Cultura

CMS: Obras raras estão disponíveis a consulta na Biblioteca M. Quirino

Subsolo do Palácio Thomé de Souza, de segunda a sexta, 8 às 18h
Da Redação , Salvador | 20/01/2017 às 20:35
Biblioteca da Câmara Municipal de Salvador
Foto: DIV
 
O Centro de Cultura da Câmara de Salvador abriga um importante espaço de convivência e promoção da leitura: a Biblioteca Vereador Manuel Querino. Localizado no subsolo do palácio Thomé de Souza, na Praça Municipal, com vista privilegiada para o mar da Baía de Todos os Santos, que contorna o Mercado Modelo e acolhe o Forte de São Marcelo, o espaço conta com um acervo composto por obras raras, livros técnicos e ficcionais, periódicos, CDs e DVDs educativos, totalizando cerca de oito mil títulos para consulta. O local é climatizado e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. 

Batizada com o nome de Manuel Querino, a biblioteca homenageia o intelectual afrodescendente, nascido em Santo Amaro (BA), em 1851, pioneiro nos estudos e registros etnográficos, que dimensionam a contribuição africana na sociedade brasileira. Querino foi pintor, professor, escritor, militante do Partido Liberal e líder abolicionista. Elegeu-se vereador no final do século XIX, após participar da Liga Operária Baiana, organizar o Partido Operário e defender os direitos trabalhistas. Ele foi uma das fontes de inspiração de Jorge Amado na criação do personagem Pedro Archanjo, do romance Tenda dos Milagres (1969). 

Como jornalista, Manuel Querino criou os periódicos “A Província” e “O Trabalho”, nos quais defendeu o fim da escravidão. Estudante da Escola de Belas Artes, ele foi um dos fundadores do Liceu de Artes e Ofícios, além de membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). Ao longo da vida, Querino elaborou e publicou diversos livros, monografias e artigos. 

No acervo multidisciplinar da biblioteca, constam duas obras assinadas por Manuel Querino, assim como um livro com dados biográficos do notável estudioso baiano, escrito pelo jornalista Jorge Calmon. Entre os títulos raros disponíveis para pesquisa, merecem destaque: “Notícia Geral de Toda esta Capitania da Bahia desde o seu Descobrimento até o Presente Ano de 1759”, “Registro das Marcas dos Ensaiadores de Ouro e Prata da Cidade do Salvador – 1725-1845”, “The New Brazil – Its Resources and Attractions, Historical, Descriptive and Industrial” e “Italian Painting – from Caravaggio to Modigliani”.
 

Manuel Querino: legado intelectual centrado na Bahia
 
O livro “A raça africana e os seus costumes na Bahia” trata da crença dos africanos que se estabeleceram no Brasil, com informações das cerimônias e ritos religiosos, assim como das línguas e dialetos falados pelos negros. Querino descreve o surgimento do sincretismo a partir da manutenção de dois credos pelos africanos, que chegavam ao Brasil com uma religião, mas, por lei, precisavam se converter e seguir os preceitos católicos. A obra discorre ainda sobre as normas e os hábitos de algumas tribos da África. 

A estratégia de captura de crianças e adultos adotada pelos mercadores de escravos é abordada pelo autor, que destaca os sofrimentos causados pelo transporte em condições precárias dos seres humanos traficados para o Brasil. Outro ponto interessante é o registro da chegada dos primeiros africanos ao nosso país, em 1538, em um navio pertencente a Jorge Lopes Bixorda, que já havia vendido indígenas na Europa, comercializando-os por 3,7 mil réis cada, no ano de 1512. 

A coletânea “Seus artigos na Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia” traz no texto intitulado “Episódio da Independência” o resgate de figuras importantes no processo de libertação nacional, mas que ficaram sombreadas por Pedro Labatut. O autor não diminui a relevância histórica do brigadeiro, mas frisa que a nomeação de Labatut para o cargo de comandante-chefe do exército pacificador havia causado mal-estar no movimento pela independência, sobretudo por ele ser estrangeiro. Outro fator que pesou negativamente na escolha do francês foi a sua conduta feroz, “de um rigor que tocava à desumanidade”, como descreve Querino. 

No artigo “Candomblé de Caboclo”, o intelectual santo-amarense registra a crença surgida da mistura dos elementos supersticiosos do europeu, do indígena e do africano. Já em “Um baiano ilustre – Veiga Muricy”, último texto de Querino publicado na revista do instituto, o autor enaltece os méritos intelectuais de João da Veiga Muricy, exímio musicista e poeta, professor das línguas francesa, latina, portuguesa e grega, além de filosofia racional e moral. Merecem destaque ainda os artigos “Teatros da Bahia”, “Os homens de cor preta na história”, “A litografia e a gravura” e “Os artistas baianos: indicações biográficas”. 

Já o livro “O vereador Manuel Querino”, escrito pelo jornalista Jorge Calmon, apresenta a trajetória de vida do estudioso da influência dos africanos na sociedade brasileira e a atuação política do líder republicano, que chegou à Câmara Municipal de Salvador depois de defender as bandeiras operárias e trabalhistas, no final do século XIX.
 
Obras raras
 
Notícia Geral de Toda esta Capitania da Bahia desde o seu Descobrimento até o Presente Ano de 1759
 
Escrita pelo engenheiro militar José Antonio Caldas, a obra traz relatos detalhados da sociedade, geografia e economia baiana. O livro oferece ao leitor grande quantidade de informações sobre a composição do poder e a administração pública, retratando ainda o cotidiano de Salvador, até perto do fim do período em que a cidade foi capital do Brasil, entre 1549 e 1763. A Biblioteca da Câmara possui a edição fac-similar de 1951, da Tipografia Beneditina.
 
Registro das Marcas dos Ensaiadores de Ouro e Prata da Cidade do Salvador – 1725-1845
 
O livro apresenta informações raras sobre a ourivesaria baiana, com dados dos profissionais que atuavam em Salvador no período colonial. O documento antigo foi editado em 1952, pela Diretoria do Arquivo, Divulgação e Estatística da Prefeitura do Salvador.
 
The New Brazil – Its Resources and Attractions, Historical, Descriptive and Industrial
 
Publicado pela editora George Barrie & Sons, em 1907, no período do governo de Afonso Pena, o livro traça um panorama do “Novo Brasil”, que surgia como uma promessa internacional menos de 20 anos após a Proclamação da República. A obra foi escrita em inglês pela jornalista Marie Robinson Wright e reúne informações sobre história, economia e geografia, delineando os perfis dos estados brasileiros. Além de destacar o fim do Império e o momento pelo qual passava o país, The New Brazil elenca os expoentes da música, artes plásticas e literatura produzidas em território nacional até o início da primeira década do século XX.
 
Italian Painting – from Caravaggio to Modigliani
 
A obra traz estudos críticos e pesquisas históricas sobre renomados artistas plásticos, desde Caravaggio até Modigliani, entre os séculos XVII e XX. Com dezenas de ilustrações das obras analisadas, a edição Suíça de 1952 é assinada por Lionello Venturi e Rosabianca Skira-Venturi.
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