Adivinhe o que um gordo faz quando está em casa, de bobeira, curtindo a preguiça, largadão no sofá. Engana-se quem pensa que ele fica esquecido da vida, beliscando um petisco qualquer. Depois dos canais de TV fechada, gordo não perde os programas de culinária. Vê quase todos, com água na boca e o olho grande.

Há programas nacionais e estrangeiros disponíveis em vários canais, principalmente os de TV fechada, incluindo competições, concursos e apresentação de receitas. É quase uma epidemia, pois cada edição é reprisada duas, três vezes ou mais na programação ao longo da semana. 

Há modelos, atores e filhos de artista que usam o hobby para se transformar em chef televisivo. Bela Gil, filha de Gilberto Gil, é nutricionista e faz um programa natureba; Rodrigo Hilbert, modelo, ator e marido da apresentadora Fernanda Lima, ensina receitas caseiras; Carolina Ferraz, atriz, mostra receitas próprias e fáceis de fazer. 

É claro que também há programas apresentados por profissionais que emprestam sua fama de chef consagrado à TV – entre eles estão Alex Atala, Claude Troisgros, Rita Lobo e a premiada Bel Coelho, que estreou esse ano um programa sobre a cozinha brasileira. 

Um os mais antigos, com 18 anos no ar, é Olivier Anquier, filho de uma família de donos de restaurantes na França. Ele chegou ao Brasil como padeiro, se casou com a atriz Debora Block, lançou livro sobre pão e virou chef. Hoje, Anquier já está em outro casamento e transformou sua meia hora semanal de receitas em um programa de entrevistas e reportagens pelo mundo, mostrando a culinária de cada lugar, como faz o americano Anthony Bourdin.

Tudo começou nos anos 70 do século XX, com as pioneiras Elíbia Portela, na Bahia, e Palmirinha Onofre, em São Paulo. Vovó Palmirinha continua no ar, mas a febre dos programas de culinária na TV se espalhou pelo Brasil depois do surgimento de Ana Maria Braga, que enriqueceu ensinando a cozinhar e hoje apresenta um programa de variedades, incluindo as receitas.

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Tanto programa assim vira um inferno para o gordo, que fica ligado nas receitas, e se extasia, comendo com os olhos, mesmo sem sentir o cheiro. Quando o programa acaba, o gordo corre para a cozinha, agoniado, para atender o apetite estimulado pela TV. 

O comilão acaba acumulando frustração, pois jamais conseguirá comer uma comida tão bonita e tão saborosa como aquelas que aparecem nesses programas. 

Pior (ou melhor) é que entre os chefs televisivos há belas mulheres, como Rita Lobo, Bel Coelho e Carolina Ferraz, que são melhores do que a própria comida e ficam sacaneando, gemendo, “huummm, que delícia!”. É para qualquer gordo pirar e sofrer mais do que Pablo do arrocha.