A VELHA INDECISÃO DA CONFRARIA D’O BERIMBAU, por WALMIR ROSÁRIO

Walmir Rosário
13/08/2020 às 18:58
  Pelo que vi no noticiário daqui a mais uns meses não vamos mais precisar carregar dinheiro no bolso, o que irá nos poupar do incômodo de andar com uma carteira recheada  de cédulas. Nem mesmo documentos em papel será mais necessário. Pelo que li, basta um telefone celular e pronto, nem mesmo os cartões de crédito, o chamado dinheiro de plástico, nos fará companhia.

  São os tempos modernos, responsáveis pelas constantes tecnologias, nos livrando de um monte de estorvos, como ir ao banco sacar dinheiro ou lembrar das senhas dos cartões de crédito e outros trambolhos. Sem as cédulas de reais nos livraremos no amigo do alheio, à espreita dos incautos quando saem dos bancos com dinheiro no bolso, para providenciarem a famosa saidinha bancária.

  Esta modalidade de crime está com os dias contados, conforme explicou ao jornalista um especialista em tecnologia, enumerando todas as vantagens. Com uma notícia dessas fiquei eufórico: finalmente poderia andar por aí à vontade. Imediatamente liguei para um chegado e contei a novidade, apenas para mim, pois ele já era sabedor do projeto e me deu uma ducha de água fria.

  Nem pense que será melhor, você acha que mora nos Estados Unidos, nos países da Europa, em que os gatunos esnobam esse seu celular peba, desatualizado há mais de dois anos? Pois fique sabendo que aqui no Brasil, e na Bahia, ainda mais, você vão dará mais de dez passos fora de casa para que ele seja subtraído de sua propriedade. E não se mexa para não assustar o larápio e tomar uma bala de três oitão no meio da testa!

  Me esfriei todo! Se, pelo menos, pudesse carregar o cartão de crédito, não seria mal, pois deixaria o aparelho celular em casa. Não faria falta, pois na Confraria d’O Berimbau tem quase nenhuma serventia. Mais foi aí que me dei conta de mais um problema a afligir minha cabeça, se nem em todos os botecos posso pagar minha conta com cartão de crédito ou débito…

   Imediatamente liguei para o jornalista desocupado Tyrone Perrucho peguntando se na reabertura a Confraria d’O Berimbau operaria os famosos cartões, no que me dá uma resposta desanimadora:
– Você está broco, não lembra que há mais de 20 anos que Neném de Argemiro ficou de estudar a possibilidade de receber os cartões Ourocard e Credicard e ainda não deu solução? E o impasse continua na nova administração de Zé do Gás. Vou lhe mandar a prova.

  Uns cinco minutos depois recebo o recorte de uma notinha publicada no jornal Tabu, na coluna Calhau, em que Neném de Argemiro informa sobre o rigoroso horário de abertura d’O Berimbau aos sábados, domingos e feriados: Às 10 em ponto, conforme decisão de uma assembleia geral. Na mesma nota informa que dispõe de todas as marcas de cerveja e um mundo de batidas, que embora sem marca, são deliciosas.

  E na edição seguinte do jornal ainda me deliciei com a lembrança das famosas serestas realizadas na praça Maçônica por um grupo de seletos músicos. Para minha surpresa, estava lá no Tabu, que o mais assíduo expectador era – à época – o nosso Secretário Plenipotenciário da Confraria d’O Berimbau, Antônio Amorim Tolentino, ali nomeado como vovô Tolé, pelo gosto pelas músicas do passado.

  Mas voltando ao que interessa, se essa lei do pagamento por meio do aparelho celular (smartfone) pegar, aos sábados, vou ter contratar uma escolta com seguranças armados para me proteger e ao meu celular de estimação. Isso se o presidente Zé do Gás resolver desarquivar a proposta e resolver acatar a antiga solicitação dos confrades em nova assembleia geral.

  Como a Confraria d’O Berimbau ainda se encontra fechada – por obras e decretos –, neste sábado nos reuniremos em local secreto para fazer a despedida do atual Secretário Plenipotenciário da confraria, Gilbertão. Trocou Canavieiras por Santa Cruz Cabrália, com a desculpa de que os botecos cabralinos já oferecem toda as modernidades e facilidades de pagamento, inclusive o que basta mostrar, de longe, o celular para maquininha.

  Não sei pra que essas bestagens, pois lembro que não faz muito tempo – antes do fim do século passado – não precisávamos de nada dessas modernidades para fazer uma farra com os amigos. Bastava pedir umas rodadas nos bares de Dortas ou de Ithiel, no Beco do Fuxico, em Itabuna, e na hora de ir embora era só anunciar em alto e bom som:

  – Soma a conta e toma no assento.

  Para melhores esclarecimentos aos mais jovens, assento era o caderno de fiados mantidos pelos donos de bares à disposição de seus melhores clientes.