Cultura

VIDA DE GORDO: Crise obriga Jeffinho a cortar guloseimas, OTTO FREITAS

Sem ter o que beliscar toda hora, o humor do gordo oscila entre a irritação e a revolta.
Otto Freitas , Salvador | 01/05/2016 às 18:14
A lista do corte de Jeffinho
Foto: DIV
  Já amanhecia quando Claudio Zoli começou a cantar sua namoradinha no radio. Era dia bonito, céu azul, com a luminosidade que só tem na Bahia. Apesar dessa combinação tão perfeita, Jeffinho acordou melancólico, meio down - como tem acontecido, aliás, nos últimos tempos. A crise no Brasil, a miséria do mundo e a pobreza da alma humana têm mexido com as emoções do gordo. É só notícia ruim. Seu humor anda nos calcanhares. 

   Além das questões existenciais, a crise econômica e financeira deixam Jeffinho mais agoniado do que o normal. Como diz Pedro Bo, até o jeito de andar é diferente quando o homem está sem dinheiro. Convém lembrar que gordo usa a comida para aliviar as tensões, espantar a tristeza e resolver seus problemas. 

  Acontece que, com a grana curta, é preciso fazer economia. Cortam-se logo os terapêuticos petiscos e guloseimas, chocolates, sorvetes e salgados que o gordo tanto adora. A mesa fica pobre, tem menos comida, tanto a light quanto a hard. Barato só mesmo aquelas horríveis coxinhas gordurosas ou pedaços de pizzas massudas com refresco aguado de 1 real. 

  Isso tudo afeta demais o astral de Jeffinho, é uma flechada certeira no calcanhar de Aquiles do gordo. Comendo mal assim, vivendo angustiado e sem ter o que beliscar toda hora, ele engorda mais - de raiva. Seu humor varia entre a tristeza e a irritação raivosa, a revolta e a vontade de chutar o pau da barraca, jogar tudo para o alto. 

   Imagine a ira do gordo quando está vendo TV, sem pipoca e sem sorvete, e vê aparecer na telinha aquela criatura carrancuda com cara de carro velho com chaparia mal feita, repetindo lá de Brasília o mesmo blá-blá-blá no qual ninguém acredita, nem mesmo sua claque de cachê.

   Além do mais, como se pode fazer dieta se um alimento funcional como o mamão, indispensável no café da manhã, está custando até 5 reais o quilo? A banana, por exemplo, não é mais aquela: a depender do tamanho, vai a 6 reais o quilo. Até o tomate da saladinha pobre custa uma fortuna. Nem é bom falar de outros legumes e frutas! 

   Carne de boi é proibida; o velho e insosso franguinho grelhado light já não é mais barato como foi um dia, quando chegou a ser vendido a 1 ou 2 reais. Fora da dieta, aquela big feijoada completa, com todas as carnes, virou prato chique, só para rico que tem sitio em Atibaia com adega lotada de vinho e triplex no Guarujá.

    Mas resta um consolo, companheiros gordos e companheiros magros: como dizia vovó Celina, “não há mal que tanto dure, nem bem que seja eterno”. Ou vice-versa.