Cultura

UMA PÁSCOA banhada de sangue preto na Bahia, por FERNANDO CONCEIÇÃO

Fernando Conceição é jornalista e professor da Facom
Fernando Conceição , da redação em Salvador | 21/04/2014 às 01:32
Dom Murilo Kriger, o inocente útil na greve da PM
Foto: DIV
Os bairros da periferia da grande Salvador se banham de sangue. Sangue preto e, ou, pobre, nesta chamada Semana Santa católica.

É redundante dizer que é sangue humano? Mas seria sangue barato, por de preto e de pobre? O repórter Alexandre Lyrio faz aqui um relato dramático do assunto. Dom Murilo Krieger, arcebispo-primaz do Brasil, serviu de inocente útil nos recentes episódios que nos entristecem independentemente da fé.

O tema teria de ser prioritário na disputa política pelo governo da Bahia neste 2014. A oposição precisa explorá-lo em toda a sua extensão macabra, propondo uma política de segurança pública séria, negligenciada pelo governador Jacques Wagner nos recentes oito anos. É o que também pensa, sobre a democracia no Brasil, o colunista de assuntos jurídicos da Folha de S. Paulo (clique para ler).

A pretexto da greve das polícias comandada pelo governador do Estado, Jaques Wagner/Otto Alencar, entre as madrugadas de quarta-feira, 16 de abril, e de domingo de Páscoa, os números da carnificina passam as seis dezenas. Apenas os números tornados públicos. Sem contar os assassinatos ocorridos nas últimas horas pelo interior da Bahia adentro.

Quem é que vai pagar por isso? Pelo fato de a Bahia ter se transformado na casa da mãe-joana de funcionários públicos aos quais a Constituição delega, com exclusividade, o uso de armas de fogo? Mesma Constituição que lhes proíbe o direito de greve, automaticamente jogando na ilegalidade esse tipo de desrespeito à lei.

Um dos líderes dos grevistas, vereador da capital pelo PSDB e pré-candidato a deputado, foi preso na sexta a mando da Justiça Federal. Não pela presente greve, mas por acusações do Ministério Público relativas à greve de 2012. Terá assegurado todo o direito de defesa.

Se condenado, que pague a sua parcela de responsabilidade por essas e outras carnificinas advindas do abuso de policiais. Que têm recorrido ao expediente ilegal da greve para trazer pânico à sociedade e nos tornar reféns.

Tudo sob a complacência de um governo que se caracteriza pela incompetência em negociar com os líderes da categoria. Embora torre o dinheiro que pagamos em impostos em campanhas propagandísticas como a que veiculou nas últimas semanas. Em que pinta como cor de rosa a situação dos policiais e da segurança pública no Estado, na voz e imagem de uma ex-apresentadora da TV Bandeirantes.

Nesse momento de luto o povo honesto, trabalhador e simples da Bahia está abandonado por sua própria conta e risco. Não seria o caso de instituições como a Universidade, a Ordem dos Advogados do Brasil, o Sindicato dos Jornalistas ou sua Associação Bahiana de Imprensa, agirem no sentido de apurar o grau de culpabilidade do governador Jacques Wagner nessas carnificinas?

Não seria o caso de solicitar ao Congresso e à União, intervenção federal na Bahia? Sem mais metáforas, como prevê a Constituição da República. Em defesa da vida, dos baianos e até de cariocas que, como Jaques Wagner, aqui se estabeleceram.