Cultura

LISBOA TEM SHOWS DE FATOS PARA TODOS OS GOSTOS EM BARES E RESTAURANTES

Música apaixonante e que se canta com a alma
Tasso Franco , da redação em Salvador | 12/01/2020 às 10:21
Felipe Alencastro na Adega do Machado
Foto: BJÁ
    Participei de uma noite de fado, em Lisboa, com o veterano Felipe Alencastro e mais três fadistas e um grupo de guitarristas de primeira qualidade na Adega Machado, casa tradicional do bairro Alto, em Lisboa. Noite agradável com fadistas apaixonados e que cantam com a alma velhas e novas canções desse estilo musical português. 

   Alencastro foi acompanhado por um músico de guitarra portuguesa, por outro de guitarra clássica  e um baixista acústico. Essa é a formação clássica da cantoria dos fadistas, mas, há quem acrescente aos grupos a flauta, a sanfona e o bandolim a depender da casa. 

   O fado é Património Cultural e Imaterial da Humanidade pela UNESCO desde 2011 e sua etimologia vem do latim fatum, ou seja, "destino". Parece uma música repetitiva e até enjoativa para uma apresentação de duas horas. E, em certo sentido, é. É a mesma coisa do samba. Há quem ache um show com duas horas de samba, cansativo. Mas, pra quem curte fado e samba é fantástico.

   Há vários ritmos no fado, assim como no samba, no frevo e no baião ou noutros generos musicais. O mais apreciado é o moderno pop no modelo apaixonado da maior fadista portuguesa: Amália Rodrigues. 

   E, embora Coimbra seja a capital do fado pelo fato dessa tradição musical ter sido praticamente iniciada por lá, Lisboa é, de fato, a capital principal do fado com diversas casas de shows, restaurantes e bares onde se ouve o fado, na Mouraria, na Alfama e outros locais.

   Não é música para dançar e sim para ouvir, se emocionar, se apaixonar. (TF)

   WIKIPÉDIA 

   Não existem registos do fado até ao início do século XIX, nem era conhecido no Algarve, último reduto dos árabes em Portugal em 1249, nem mesmo na Andaluzia onde os árabes permaneceram até aos finais do século XV.

   "Na Irlanda, o cantor ou vate tinha o nome de Faith, e no tempo de Francisco I, Fatiste era o compositor «de jeux et novalistés » em que se vê a transição para a forma dramática, e a importância que merece entre nós o nome de Fadista dado ao cantor popular."

   Uma outra origem é do escandinavo "fata", que significa vestir, compor, que teria dado origem, segundo outra teoria, no francês antigo ao termo "fatiste" que significa poeta."Assim podemos ver que o fado é uma degeneração da xacara, que pelas transformações sociais, veio a substituir a canção de gesta da idade média".[5]

  No essencial, a origem do fado é ainda desconhecida, mas certo é, que surge no rico caldo de culturas presentes em Lisboa, sendo por isso uma canção urbana.

   O fado só passou a ser conhecido depois de 1840, nas ruas de Lisboa. Nessa época só o fado do marinheiro era conhecido, e era, tal como as cantigas de levantar ferro as cantigas das fainas, ou a cantiga do degredado, cantado pelos marinheiros na proa do navio. O fado mais antigo é o fado do marinheiro. 

   Na primeira metade do século XX, já em Portugal, o fado foi adquirindo grande riqueza melódica e complexidade rítmica, tornando-se mais literário e mais artístico. Os versos populares são substituídos por versos elaborados e começam a ouvir-se as décimas, as quintilhas, as sextilhas, os alexandrinos e os decassílabos.

Durante as décadas de 30 e 40, o cinema, o teatro e a rádio vão projectar esta canção para o grande público, tornando-a de alguma forma mais comercial. A figura do fadista nasce como artista. Esta foi a época de ouro do fado onde os tocadores, cantadores saem das vielas e recantos escondidos para brilharem nos palcos do teatro, nas luzes do cinema, para serem ouvidos na rádio ou em discos.

O Fado em Lisboa

O musicólogo Rui Vieira Nery, considera que a história do fado tem início bem longe de Lisboa mas o investigador Paulo Caldeira afirma que o fado começou por ser cantado nas chamadas "Casas de Fado" , como Alfama, Castelo, Mouraria, Bairro Alto, Madragoa. 

A primeira cantadeira de fado de que se tem conhecimento foi Maria Severa Onofriana que cantava e tocava guitarra nas ruas da Mouraria, especialmente na Rua do Capelão. Era amante do Conde de Vimioso e o romance entre ambos é tema de vários fados.

Mas é com início do século XX que nasce Ercília Costa, uma fadista quase esquecida pelas vicissitudes do tempo, que foi a primeira fadista com projecção internacional e a primeira a galgar fronteiras de Portugal.

Os temas mais cantados no fado são a saudade, a nostalgia, o ciúme, as pequenas histórias do quotidiano dos bairros típicos e as lides de touros. Eram os temas permitidos pela ditadura de Salazar, que permitia também o fado trágico, de ciúme e paixão resolvidos de forma violenta, com sangue e arrependimento. Letras que falassem de problemas sociais, políticos ou quejandos eram reprimidas pela censura.

Deste fado "clássico" são expoentes mais recentes Carlos Ramos, Alfredo Marceneiro, Maria Amélia Proença, Berta Cardoso, Maria Teresa de Noronha, Hermínia Silva, Fernando Farinha, Fernando Maurício, Lucília do Carmo, Manuel de Almeida, entre outros.

O fado moderno iniciou-se e teve o seu apogeu com Amália Rodrigues. Foi ela quem popularizou fados com letras de grandes poetas, como Luís de Camões, José Régio, Pedro Homem de Mello, Alexandre O’Neill, David Mourão-Ferreira, José Carlos Ary dos Santos e outros, no que foi seguida por outros fadistas como João Ferreira-Rosa, Teresa Tarouca, Carlos do Carmo, Beatriz da Conceição, Maria da Fé, Carlos Macedo, Mísia e Dulce Pontes. 

Também João Braga tem o seu nome na história da renovação do fado, pela qualidade dos poemas que canta e música, dos autores já citados e de Fernando Pessoa, António Botto, Affonso Lopes Vieira, Sophia de Mello Breyner Andresen, Miguel Torga ou Manuel Alegre, e por ter sido o mentor de uma nova geração de fadistas. Acompanhando a preocupação com as letras, foram introduzidas novas formas de acompanhamento e músicas de grandes compositores: com Amália é justo destacar Alain Oulman (um papel determinante na modernização do suporte musical do fado), mas também Frederico de Freitas, Frederico Valério, José Fontes Rocha, Alberto Janes, Carlos Gonçalves.