Cultura

Lembranças de "Café", João Machado Cafezeiro, por VALDIR BARBOSA

Teixeira de Freitas, 21 de abril, por Valdir Barbosa
Valdir Barbosa , Salvador | 22/04/2017 às 11:33
Valdir Barbosa é escritor e delegado de Policia aposentado
Foto: BA
Amigos impares, amores inebriantes, lugares e pessoas impressionantes, determinados fatos e circunstâncias, bons ou maus, capazes de marcar de maneira mais indelével do que ferro em brasa inspiram autores de operas, sonetos, telas, romances, novelas, enfim, tonificam qualquer manifestação artística e cultural responsável por colorir e animar esta singular dádiva, vinda de Energia Pura, a vida.

Sobretudo,  ela - a vida - se manifesta especial, quanto mais nos permitimos crescer, na certeza de que não são as benesses, ou provações do cotidiano, impostas à veste frágil concedida aos viventes deste plano passageiro, o quanto importa. Vale mesmo, a certeza de que vimos, cada um dos viandantes desta terra onde aportamos no agora, na missão de evoluir, através condutas que adotarmos alçando voos, rasos ou elevados, nas asas do livre arbítrio.

 Afinal, apenas despidos deste invólucro carnal para invadir o campo da imortalidade poderemos entender, na plenitude, cada qual envolto no manto alvo, ou gris dos seus merecimentos, o verdadeiro sentido da existência.  

Viajo nestas considerações, na manhã deste feriado de abril dedicado a um dos heróis nacionais, imolado no final do século dezoito, por pugnar, em prol da liberdade dessa nação que amamos, cujos filhos ainda continuam agrilhoados, a cada esquina, mortos e esquartejados por aqueles que confiscam direitos de tantos filhos do Brasil, nas garras impiedosas da falácia, da hipocrisia, da absurda e assustadora corrupção aparentemente infindável.

Mas, os parágrafos que abrem meus escritos derramados hoje, no teclado deste contumaz companheiro das manhãs dos derradeiros tempos, longe do aconchego de casa, enfiado no quarto de hotel onde me pus na semana findando obrigado a atender compromissos profissionais, em terras quase lambendo o vizinho Estado do Espírito Santo, se justificam pela necessidade de revelar ao mundo, as marcas de uma saudade que carrego comigo por exatamente um ano.

Caminhava no Corredor da Vitória, ao lado de minha dulcíssima Roberta, justo no feriado do período passado, quando fui avisado da partida definitiva de um dos amigos mais considerados com quem convivi curtindo momentos de prazer inolvidáveis: João Machado Cafezeiro.

Falei disto e de episódio hilário ocorrido conosco tempos atrás, em relato escrito e publicado no dia de seu sepultamento. Vale frisar, não cabe aos que ficam, apesar da nostalgia pela perda mergulhar no desespero, energia que somente atrasa a caminhada inexorável reservada a todos os viventes.

Impossível não amargar os nós da saudade, porem, eles devem ser desatados na certeza da imortalidade e nas memórias dos instantes felizes vividos ao lado daqueles que amamos e haveremos de amar eternamente, sempre que possível, os homenageando, principalmente ao imitar seus exemplos positivos.

Busquei fazê-lo quando Café - assim o chamava - ainda estava aqui, mesmo porque foi ele uma das fontes inspiradoras do romance que publiquei ano passado - Surfando em Pipelines.  Tratou-se de determinado personagem da obra, na qual caricaturo  figuras criadas em minha mente, para ilustrar o tema. 

Finalizo então o texto, com trecho da obra onde meu dileto irmão se encontra posando de Jota Malhado, aliás, ambos, apenas um, estão indelevelmente marcados na minha mente, meu coração e alma:

“...Jota Malhado foi um dos homens mais inteligentes que Melo Rego conheceu em toda sua vida. Pontuou seus caminhos no ontem, viveu com intensidade o hoje, sem medo do amanhã, assim como cravam marcas singulares todos aqueles que transcendem. Dono de peculiaridades próprias de quem conheceu muito, antes de nascer no agora, capaz de oferecer respostas precisas para quaisquer perguntas, Jota se tornou referencia de muitos, não sendo exceção para o jovem Melo Rego. Indubitavelmente, Malhado se constituiu numa fonte inesgotável, onde ele matou várias vezes sua sede de saber, nesta vida inteira e certamente, assim como noutras. Sim, porque Rego nunca duvidou, por mais que relapso fosse aos estudos kardecistas, da viagem recrudescente para resgatar...”.

Quantas saudades amigo. Que sua viagem no infinito esteja sendo plena e intensa, sob o manto sagrado do Pai.