Cultura

POVO DA TABUA DO QUIJINGUE ora e canta na Cova dos Anjos no S.J. (TF)

Fazenda fica localizada entre os municípios de Tucano e Quijingue
Tasso Franco , da redação em Salvador | 24/06/2017 às 17:43
Tradição que tem mais de um século num povoado do Quijingue
Foto: FL
   A comunidade da Tabua, em Quijinque, no Nordeste da Bahia, realizou na véspera do dia santificado a São João uma cerimônia religiosa em terras de uma fazenda que pertenceu a familia Costa Pinto, hoje, de propriedade do engenheiro Fernando Pedreira Lapa, na Cova dos Anjos, onde estão sepultadas crianças pagãs entre o final do século XIX e os primórdios do século XX. 

   A tradição de homenagear essas pessoas já tem mais de um século e é realizada na boca da noite com um cortejo puxado por uma banda de pífanos, orações, foguetório e o acender de uma fogueira.

   Com pífanos executado por Zé Basílio e zabumba por Elpídio, além de outros músicos, a banda vai de cova em cova, até hoje demarcadas com pedras tocando para aquelas almas e o povo da Tabua faz orações. Para o engnheiro Fernando Lapa que contribui para manter a tradição, trata-se de uma manifestação da cultura popular muito antiga cultuada com muita fé pelos moradores do povoado que, na atualidade, passa por acentuada decadência devido as dificeis condições de sobrevivência. 

   Os irmãos Zé Beto, José (Seis E) e Elpidio que ainda moram no povoado dizem que muitas familias foram embora, a última seca contribuiu ainda mais para o esvaziamento da localidade, os jovens não querem mais viver lá, alguns roubos têm assustado ainda mais a população e vai-se vivendo. Elpidio conta que foi assaltado por dois jovens numa moto que tomaram a sua motocicleta. 

   "E até um local festivo que tinhamos aqui, que era uma espécie de bar, fechamos diante dos acontecidos", narra Seis E. 

   Zuleide de Jesus, 40 anos de idade, dois filhos adolescentes, diz que quando pequena morava em Miranddela. "Os caboclos escurraçaram as familias de lá e a nossa veio morar na Mangueira, aqui perto do Cajueiro, em Tucano, e depois fomos para Euclides da Cunha. Com o passar dos anos casei-me e vim morar na Tabua onde estou até hoje, não exatamente no povoado, mas, numa rocinha. E, desde que me entendo que participo do São João na Cova dos Anjos", comenta.

   "É Trancoso (que significa bem antigo), diz Zé Beto. Isso vem desde a época dos meus pais e dos meus avós". A Fazenda Tabua - mato de brejo - uma parte fica no município de Tucano, do Riacho da Gameleira acima; e a outra parte, inclusive o povoado no município de Quijingue, Gameleira abaixo.

   A Fazenda do espólio de Costa Pinto passou para seu filho doutor Catão e depois para João Barbosa, de Serrinha, que fora casada com Rosinha, irmã de Catão. Hoje, pertence a Fernando Lapa que mantém a casa da roça em pé e reformada, datada de 1878, e a tradição da Cova dos Anjos. Na Fazenda ainda há um cruzeiro onde durante a Semana Santa o povo da Tabua faz peregrinação. (TF)