Cultura

CINEMA: Depois da Chuva, um filme contestador, legal - por DIOGO BERNI

Um bom filme e um péssimo filme. Você decide.
Diogo Berni , Salvador | 25/04/2015 às 17:14
Depois da Chuva e a ditadura no Brasil
Foto: DIV
   Depois da chuva, com direção dupla de Claudio Marques e Marília Hughes, Bahia- Brasil, 2013. Existem filmes que são fáceis em serem resenhados; Logo quando os assisto vem sem sofrimento algum a escrita
deles. Entretanto outra classe de obras fílmicas tende-se a ser mais complexa de serem escritas. 

   Trata-se de filmes que, de alguma maneira, passam algo de realmente profundo para reflexão de quem os assiste e por isso despreendem-se de certo tempo de digerimento para sua crítica. O crítico não consegue simplesmente sair do cinema e sentar no computador e começar a resenhá-lo, pois pertence a um grupo de obras fílmicas que existem um projeto oculto nas suas entre cenas pra modo da gente pensar, sobretudo, em nossos problemas contemporâneos atuais, sejam estes de cunho político ou social. 

   Pois bem, Depois da chuva pertence a esse tipo de filme que te faz pensar em como podemos mudar, pra melhor, as nossas vidas com as repletas idiossincrasias políticas e sociais que nos rodeiam ou até mais radicalmente, nos castram.

   A estória se passa na Salvador no ano 1984, exatamente logo após o término da ditadura militar no Brasil com os seus resquícios para todos, independente da idade. Como personagem central temos um garoto, que meio que tentava assimilar as mudanças políticas e sociais do seu tempo, juntamente com suas mudanças hormonais da fase de adolescente. 

   O filme tem uma pegada lúcida política tão bacana, que por vezes o roteiro se torna adulto demais para aquele garoto que ao mesmo tempo em que fazia parte de uma rádio clandestina com mais dois amigos punks, e por isso “encarava” e ia de encontro contrário ao sistema, mas como também o mesmo
garoto cheio de personalidade queria se candidatar para ser o presidente do grêmio da sua escola particular. 

   Um pouco discrepante estes dois desejos do protagonista: Queria ao mesmo tempo mandar um bye-bye ao sistema em absoluto, não respeitando regra alguma, porém o mesmo cidadão tinha o desejo de mudar as condições da sua escola em prol de uma melhora para os al  unos. 

 Lados ambíguos, pois na rádio ele era o radical punk, porém sua atitude na escola o fazia um político. Tempos difíceis eram estes após a queda do longuíssimo regime militar brasileiro. O personagem central da trama consegue, com exímio êxito, simbolizar o esquizofrenismo coletivo do cidadão brasileiro com mudanças sociais e políticas tão grandes daquela época. 

   Destaque também para a trilha sonora do filme, que consegue em determinadas cenas, nos transpor a uma experiência agradavelmente sensorial que, por sinal, ainda encontra-se nas salas de cinema de Salvador; Então corre lá e assista, pois vale, sobretudo pela coragem da obra fílmica em se produzir em pleno século XXI um filme tão lúcido e contestador; Filme classe A, e acima de tudo ( infelizmente) super
necessário, pois pelo que observamos, pouco ou nada concretamente mudou-se no país, apesar do fim ditadura, de 1984 até 2015. 
                                                                 ***********
 
    Se eu ficar, de R.J. Cutler, 2014, EUA ( Obvio ). Quando achamos que não seríamos mais surpreendidos por filmes da qualidade dos “além ruins”, eis que surge um e nos mostra que jamais devemos nos iludir na questão da criação dos cineastas; Pois estes sempre conseguem criar verdadeiras bombas, só podendo assim classificá-los como péssimos. 

   Perdi minha tarde hoje, e escrevo para você não perder a sua também, vendo um pirata a “três real” dessa pelicula. O filme não liga nada com nada e não vai a lugar nenhum. 

   A história é de uma garota que toca violoncelo e começa a namorar um roqueiro. Até aí, vá lá; Entretanto quando o diretor ou roteirista consegue a proeza de colocar a protagonista vendo seu próprio acidente automobilístico fatal junto com sua família, e de certa forma, tentando falar com eles seja lá
hospital ou no próprio local do acidente, aí que as coisas começam a ficar bizarras, pois após o acontecimento nada acontece no filme! 

   A menina fica correndo de corredor e corredor do hospital para saber se seu pai, mãe e filho já partiram, e o pior: Ela acha que não morreu mesmo vendo tudo aquilo e ninguém a vendo. Uma única coisa boa notei neste filme: O fato dele não usar efeitos especiais para fingir uma morte com cenas do tipo:Tentar pegar uma pessoa ou coisa e a mão do morto passa por entre o ser vivo ou uma parede, porta, janela, etc. 

   O filme ao menos não se dispôs a gastar com estes efeitos especiais e a atuação da protagonista, neste sentido, soou natural. O fato é que sem roteiro não pode existir um bom filme. Seria a mesma coisa que pedir que um corredor tentasse correr sem suas pernas, impossível.
  
  E já que o filme é ruim e fiz o favor de informar a vocês; Vou contar como ele termina. A garota que ficou morta o filme praticamente todo volta e viver e o filme acaba quando ela abre o olho. Você fica naquela sem saber se ri ou chora, ou até joga alguma coisa na televisão tamanha frustração, ou seja, o final
consegue ser pior que o filme todo, e isto é de fato uma baita proeza.