Cultura

VIDA DE GORDO: Reflexões de Natal e final de ano, por OTTO FREITAS

A ordem dos tratores não altera a sequência dos viadutos caídos
Otto Freitas , Salvador | 23/11/2014 às 20:02
A eterna briga natalina
Foto: Roberto Rabat Chame
   Jeffinho faz aqui seu balanço de fim de ano, com reflexões que podem mexer com os corações e mentes de gordos e magros. São apenas alguns pensamentos aleatórios que ocorreram durante conversas com os próprios botões.

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“Traga-me um copo d'água, tenho sede/E essa sede pode me matar/Minha garganta pede um pouco d'água/E os meus olhos pedem teu olhar...”. Seca e mobilização nacional em defesa da água no sudeste maravilha. Menos chuva, racionamento, torneira seca, mata destruida, rios assoreados e entupidos de lixo e veneno. E o sertão continua lá, cada vez mais sertão, seco há mais de século. Nem tem torneira. Ninguém liga.   

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Após aquela vergonhosa derrota da Seleção de futebol goleada na Copa do Mundo, Dunga voltou, em triunfo. Pendurado no bolso do seu colete trouxe o ex-goleiro Gilmar, atual empresário de jogadores. Os dois já disseram a que vieram: proibiram brincos, chinelos de dedo e roupas esportivas. Jogador da Seleção deles tem que se apresentar de terno e gravata. Nem nos tempos do capitão Parreira era assim.

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Bahia na segunda divisão do campeonato brasileiro, de novo. “Quero o meu Bahia de volta!”. Cobraram e conseguiram. Marcelão, Marcelinho, afins e semelhantes devem estar rindo pelos cantos de boca, ou chorando lágrimas de crocodilo, ou as duas coisas juntas. Enquanto isso, a fiel e resiliente torcida tricolor sofre e apanha feito mala velha. 

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Jabaculê na Petrobras, por mais modesto que seja o corrupto, é sempre estipulado em milhões de dólares. Mensalão era coisa de pobre! Em tempo: os condenados do mensalão estão todos presos, mas em casa. Barão é o fugitivo, que também está em casa, mas na Itália.

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Estamos cada vez mais gordos, no Brasil e no mundo. E a obesidade infantil atinge índices alarmantes, inclusive entre os pobres. Mas a indústria e as famílias continuam atolando os meninos de salgadinhos, biscoitos recheados, achocolatados, refrigerantes, enfim, tudo que agrava ainda mais a situação. Depois, querem obrigar as crianças a gostarem de chicória, feito aquele menino chato da propaganda.

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Enquanto isso, a FAO lembra que o mundo ainda tem fome (grande novidade!) e o Papa reclama. Há comida suficiente para todos, mas nem todo mundo come. É a velha e triste história da injusta distribuição desigual de tudo: os pobres ficam com as migalhas, a esmola, a merda, enquanto o uísque, o filé e o caviar são reservados apenas para o pessoal do clube, os de sempre.

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Qualquer reuniãozinha de amigos ou colegas de trabalho acaba girando em cima dos mesmos assuntos: dietas e malhação, perdas e ganhos de peso. Nesse assunto, aliás, dois novos personagens ganharam espaço nos debates mais recentes: lactose e gluten. Estão correndo deles como o diabo da cruz. Aquele pãozinho quente com manteiga está proscrito!? E mamar na lata de leite Moça!? Nunca mais?!

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Qualquer reuniãozinha de amigos ou colegas de trabalho acaba em silêncio, todo mundo com seu Iphone na mão, conectado às redes sociais. Tem gente que chega ao absurdo de conversar com a pessoa ao lado através da rede. Isso acontece até mesmo na mesa do bar, lugar tão sagrado para a convivência humana. Como diz Fernando Henrique, assim não dá, assim não dá!... 

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Todo mundo continua enchendo o saco dos gordos com a pergunta: “Por que você não faz redução de estômago”. Ora, todo mundo conhece alguém ou sabe de alguém que morreu em consequência da bendita cirurgia bariátrica. Jeffinho segue resistindo, heroicamente. E vivão da Silva, tentando comer moderadamente, de tudo um pouco - menos caruru, carangueijo e galinha morta.