Desde que me mudei com minha mãe pra onde moramos hoje, vestimos a camisa da luta pela preservação da biodiversidade da mata atlântica virgem que rodeia nosso bairro (Miragem/Buraquinho). Aqui residem diversas aves, anfíbios, artrópodes, répteis, mamíferos etc. Sempre que há alguma atividade suspeita denunciamos logo para a Secretaria do Meio Ambiente e à Associação dos Moradores do Miragem.

Hoje pela manhã, em torno das 8 horas, ouvimos barulho de máquinas na lagoa próxima a nossa casa e como sempre minha mãe foi em busca do que estava acontecendo. Ficou horas lá e de casa dava pra ouvir as vozes discutindo de longe. Não dava para entender nenhuma palavra. Preocupada liguei para o celular de minha mãe e dava caixa de mensagem.

Fiquei esperando até 13:30 mais ou menos, que foi quando minha mãe chegou desesperada. Disse que estavam aterrando a lagoa com máquinas e que quando ela chegou lá já tinham derrubado árvores e aterrado grande parte da lagoa. Ela procurou o responsável em busca da autorização e o fiscal da prefeitura que estava lá apresentou um documento antigo que não era mais válido. A ação ilegal era em nome do construtor Sergio Pinheiro, muito conhecido na região de Lauro de Freitas. Disseram que estavam aterrando a lagoa por causa de dengue! Ao verificar que o documento não validava o que estavam fazendo minha mãe ligou para o contato do Conselho de Defesa dos Direitos Humanos pedindo ajuda.

O mais asqueroso pra mim foi ouvir o diálogo que minha mãe teve com os empresários que apareceram lá. Quando ela viu que eles não iam parar, minha mãe se colocou em frente das máquinas para impedir que continuassem até que os fiscais chegassem. Um dos empresários mandou ela sair porque ela estava perdendo tempo lá, que era pra ela sentar em formigueiro. Disse com essas palavras: "Minha senhora, o que manda aqui é o dinheiro! Você tá perdendo seu tempo aqui. Além de mulher ainda é petulante!".

Depois de um tempo os empresários foram embora e a vereadora Rosenaide Brito junto com a Polícia Federal chegaram e pediram a licensa da ação, que eles não tinham. Reforçaram o que minha mãe tinha dito desde o início: a ação era ilegal, eles precisavam de uma licensa com vistoria do ecossistema e catalogação das espécies do local. Obviamente nem se preocuparam com isso. 

Estou aqui fazendo essa denúncia porque além dessa irresponsabilidade também ameaçaram minha mãe. Espero que quanto mais pessoas souberem desse ocorrido, eles fraquegem e percam a impunidade que carregam (sei que é muito difícil isso acontecer, mas não custa tentar).

Nos últimos 5 anos foram construídos inúmeros prédios e condomínios de apartamentos pequenos na região de Buraquinho. A grande parte desses apartamentos nem possui moradores ainda. Até quando os empresários vão continuar construindo deliberadamente na nossa região sem qualquer preocupação com nada além dos seus bolsos cheios? Vilas do Atlântico está entupido de engarrafamentos, o comércio está expulsando os moradores custe o que custar e nós temos que aturar essa gente mesquinha e arrogante destruindo nossas matas pra colocarem mais construções, mais concreto. Por que? É o dinheiro que manda.

Estou ainda tentando entender porque o ser humano continua com essa postura irresponsável, tanto com seus semelhantes, quanto para com o meio ambiente. Ainda não caiu a ficha que o dinheiro não manda em porra nenhuma a não ser nessas mentes imbecis.

Quem vai progredir é quem vive em comunhão com a natureza, porque sem ela não vivemos.

Quero parabenizar minha mãe mais uma vez por mais um ato de coragem e amor pelo meio ambiente. Estou orgulhosa, mãe! Precisamos de mais pessoas assim no nosso planeta, pra mostrar quem é que manda de verdade! (SARAH KIRCHHOFER))