SALVADOR 465 ANOS: A capital mais atrasada do país

Tasso Franco
29/03/2014 às 12:32
  O futuro da cidade do Salvador está ligado ao passado. Sem história, sem memória, nada feito. E a capital dos baianos, que completa 465 anos de idade, segundo Congrresso realizado pelo IGHB, em 1949, decidiu apagar parte de sua história, nos momentos em que foi território explorado pelos franceses tendo como homem do comércio exterior, Diogo Álvares, o Caramuru, isso a partir de 1509; e na época da Capitania Hereditária comandada por Francisco Pereira Coutinho, o Rusticão, a partir de 1536, quando se instalou no atual Porto da Barra uma vila, a Vila Velha do Pereira.

   Ora, se a cidade já nasceu torta no contar de sua história, segue torta até os dias atuais. Como desconhecer Caramuru responsável pela formatação da familia baiana e que durante aproximadamente 200 anos comandou a Bahia e parte do Nordeste, e foi o responsável por erguer na cidade a primeira capela, em louvor a Nossa Senhora das Graças, hoje, mosteirinho beneditino que fica no bairro da Graça, onde está sepultada a sua esposa Catarinha Paraguaçu, a primeira nativa brasileira batizada e casada em solo europeu?

   Como desconhecer essa tupinambá Quayadin depois Catarina du Brézil, oficialmente, em registro nos livros da Igreja de São Vicente, SaintoMalo, na França, aportuguesada para Catarina Paraguaçu, dada a sua orgiem em Itaparica, só lembrada por parte dos baianos nos festejos aos 2 de Julho, a guerra que não houve? 

   Então, o cachimbo que se põe torto na boca, quando não se conserta e não é ajustado, continua torto. Assim é Salvador: bela, linda, exuberante e pobre, torta, cheia de mazelas.

   Há, na realidade, várias Salvador que o poeta Fernando Perez apelidou de Salvadolores.

   A primeira divisão se deu com o Rusticão, o donatário Pereira Coutinho, que quis levar sua conquista a ferro e fogo contra os tupinambás, sem diálogo, para usar uma expressão da atualidade, e se deu mal. Houve uma rebelião, a primeira da vila, e Coutinho teve que se refugirar em Porto Seguro pedindo auxilio a Pero de Campo Tourinho, o donatário de lá. No retorno a Salvador, aconselhado e melhor armado, seu barco naufragou próximo de Itaparica e os tupinambás fizeram a festa com carnes brancas assadas em potes. E lá de foi Pereria Coutinho cozinhado e temperado com pimenta.

   A Vila ficou por mais 8 anos anos sob o comando de Caramuru até que, em 1549, chega Tomé de Souza e sua armada para erguer a cidade do Salvador. Curioso é que Tomé chegou dia 29, mas, só pisou em terra firme dia 31, temendo ataque dos tupinambás. E aí, Caramuru, mais uma vez, foi o "chanceler" para apaziguar os gentios e permitir que Tomé tomasse posse da terra.

   Claro que Tomé tomaria posse de qualquer jeito porque uma parte da tropa já estava em terra, bem armada, e este desceu do barco protegido por formação de lanças em picas, pontudas e para o alto, na escola européia de defesa, espremido entre os soldados, pisando assim pela primeira vez em solo baiano.

   O restante se sabe e está até bem contado. Já veio com os croquis prontos e instalou a fortaleza num altiplano trabalho coordenado pelo mestre-de-obras Luis Dias, com o nome de Salvador, ao que tudo indica sugerido pelo rei Dom João III, o qual de tal católico era chamado de "o piedoso".

   A cidade viveu seus momentos de glória como capital do Brasil e maior porto em movimento de naus e comércio das Américas até 1763 quando a Corte decide levar o centro do poder para o Rio de Janeiro, local que prosperava mais que a Bahia impulsionada pelo ouro das Gerais e pelo agronegócio da Vila de Piratininga, São Paulo.

   Quando dom João VI saiu escorraçado de Portugal fugindo as tropas de Napoleão Bonaparte, em 1808, protegidos por naus inglesas interessadas no ouro do Brasil, primeiro chegou a Salvador e o governador Saldanha da Gama fez tudo para que a familia real e sua corte se instalassem na Bahia. Não conseguiu.

   Dom João já estava com a cabeça feita e se mandou para o Rio depois de embromar os baianos com decretos de abertura dos portos e criação de uma escola médica. Claro, com a Corte no Rio, o Sul cresceu ainda mais e Salvador foi ficando para trás, perdendo sua importância.
Com o advento da República, o Rio comandou as ações com SP e Minas e a chamada República do café com leite. A partir dos anos 1960, a capital se transferiu para Brasilia com a ousada proposta de JK em ocupar o centro oeste do país.

   Salvador foi ficando para trás na cultura, na economia e na política. Teve lampejos quando da criação da UFBA e só. Hoje, tenta recuperar uma posição de destaque no cenário nacional, mas, tá dificil. É a capital mais atrasada do país, única das grandes cidades sem metrô, sem ensino superior e médio de excelência, pobre, paupérrima, e cultuando uma ancestralidade que não leva a lugar algum, com muita prosopoéia e poucos resultados práticos.

    Um exemplo: enquantoa Rio/SP recebem investimentos da ordem de R$10bi para seus novos aeroportos, Salvador só conseguiu R$110 milhões.

   O futuro de Salvador é de cidade intermediária entre as grandes, com papel auxiliar, salvo com algumas exceções nos campos da cultura, mas, nada que empolgue o país, que seja linha de frente.