Cultura

MÚSICA EM CENA: O rock é um eterno morto-vivo, por MAURICIO MATOS

“Sem as gravadoras, não teríamos Elvis Presley, Jimi Hendrix ‘The Beatles’, ‘The Rolling Stones’ e centenas de outras bandas clássicas”,
Da Redação , Salvador | 26/05/2017 às 18:59
O rock vai sobreviver como? Tem que reciclar
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Gene Simmons, baixista e vocalista da lendária banda norte-americana 'Kiss', afirmou, em recente entrevista, que o rock morreu. Segundo ele, o rock está morto por causa da internet. “A partir do momento em que você faz download e compartilha CDs, impossibilita que novas bandas possam viver de música”, explicou, acrescentando que as gravadoras não vão investir numa banda ou num artista, se não tiver retorno com a venda de discos. “Sem as gravadoras, não teríamos Elvis Presley, Jimi Hendrix ‘The Beatles’, ‘The Rolling Stones’ e centenas de outras bandas clássicas”, ressaltou.

O discurso de Simmons faz sentido, mas não é só isso que fez com que o rock morresse, se é que ele morreu mesmo. É notório que ele nunca esteve tão em baixa como nos últimos tempos. A juventude, público-alvo do rock, hoje prefere ouvir outros gêneros musicais, como hip-hop, dance, tecno e pop. Basta observar as ‘raves’ – festa de música eletrônica, que chega a durar um final de semana inteiro – lotadas de jovens. Isso é um fenômeno mundial.

Se trouxermos a situação do rock para o âmbito local, aí, como diz o consagrado radialista esportivo baiano Silvio Mendes, “pode beijar a viúva”. No Brasil, o rock está morto, esperando apenas o enterro ou a cremação. Além dos downloads e compartilhamentos ilegais de CDs, como revelou Gene Simmons, o ritmo aqui no país ainda sofre com o 'patrulhamento' do politicamente correto. Como é que o rock, cuja raiz é politicamente incorreta, pode fazer sucesso num ambiente desse?

Só para citar dois exemplos locais, os dois maiores expoentes do rock na Bahia, o cantor Raul Seixas (1944-1989) e a banda ‘Camisa de Vênus’ fizeram sucesso no Brasil graças as músicas e letras irreverentes e politicamente incorretas. Você já imaginou o problema que Raulzito iria causar hoje em dia, para esses coletivos feministas, com a música ‘Rock das Aranhas’, cujo refrão fala “vem cá mulher, deixa de manha, minha cobra quer comer sua aranha”. Ia ser um tal de “mexeu com uma, mexeu com todas”, “meu corpo não é objeto”, “fora Temer” e tantas outras babaquices que esses grupos entoam em manifestações.

O 'Camisa' acho que nem iria existir nesse contexto tão chato que a sociedade se transformou. A banda baiana, que tem como grito de guerra ''bota pra f*der!', estourou nacionalmente com a música ‘Eu não matei Jona D’arc’, que conta, de forma irônica, irreverente e politicamente incorreta, a história da heroína francesa que “ficava excitada quando pegava na lança e do beijo que deu na rainha da França”. E tome mais “mexeu com uma, mexeu com todas”, “meu corpo não é objeto”, “fora Temer”, etc.

Sou um cara de sorte. Aos quatro anos de idade, meu tio Sérgio Roberto me colocava para ouvir bandas como ‘Led Zeppelin’, ‘Deep Purple’, ‘Jimi Hendrix’, ‘AC/DC’, ‘Yes’, ‘Pink Floyd’, ‘Slade’, ‘Casa das Máquinas’ e todas os outros grandes grupos do rock nacional e internacional da década de 1970. Esse fato, sem sombra de dúvidas, foi fundamental para minha formação musical e me livrou, graças a Deus, de ser pagodeiro, cantor de axé ou de música sertaneja. Obrigado, o que você fez por mim não tem preço.

         Já na minha adolescência, descobri o ‘Iron Maiden’, ‘Kiss’, ‘Ozzy Osbourne’, ‘Black Sabbtah’, ‘Judas Priest’, ‘Metallica’, ‘Megadeth’, ‘Scorpions’, ‘Whitesnake’, ‘Guns and Roses’ e tantas outras bandas de rock. Parei nos anos 90 do século passado. Simbolicamente, para mim, o rock morreu ali. De lá para cá, um punhado de grupos surgiu, fez sucesso, acabou, mas nenhum deles 'apeteceu' meus ouvidos.

          O rock é assim, vive eternamente brincando de morto-vivo. Já disseram que ele morreu com o fim dos ‘Beatles’, com o falecimento de ‘Elvis Presley’ e quando o ‘Led Zeppelin’ encerrou as atividades. Mas ele sempre ressurgia para uma geração mais nova, com outra linguagem, timbres e sempre com uma forma diferente de tocar. Vamos ver até quando o rock terá fôlego para seguir em frente, morrendo e ressuscitando. Enquanto isso, como dizia Raul Seixas, “eu vou curtindo meu rockzinho antigo, que não tem perigo de assustar ninguém”.