Cultura

DIVERSIDADE MUSICAL do Carnaval tem mais de 100 anos, meu rei (TF)

O Carnaval sempre teve uma diversidades de ritmos ao longo da história
Tasso Franco , da redação em Salvador | 09/02/2016 às 18:35
Armandinho, um virtuoso na guitarra baiana
Foto: Fred Pontes
  1. Muito tem se falado sobre a diversidade musical do Carnaval como se fosse uma coisa nova, algo só introduzido recentemente nos festejos de Momo, cada qual querendo ser pai de uma criança que tem mais de 100 anos. 

   2. O Carnaval nunca foi uma festa de um ritmo só desde sua criação oficial no final do século XIX e no alvorecer do século XX, quando predominavam nos salões as valas e o foxtroter, e nos cortejos de ruas as big-band orquestras e os conjuntos musicias que tinham até bandolins, à moda italiana.

   3. Também os negros contribuiram com as embaixadas africanas - hoje esquecidas diante da propaganda dominadora dos blocos afros - e as batucadas em linha, belíssimas, e que são bem descritas nos livros de Waldeloir Rego e Anízio Félix. Parece até que desejam sepultar essa fase.

   4. Depois veio a grande mudança nos anos 1950 com o trio elétrico e os grandes bailes dos clubes, em todos os níveis, e a introdução do canto nos trios e o surgimento da Axé Música, a nova safra dos blocos afro puxados pelo Badauê, o som dos blocos de índios e o aparecimento dos grandes astros e a renovação dos afoxé, com Gilberto Gil, à frente.

   5. Tudo isso é diversidade musical de longos anos. Baby Consuelo e Moraes Moreira, de um lado na Castro Alves, cantando brasileirinho e tremendo o chão da praça; e os Filhos de Gandhy descendo a Avenida ao som dos agogós; o samba reggae de Neguinho do Samba e do Olodum; as composições de Caetano Veloso e assim por diante.

   6. É só lembrar que o Palco do Rock evento que acontece no Carnaval na praia de Piatã tem 22 anos e que a música Colombina, hino do Carnaval (esquecidade), uma marchinha, está quase centenária. Portanto, nada de novo, de excepcional, nem exitem pais da criança.

   7. É claro que com o crescimento da cidade, o surgimento de novas bandas, a incorporação de novos ritmos ( o reggae teve um ano que fez grande sucesso na voz de Confete), todo esse caldo de cultura só fez crescer e a diversidade está a cada ano mais intensa. Quando Gaudenzi inventou o circuito Batatinha, no Pelourinho, tinha uma banda que vinha da Dinamarca tocar na festa. Vinha por conta própria, sem patrocínio do governo.

   8. Eu já ouvi todo tipo de som no Carnaval, desde Carlinhos Brown tocando cano PVC a Dudu Nobre e seu cavaco no Alerta Geral; assim como Cavalheiros de Bagdá, Gal, Ritmos do Tororó, Caetano, Gil, Bell, Ivete desde o tempo em que cantava no Eva, o som do Ilê subindo a ladeira do Curuzu, do Olodum na sexta do Pelô, e os solos de Osmar e Orlando dos Tapajós. 

   9. Viva portanto a diversidade musical sem papais. É uma coisa natural e que acontece por força dos artistas e suas expressões culturais. Ninguém venha me dizer que foi a Caixa ou o Bra que ensiou Armandinho a tocar guitarra baiana.