A BAHIA elege Rui e o pipoqueiro muda o letreiro

Valdir Barbosa
07/10/2014 às 17:37
Assistimos a corrida dos candidatos que disputaram eleições majoritárias de 2014, nas esferas Federal e Estadual. Depois do acidente que levou Eduardo Campos, Marina emergiu com força atropelando adversários, mas, a lógica refletida nas pesquisas desde o começo repôs a ordem  natural da polarização esperada e o resultado das urnas revela um segundo turno entre Dilma e Aécio, com possibilidade visível de disputa voto a voto nesta segunda fase. 
Entretanto, na Bahia veio o contrário. 

Paulo Souto ocupou durante vários meses a liderança nas pesquisas, com expectativa até de ganhar no primeiro turno. De repente, em saltos capazes de quebrar recordes olímpicos, Ruy Costa, candidato do governo o alcança na véspera do sufrágio, se elegendo Governador com folga, no apagar das luzes de uma disputa que por muito tempo parecia perdida. 

Comentários desabonadores buscam justificar as razões da mudança, ao ver de muitos, inexplicável, todavia admito ser leviano embarcar na canoa de acusações que reportam agressiva compra de votos, nos derradeiros dias da campanha. Diz-se de aviões cruzando ares do território baiano vindos de Ribeirão Preto e outros cantos conduzindo rios de dinheiro que teriam sido entregues a prefeitos e cabos eleitorais, de milionárias quantias repassadas em comitê no subúrbio da capital. 

Destarte seriam estes ardis, os responsáveis pela diametral transformação ocorrida.

Como especialista em procedimentos de inteligência sei que informe é o dado não tratado, carece de confirmação, assim prefiro acreditar que as circunstâncias operadoras deste câmbio são resultado de prática sadia da arte de fazer política. Detestaria conviver com a certeza de que os desígnios da Bahia se submeteram a práticas imorais e ilegais pondo corruptores e corrompidos, como elos de uma mesma corrente, cúmplices de crimes iguais que lhes incapacita exigir um do outro, o mínimo respeito. 

Em sendo verdadeiras as notícias de votos comprados estaria o eleitor impossibilitado de exigir saúde, educação e segurança de qualidade, restando ao povo que se vendeu penar nas filas dos hospitais, das escolas e nas ruas dominadas por bandidos. Como castigo cósmico destinado a quem vendeu o voto, estes serviços essenciais de melhor padrão seriam destinados a quem pode pagar pelas atividades pertinentes, nas redes particulares respectivas, ou junto a empresas de segurança que blindam afortunados, mas não lhes garante a paz. Não sou ingênuo, mas desejo continuar sonhando com uma terra de homens dignos, onde ainda resta um mínimo  de seriedade.

Não me lembro durante a campanha ter ouvido qualquer dos candidatos falar sobre o tema que trata de Consciência, como único caminho para o desenvolvimento humano e responsabilidade social. Um trabalho sério que cuide de incutir na mente das pessoas, desde muito cedo, quando ainda crianças mesmo, a necessidade de pensar no coletivo, como forma de fazer o mundo prosperar de maneira equânime é imperioso. A busca do poder por si só, de maneira totalmente egoísta visando interesses pessoais, ou de grupos fechados, sem atentar ao todo promove profunda inversão de valores, onde tudo se justifica, em detrimento dos verdadeiros  interesses  sociais.

Denúncias de corrupção praticadas por institutos e fundações, de obras e compras superfaturadas vieram à tona nos derradeiros dias sendo sufocadas em diversos foros, sob alegação de que não seria justo expor candidatos, já que na cratera dos vulcões acusatórios figuraram postulantes a cargos públicos, muito embora algumas delas fossem antecedentes ao período eleitoreiro. Espero que findas eleições, as autoridades competentes sejam instadas a cumprir seu papel constitucional e as acusações não sejam jogadas sob o tapete pesado da impunidade que estimula as práticas censuráveis.
Andando novamente hoje cedo, no mesmo Corredor da Vitória que me anima cada manhã pensando na derrota do candidato em quem votei sigo ruminando ideia em meu juízo: chegou a hora da aposentadoria. A nova história da polícia deverá ser escrita por muitos jovens valorosos que nela estão inseridos, enquanto do meu lado cuidarei de registrá-la nas minhas memórias escritas. Oferecerei como consultor as competências que absorvi àqueles que assim desejarem, inclusive ao Estado da Bahia, quando for preciso, mesmo porque plagiando o poeta, a policia me deu régua e compasso.

Revejo o ambulante que inspirou linhas  antecedentes e passo por ele que se queda cabisbaixo. Observo mudança na inscrição plotada em seu carrinho de coco, onde se lia: “OBRA FEITA DE COSTA, RUI”, agora se vê: “A BAHIA VAI DE COSTA. RUY”.

Segui sorrindo de corpo e alma e entendi que a vida é bela, mesmo porque, além do mais, nela, tudo passa. Apenas permanecem a alma perene e as boas ações que possamos praticar, para alcançar patamares mais altos, por nossos próprios méritos.