FIM DO MUNDO! O sumiço do aipim, por Badu, o intelectual de bigode

Eduardo Baduino
31/10/2014 às 12:20
  Depois de ter colocado meus préstimos acadêmicos a serviço de uma não tão acadêmica campanha política deste politicamente adverso e incompreendido 2014, estabeleci como propósito reabastecer meus parcos conhecimentos com o melhor conteúdo do mundo, qual seja a comida baiana. 

   Decisão tomada, primeira providência foi entrar em contato com o Rasta do Pelô, meu executivo intra-fronteiras terreno-divino, folgadamente estabelecido em Salvador – onde mais?

    Liguei no “de vez em quando pago” do Rasta e fui logo pedindo: “Rasta estou faminto de saberes e sabores de nossa boa terra”. 

    Senti em sua voz que algo não ia bem: “Considerado, meu intelectual de bigode preferido – mesmo que só haja um: saberes, coloco Tasso Franco em sua mesa. Sabores, está difícil: o aipim sumiu”, murmurou lamentoso...

   - Como assim, o aipim sumiu, Rasta? Está fumando maconha estragada de novo?

   - Não considerado, é isso mesmo. Num se acha aipim em feira nenhuma da Bahia, nem na baia, nem no recôncavo, nem na Itaparica do encantado João Ubaldo.

    Fiquei pasmo, quase estarrecido. Sem aipim? O que pode ter havido? Os produtores não votaram na dona Dilma ou no seu Rui? 

   - Considerado, que intelectual é você que não lê jornal – foi a vez do Rasta me esculhambar.

   Confesso que não tenho lido jornal mesmo. Por eles, a eleição ainda não acabou e isso me deixa um tanto quanto descabriado. Então fui no BahiaJá. O Tasso Franco sabe o que realmente interessa e nos coloca no mundo real.

   Tava lá: FIM DO MUNDO! Até no aipim a Petrobras superfaturava, diz o TCU

   Agora realmente estarrecido fui ler a notícia, que deve ter provocado uma reunião de urgência de Jorge Amado, Dorival Caymmi e João Ubaldo, entre outros encantados, guias de todos nós.

   Pois não é que a turma da Petrobrás, não tendo mais onde meter a mão e angariar fundos para deleite e usufruto e ainda financiar campanhas políticas, descobriu que aipim também serve para a receita da corrupção...
Eles pagavam, para a obra lá em Pernambuco, 2 reais e 88 centavos por 220 gramas de aipim que, na verdade, custam 0,39 centavos.
- Visse, considerado? Aqui num tão perdoando nem os quintais do Alto de Amaralina, pedaço de gente braba. O Beto, do Paraíso Tropical, teve que contratar seguranças pro quintal dele.

   E olha que eu sou alérgico a camarão. Mas, pensei como humanista que sou: que será da Bahia sem bobó de camarão. E minha carne de sol com aipim cozido e bolinho de aipim de sobremesa?

   Diante da gravidade do fato, não tive dúvida. Entrei no primeiro site desses milhares que estão pedindo o impedimento da presidenta – na verdade, ela não é presidente, é um erro de português – e assinei. E coloquei no meu face e no meu twitter: em defesa do aipim assino tanto pedidos de impeachment que houverem.
Rasta do Pelô ficou com a última palavra: “Não, considerado, baba ainda tem, ali na praia de Pituaçu, que eu sei que você gostava. E lá continua sem impedimento.”

   Ele confundiu os impedimentos, mas perdoei: está abalado pelo sumiço do aipim.