Cultura

Trilha sobre Levante dos Malês reforça história de 206 anos em Lauro

Levante dos Malês ainda precisa de estudos mais aprofundados
Da Redação , Salvador | 02/03/2020 às 10:32
Encenação cultural
Foto: Lucas Lins
Trilha ancestral sobre Levante dos Malês reforça história de 206 anos em Lauro de Freitas

Em 28 de fevereiro de 1814, negras e negros escravizados gritaram por liberdade às margens do Rio Joanes, na freguesia Santo Amaro de Ipitanga. Para revisitar a história do Levante dos Malês que completou 206 anos na úlima terça-feira (28), a Superintendência de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Ações Afirmativas (SUPIR) de Lauro de Freitas promoveu a “I Trilha Ancestral do Joanes”.

Embaixo de árvores e às margens do Rio Joanes, a trilha experimental de ancestralidade foi realizada no Centro de Referência da Cultura Afro-Brasileira - Terminal Turístico Mãe Mirinha de Portão. Ao público foi proporcionado um passeio de saberes por meio de apresentações de teatro, capoeira, samba e rodas de conversas que refletiram o massacre dos mais de 50 escravos insurgentes.

O Levante de 1814 – Combate às Margens do Rio Joanes – antecede a Revolta dos Malês em 1835. Paulo Aquino, superintendente da SUPIR, reforça que uma das propostas da trilha é fortalecer o legado histórico que o levante representa para o povo negro de Lauro de Freitas, antiga freguesia Santo Amaro de Ipitanga.

“A trilha marca os 206 anos do levante e visa à promoção da data 28 de fevereiro no município. É uma forma de preservar a história e abrir campo para a pesquisa e disseminação do conhecimento. Por isso, nosso intuito é promover mais trilhas ao longo do ano e com a participação de escolas”, concluiu Paulo Aquino. Participaram da trilha os grupos culturais Som do Levante, Samba de Roda Oxóssi Guerreiro, Capoeira Expressão Corporal e Companhia de Teatro Tradições.

O passeio de saberes intercalou falas junto com esquetes teatrais, que abordaram a história de indígenas como primeiros povos do Brasil até a chegada de colonizadores e a venda de escravizados trazidos da África, e performances. Ednei William, 16, tratou a experiência ancestral como um momento libertador. “Quando há um negro ocupando qualquer espaço que antes lhe era negado, isso é uma revolução. Este espaço aqui, onde pessoas estão discutindo ancestralidade e contemporaneidade, é uma revolução”, ressaltou.

Mulheres Malês no Joanes

O embate ocorrido no dia 28 de fevereiro de 1814 contou com a participação de mulheres que também gritaram por liberdade própria, de seus filhos e companheiros. Tereza, Germana, Ludovina e Francisca. Nomes de Malês que fizeram parte do processo do levante e que está na memória ancestral de Cláudia Santos (Mãe Cacau), coordenadora executiva da SUPIR.

“As mulheres negras sempre tiveram ativa participação nas lutas pela liberdade da escravidão. Além de assumirem o papel de zelar e alimentar a família, elas estiveram presentes nas batalhas e utilizaram de mecanismos para auxiliar seus companheiros. Os cabelos traçando, por exemplo, não era apenas para marcar a beleza ou identidade da mulher negra, era uma forma de desenhar mapas de fugas ou de esconder sementes que serviriam posteriormente para o plantio e colheita”, contou Mãe Cacau.