Cultura

ROSA DE LIMA COMENTA LIVRO JN 50 ANOS DE TELEJORNALISMO, BÁRBARO

Uma leitura indispensável para quem deseja conhecer o JN e seus bastidores
Rosa de Lima , Salvador | 26/03/2020 às 17:56
50 anos do JN
Foto: 50 anos do JN

 A Rede Globo de televisão está na berlinda há algum tempo diante de ações de fundamentalistas à esquerda e à direita difundidas pelas redes sociais utilizando-se de expressões vulgares "Globo Lixo", "Isso a Globo não publica" e outros dizeres que só condizem com aqueles que detestam o jornalismo na sua forma mais responsável ouvindo os dois lados, opinando, esclarecendo, pondo imagens no ar, e só querem ou admitem o jornalismo do amém. É incrível porque essas pessoas, algumas delas, criticam o modelo chavista venezuelano, o modelo cubano, mas, no fundo gostariam que no Brasil também fosse assim.

 O livro "JN (Jornal Nacional) 50 anos de Telejornalismo (Globo Livros, 435 páginas, 2019, R$49,00) revela a trajetória do JN em seu cinquentenário e quem tiver oportunidade de ler os textos com depoimentos de jornalistas e técnicos que atuaram e ainda trabalham na Rede Globo compreenderá melhor a dimensão do JN, e a expressão o "boeing vai decolar" como dizia Armando Nogueira.

Tomar conhecimento do trabalho dos profissionais e da empresa, a responsabilidade de colocar no ar o mais visto jornal televisivo do país e os incontáveis episódios e narrativas de furos, aventuras, fatos do dia-a-dia e especiais produzidas para este jornal. 

Ressalte-se que a noticia não tem hora e local para acontecer. De repente, vive-se um momento de normalidade e cai um avião como aconteceu em São Paulo provocando a morte de mais de cem pessoas e torna-se um dia especial. 

 Lendo o livro, diria que só mesmo pessoas insensatas são capazes de considerar a Globo um lixo. O documento em tela representa, também, a história do telejornalismo no Brasil. Não uma única versão pronta e acabada porque existem outras emissoras no país, mas, conta uma parte significativa dessa trajetória do telejornalismo no país, as inovações que se processaram ao longo dos anos, as mudanças tecnológicas que permitiram o envio de reportagens com áudio e imagens de quaisquer partes do mundo, o que era quase impossível quando o JN nasceu, em 1969, graças a internet e a recursos da inteligência artificial.

O livro é, pois, uma aula de história do telejornalismo com depoimentos emocionantes de profissionais que compõem esse cenário e trajetória, fotos que se olhadas com carinho revelam cenários diferenciados dos estúdios, dos apresentadores e apresentadoras, dos repórteres e das repórtes, e aí estão à vista a moda, a tecnologia, um Brasil que também foi mudando. É só verificar as fotos de Milton Valinhos, de costeletas, operando uma câmara RCS; Dulcinéia Novas na década de 1990; e ou Reginaldo Leme, em 1982, ao lado de Ayrton Senna, em Londres.

 O JN não é um jornal qualquer. E a Globo não é uma emissora qualquer. Trata-se de uma rede com 112 afiliadas que cobre o Brasil de Norte a Sul; de Leste a Oeste e tem escritórios em NY, Londres, Roma, Paris e Tóquio e correspondentes e serviços de agências nos 5 continentes. Onde tem noticia, tem JN. E, quem já teve oportunidade de acompanhar uma Copa do Mundo de futebol pela Globo, uma eleição presidencial, um momento de trajetória como ocorre agora com o coronavirus sabe o que isso significa. A diferença que há para as outras emissoras. Daí a liderança da Globo e sobretudo do JN nos seus 50 anos de existência. 

A apresentação do livro é de Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da Globo, que revela os primórdios: "A criação do JN foi obra da dupla Armando Nogueira e Alice Maria, uma mulher que imprimiu, atrás das câmaras, um estilo ao jornal e moldou nossa reportagem". No final do seu texto bem enxuto confessa: "O leitor sairá deste livro com uma certeza, o Jornal Nacional a que assiste todas as noites é fruto de muito trabalho, honestidade exemplar e dedicação extrema de seus profissionais. Há cinquenta anos".

Em sequência, Ali Kamel, diretor geral de jornalista, comenta no artigo "O JN  e o jornalismo profissional" destaca: "Tudo, sempre, depende de uma coleção de cabeças. Como o ambiente de uma redação está muito longe do ambiental de um quartel, o processo não se estabelece segundo a fórmula 'eu mando, você obedece'. O processo se estabelece segundo a fórmula: "Eu mando, mas para decidir dependo de muitos". Lembrando, ainda, como bem pontuou Kamel que "a diversidade ideológica em uma redação é ao mesmo tempo um fato e uma necessidade". 

O livro está dividido em capítulos e quem coordenou soube desoar depoimentos de jornalistas que aparecem no video, dos profissionais que atuam nos bastidores das redações - jornalistas, redatores e produtores - de técnicos, motoristas e câmaras. São depoimentos emocionantes cada qual narrando suas experiências desde o JN no Ar.

Um desses depoimentos, da repórter Glória Maria ela conta como fez a primeira entrada ao vivo, em cores, no JN. As imagens foram gravadas na Av Brasil porque era colorido. Conta que faltando três minutos para entrar no ar o iluminador queimou. O repórter cinematográfico era o Roberto Padula que acedeu os faróis do veiculo da Globo, uma Veranio, e a imagem que foi ao ar só mostrava da altura das pernas para cima. Gloria diz: "Nossa primeira entrada ao vivo, com transmissão em cores, foi comigo e o cinegrafista de joelhos, sob a iluminação de um farol de carro".

Bem, há vários depoimentos no livro, cada um mais interessante do que o outro. JN 50 anos de Jornalismo, como diria a Glória Maria, é barbaro.