «Arte em Movimento», integrado num programa de Apoio da Arte Contemporânea Portuguesa.

Fosse no Brasil ganharia logo o apelido de amarelinho. Charme não lhe falta. Ao 'coger' esse ascensor, como dizem os espanhóis, tem-se a sensação de estar no século XIX e isso traz algum conforto nos dias atuais de correria. 

A medida em que o bondinho desliza pelos trilhos passa um filme em nossas cabeças. É como se você estivesse vivendo no século XIX. Maior prazer, ainda, é andar pelos becos da Bica e sentar numa tenda portuguesa para saborear uma sardinha assada no álcool degustando um alentejo red.