Cultura

O RIO é uma reencarnação da Bahia além da Estação Primeira, por TF

A Justiça Federal do Rio de Janeiro decidiu nesta quinta-feira (11) que o presidente afastado da construtora Andrade Gutierrez, Otavio de Azevedo, pode voltar a cumprir prisão domiciliar em São Paulo.
Tasso Franco , da redação em Salvador | 12/02/2016 às 11:32
Ala das Baianas é obrigatória em todas as escolas de samba do Rio
Foto: Globo
 1. Não sei exatamente de quem é a frase. Lí em Caetano Veloso após a vitória da Estação Primeira de Mangueira como campeã do Carnaval Carioca com o tema "Bethânia: a menina dos olhos de Oyá" - 50 anos de carreira da cantora baiana -  dando conta de que "a Mangueira é onde o Rio é mais baiano". Tem sentido, ainda que, diria, o Rio, a cidade, é uma segunda encarnação da cidade do Salvador e da Bahia.

   2. Salvador foi a capital colonial do Brasil por 214 anos, entre 1549 e 1763, quando perdeu essa condição para o Rio de Janeiro. O eixo econômico do Brasil havia mudado a partir de 1695 com a descoberta do ouro das Minas Gerais e o avanço do agronegócio de SP. O Porto do Rio passa, então, a ter mais importância do que o de Salvador, daí que a Corte de Lisboa, transfere a sede da colônia para o Sudeste.

   3. Até então, a Bahia e Pernambuco com a cultura açucareira haviam dado régua e compasso ao país. O Rio usurpou essa condição e a consolidou com a expulsão da Corte de Lisboa pelas tropas de Napoleão Bonaparte, em 1808, quando Dom João VI se instala no Rio. Com ele, a burocracia estatal que já havia se deslocado em 1763, ganhou reforço e força, com os principais da corte.

   4. O então governador da Bahia, Saldanha da Gama, quando Dom João (dona Maria, a louca, ainda era viva e Dom Pedro I tinha 7 anos de idade) aqui aportou em escala antes de ir para o Rio, fez de tudo para que a Corte ficasse em Salvador. Mas, Dom João era glutão, mas, não era bobo. Sabia que o eixo do poder do capital estava no triângulo Rio-SP-MG.

   5. E o que isso tem a ver com o Rio mais baiano: parte da cultura baiana se deslocou para o Rio, as baianas, o samba, a capoeira, o batuque, o modo de se vestir, a culinária, o jeito baiano de ser. Que, mesclado com a alma carioca resultou numa espécie de irmã gêmea. A primeira opção de qualquer baiano, salvo aqueles que se deslocaram do interior para trabalhar em SP e nas Gerais, é o Rio. Foi e continua sendo.

   6. Se tem uma cidade em que o povo se parece com o da Bahia é o Rio. Baiano é bairrista até a alma; o carioca, idem; baiano é sambador até a alma; o carioca também. A música está na vida da Bahia como está na vida do Rio. Os baianos cantam o Rio e os cariocas cantam a Bahia. Não há escolas de sambasem a ala das baianas. Hoje, não há samba nos blocos de Salvador do Carnaval sem os cariocas. Desta feita, até Paulinho da Viola deu o ar de sua graça.

   7. É provável que os baianos sejam mais Mangueira. Mas também são Portela. São Mocidade. E quanto já ouvi falando que adoram a Beija Flor. Os Novos Baianos nasceram no Rio. Moraes, Caetano, Bethânia, moram no Rio como se morrassem em Salvador.

   8. É isso, se há uma cidade irmã de Salvador é o Rio. E, sua gente, seu povo, tem a mesma cara do povo da Bahia.  Cara de São Jorge, de São sebastião, de Riachão, de Martinho da Vila, de Tia Ciata, de João do Rio, de Neguinho do Samba, de Jamelão, de João Jorge Rodrigues e tantos outros.