CAETITÉ mostra que ainda é possível fazer um Carnaval cultural, por TF

Tasso Franco
20/01/2015 às 21:55
 O exemplo de um Carnaval que mantém as raízes populares, que preza a cultura, que se insere na comunidade em todos os níveis - mistura de  ricos e pobres, jovens e velhos, crianças e suas familias - vem de Caetité, cidade do Sudoeste da Bahia.

   O Carnaval da Diversidade Cultural e a Lavagem da Esquina do Padre, em sua 28 edição, mostram isso. Que é possível ainda se fazer um Carnaval com gosto popular, com a exposição de diferentes manifestações da cultura - boiadeiros, cangaceiros, burrinhas, bumba-meu-boi, sátira a artistas de TV nacionais, fantasias, rei Momo, rainha - e assim por diante.

   Tudo isso sem aqueles enormes trios elétricos, sem gastos astronômicos, sem blimps de propagandas de cervejarias, sem merchandising em excesso, sem todas essas traquitanagens que estão desvirtuando os Carnavais Bahia afora e o maior exemplo dessa sacralização é Salvador. 

   Não fosse o Carnaval do Pelourinho idealizado por Paulo Gaudenzi, o Carnaval de Salvador estaria tão empacotado, tão sem graça, que se tornaria (como está se tornando) um showzão de astros e estrelas da Axé Música e dos negócios de grandes empresas, incluindo aí todos os blocos, sem exceção.

   O que fazer para dar uma nova diretriz ao Carnaval da capital a única festa que tem visibilidade internacional na midia é a questão. Ninguém seria capaz de palpitar nada além do horizonte, salvo as pregações de políticos populistas que desejam levar o Carnaval aos bairros, em especial, a seus redutos.
 
   Em conversa que tive com o radialista Cristovão Rodrigues, na Lavagem do Bonfim, ele me dizia que, em 2015, a maioria dos blocos está enfrentando dificuldades para sair com algum lucro em caixa, isso porque a 'galinha dos ovos de ouro' está se exaurindo, os camarotes estão dominando parte da preferencia da classe média e a rua pode estar deixando de ter a importância que tinha.

   Cristovão vê a área do Comércio, na Cidade-Baixa, como alternativa para um circuito mais popular com estruturas menores - e apontou a levada do Rixô Elétrico de Fred Menendez no Bonfim - como um exemplo que pode prosperar.
  A verdade é que o Carnaval de Salvador ficou caro para quem deseja sair num bloco ou ir a um camarote e o folião está sem alternativas, perdido, procurando uma saída. O Carnaval pipioca ainda é uma demagogia política, salvo poucas apresentações, e o folião abandonou por completo a cultura popular para se apresentar no Carnaval de bermudão, camiseta e abadás. 

   É raro vê-se no Campo Grande um 'cangaceiro', uma 'baiana' , alguém satirizando um político, salvo na Mudança do Garcia, furdunço que vem sendo boicotado ano a ano. O novo furdunço idealizado pela Prefeitura é, também, empacotado, sem graça.

   O Crnaval de Salvador, então, virou uma mesmicice. Um bloco atrás do outro, foliões de abadás e shozões. 

   Caetité não entrou nessa onda. Outras cidades da Bahia também se empacotaram suas Micaretas e o maior exemplo é Feira de Santana e o circuito Maneca Ferreira.

   Viva, pois, a Caetité e toda sua irreverência, seu Carnaval original, popular, com a festa sendo feita pelo povo.