Cultura

GRITO DAS FILARMÔNICAS DA BAHIA: FALTA APOIO DO GOVERNO DO ESTADO

Nos quatro cantos do estado a Filarmônicas saíram às ruas e tocaram para chamar a atenção contra o descaso dos governantes
DP , Salvador | 24/11/2019 às 10:27
Sem apoio, as filarmônicas podem desaparecer
Foto: FUP


53 filarmônicas de todas as regiões da Bahia realizaram no Dia do Músico (22), o protesto “O Grito das Filarmônicas !” tocando pelas ruas das suas cidades o dobrado “Os Músicos”, do mestre de bandas baiano João Sacramento Neto, com o objetivo de sensibilizar o Governo do Estado a respeito da falta de apoio e reconhecimento ao trabalho destas instituições seculares que prestam um serviço inestimável em seus municípios.

O resultado foi considerado um grande sucesso pelos membros da FUB - Filarmônica Unidas na Bahia, que pretende realizar novas manifestações ao longo dos próximos meses. Em Salvador, o maestro Fred Dantas reuniu músicos da Oficina de Frevos e Dobrados e da Escola Ambiental e recebeu o reforço de músicos independentes que se juntaram à causa. Se apresentou no Campo Grande.

Para ele é emblemático fazer a manifestação no Dia Mundial do Músico, que já foi celebrado com muita força na Bahia e o resultado de “O Grito das Filarmônicas” foi comemorado. “Depois do sucesso da Audiência Pública na Assembleia Legislativa, onde 105 representantes de filarmônicas compareceram foi outro feito inédito a manifestação em 50 cidades. Se tivéssemos nos articulado assim no passado não teríamos chegado a este estado de coisas em relação à atenção do poder público”, conclui.

Como foi no interior

No município de João Dourado, no Centro-Norte da Bahia, três filarmônicas se uniram para apresentar o “grito” : Filarmônica 09 de Maio, de João Dourado, Filarmônica 23 de Agosto, da cidade de Irecê e Filarmônica José Victor de Carvalho, da cidade de Lapão. Segundo o maestro Robston, de João Dourado, e reação popular foi extremamente positiva. “Vimos muitas pessoas compartilhando nas redes sociais nossa manifestação e entendendo a nossa verdadeira situação no nosso Estado”, afirmou.

Em Morro do Chapéu, na Chapada Diamantina, as duas filarmônicas, Minerva e Lira deixaram a rivalidade de lado e juntas executaram o dobrado “Os Músicos”, além de tocar outras composições. Por lá também a comunidade apoiou e aplaudiu o movimento e a reivindicação.  O resultado superou a expectativa.

No Extremo Sul da Bahia a Filarmônica Lyra Popular de Belmonte começou sua apresentação na sede da filarmônica e depois ganhou as ruas da cidade. Segundo o maestro João Reis Filho a manifestação causou muito impacto e indignação na população local pela falta de apoio do Governo Estadual, o que foi expresso nas redes sociais.

Em Senhor do Bonfim a Sociedade Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses saiu tocando da sede com 30 músicos, a maioria crianças, e ganhou as ruas da cidade, sob a regência do maestro Wilson Bispo. A população aplaudiu muito e fez e críticas ao Governo pela falta de apoio

A Lira 22 de julho de Barra da Estiva (Centro-Sul baiano), regida pela maestrina Anesia Vieira de Novais, a manifestação aconteceu na Praça Ruy Barbosa, no Centro. Nas ruas, a população quis saber porque a filarmônica estava tocando em pleno meio dia e quando foi informada deu apoio e aplaudiu muito.  O comentário era de que as filarmônicas são um patrimônio cultural da cidade e que não pode acabar. ”Algumas pessoas comentaram que a filarmônica não precisava estar  mendigando com vendas de rifas, bingos ou até mesmo fazendo pedágios nas estradas”, declarou a maestrina .

Em Mar Grande, município de Vera Cruz, a Sociedade Filarmônica Lyra Santamarense, regida pelo maestro Osvaldo Junior, parou o transito e desfilou pela rua principal da cidade, sem emitir nenhum som com os instrumentos, chamando a atenção com a faixa que informava a situação real da filarmônica. Ao chegar na Praça, a filarmônica tocou o dobrado “Os Músicos”.

“A ação repercutiu muito, pois há 15 dias o prefeito entregou a terceira remessa de instrumentos novos para a fanfarra no valor de R$ 150 mil. A população ficou se perguntando o por que dos dois governos, estadual e municipal, não ajudam a filarmônica”, revelou o regente.

O que querem as Filarmônicas da Bahia

Após muitos apelos enviados ao Governo do Estado da Bahia, no dia 28 de maio de 2019 foi realizada uma Audiência Pública, na Assembleia Legislativa, quando compareceram, além de representantes do Governo, políticos e religiosos, 105 filarmônicas representadas por músicos e dirigentes.

Como resultado desta Audiência - que deu conhecimento à maioria da população da situação das filarmônicas em nosso estado,  através da grande repercussão na imprensa - foi elaborada uma lista de atitudes a serem tomadas pelo Governo em relação às filarmônicas.

Seis meses se passaram e nenhuma resposta chegou. Por isso as filarmônicas fizeram a manifestação pacífica e sem vínculos partidários, ocupando espaços visíveis nas cidades, tocando a mesma música em sinal de unidade.

Foram esses os compromissos agendados na Audiência Pública :

Criação de GT para viabilizar as pautas das  Filarmônicas;

Desconcentração de aplicação de recursos para a filarmônica;

Editais  específicos construídos no grupo de trabalho que contemplem as filarmônicas  na parte  cultural e  na capacitação técnica ;

Verificar  a possibilidade das filarmônicas fazerem parte  do projeto Escolas Culturais;

Investimento em capacitação técnica das filarmônicas;

Tentar a patrimonialização como forma de salvaguarda;

Fazer um pacto entre a sociedade civil, deputados pelas filarmônicas;

Reabrir o quadro de músicos  da Filarmônica do maestro Wanderley, da Policia Militar- PM;

Verificar com vai ficar a casa das filarmônicas;

Apoio técnico oferecido para as filarmônicas que não possuem documentação hábil;

Programação da Rádio Educadora e da TV Educativa com o intuito de visibilizar as  filarmônicas;

Cuidar para que mestres e maestros possam ser professores nas escolas;

Cuidar para  que a secretaria de educação possa fazer convênios com intuito de oferecer professores de musica, para  que fortaleça  as filarmônicas ;

Cuidar para que os deputados tenham efetivamente emendas que beneficiem as filarmônicas;

Necessidade de uma  politica através do Governo do Estado que forneça os instrumentos  e fardamentos ;

Regime de  colaboração entre o Estado e o Município para  fortalecer as filarmônicas  e  a

Criação de uma modalidade diferenciada de premiação.