Cultura

MORRE lenda do Rádio na região Cacau, Altamiro Viana, 'Zé Tiro Seco'

Com informações do Blogo do Gusmão/Ilhéus
Da Redação ,  Salvador | 28/03/2017 às 17:57
Um mestre da radiodifusão
Foto: DIV
O radialista Altamiro Viana da Silva faleceu hoje (28), aos 78 anos, em Ilhéus. A informação é de Coutinho Neto, repórter da Gabriela FM e editor do blog Só em Ilhéus.

Altamiro deu vida a Zé Tiro Seco, personagem mais famoso do rádio regional. Aposentou-se em 2016, após 66 anos dedicados à profissão, quando apresentou o último programa Na fumaça do gongo, na Rádio Santa Cruz de Ilhéus. Clique aqui para ouvir.

A voz de Altamiro e o personagem que ele consagrou fazem parte da memória coletiva da Região Cacaueira. Por muito tempo, permanecerão entre nós, como presenças da nossa identidade cultural.

O criador deste blog, Emílio Gusmão, foi operador de Altamiro na Rádio Cultura, entre 1997 e 2000. “Tive o prazer de ser sonoplasta dos dois programas dele. A partir das 4 horas da manhã, ele fazia o “Na fumaça do gongo”, no papel do famoso Zé Tiro Seco, personagem inventado pelo artista magnífico que foi Altamiro Viana. À tarde, Zé Tiro Seco fazia o programa Onde Canta o Sabiá, das 16 às 18 horas”.

“Altamiro Viana era um mestre da radiodifusão. Poucos comunicadores conseguiram atingir todas as camadas sociais como ele. Era um verdadeiro artista do rádio. Quem o ouvia de manhã recebia um estímulo positivo para o dia, com as brincadeiras sobre Cotinha, a esposa de Zé Tiro Seco e o sino da vaca Mimosa”, continua Gusmão.

Antes da internet, Zé Tiro Seco já encurtava a distância da comunicação. “Era muito comum pessoas do Rio de Janeiro e de outros estados brasileiros ligarem para a Rádio Cultura de Ilhéus, mandando recados para as pessoas que moravam na zona rural da Região Cacaueira. Como a rádio tinha a maior cobertura regional, Tiro Seco era o grande pombo-correio do sul da Bahia”, explica o comunicólogo.

Gusmão destaca a gentileza que Altamiro dedicava a todos, dos ouvintes à equipe de trabalho. “Extrovertido e feliz, sempre tinha uma brincadeira para alegrar o ambiente. Generoso, mantinha uma parceria com o operador técnico, fazendo comentários sobre as conversas com o sonoplasta. A voz do operador não aparecia, mas as tiradas de Zé Tiro Seco despertavam a curiosidade da audiência”.

Tiro Seco, analisa Gusmão, dava voz na cidade aos moradores da zona rural. “Dificilmente teremos no nosso rádio um personagem com tantas qualidades. Eu me orgulho por ter trabalhado com ele. Naquela época, pastores da Igreja Universal já dirigiam a emissora e isso gerava dificuldades para o trabalho. Mas, a presença de Altamiro e a convivência com esse grande artista fizeram a minha passagem por lá valer a pena. Foi uma experiência muito rica. Zé Tiro Seco vai fazer muita falta”.

“Lamento, por outro lado, que a emissora não tenha as gravações do período áureo de Zé Tiro Seco. É uma pena, porque a história da Rádio Cultura se confunde com a identidade do personagem que a habitou por mais de cinquenta anos”, afirma Gusmão.

Orson Welles sulbaiano

No dia 30 de outubro de 1938, Orson Welles comandava programa da rádio na CBN, que alcançava toda a costa leste dos Estados Unidos. Com referências ao livro A guerra dos Mundos e efeitos sonoros, ele fingiu que transmitia uma invasão marciana na Terra. A “notícia” era uma peça de rádio-teatro, mas deixou a população em pânico. O episódio costuma ser lembrado para exemplificar o poder de emissão do rádio no seu tempo áureo.

Num 1º de abril, dia da mentira, Zé Tiro Seco abriu o programa matinal dizendo que tinha uma baleia encalhada em frente à praia do Cristo, na Baía do Pontal. “A audiência dele e a sua influência no imaginário coletivo eram tão grandes que muitas pessoas saíram das suas casas para ver a baleia. O caso foi cômico. As pessoas chegavam à praia e não viam a baleia, mas, quando perguntadas sobre o tamanho do bicho, respondiam que “era enorme””, lembra Emílio Gusmão.

Em 2003, o comunicólogo Telmo Figueiredo produziu e dirigiu documentário sobre a história de Zé Tiro Seco. Assista Abaixo.